Dois dias após supostamente ter anunciado sua intenção de renunciar perante os líderes do governante Partido Liberal Democrático (PLD), o primeiro-ministro japonês, Yoshiro Mori, declarou ontem ao Parlamento que nunca disse que iria renunciar. Ele esclareceu que não apresentou sua renúncia quando anunciou, no sábado, o procedimento para sua substituição. ‘‘Os meios de informação escreveram que se tratava de uma demissão de facto’’, indignou-se Mori. ‘‘Eu mesmo não disse tal coisa.’’
O chefe de governo japonês decidiu no sábado antecipar a data da eleição do novo presidente do PLD de setembro para abril. As palavras de Mori são uma amostra da atmosfera de confusão e segredo que reina na liderança política japonesa. No entanto, segundo analistas, esta estratégia, incompreensível para o eleitorado, foi estabelecida pela liderança do PLD para abrandar as pressões dentro do partido pela renúncia imediata de Mori.
Vários membros do PLD queriam que Mori deixasse o cargo antes de julho para não prejudicar o partido nas eleições parlamentares. ‘‘O principal motivo desta confusão é que o PLD não decidiu ainda quem sucederá Mori’’, comentou Susumo Takahashi, professor de Ciências Políticas da Universidade de Tóquio.
Não resta nenhuma alternativa a Mori a não ser deixar o poder, cedo ou tarde, já que sua popularidade é inferior aos 10% e seu governo tem sido caracterizado por uma onda de escândalos e gafes.
A oposição, tradicionalmente fraca no Japão, continua pedindo a demissão imediata de Mori, ameaçando apresentar nova moção de censura, ainda que sem esperança de êxito.
Manter a ambiguidade sobre seu futuro vai permitir a Mori participar de dois importante encontros diplomáticos, com o presidente norte-americano George W. Bush no próximo dia 19 e com o russo Vladimir Putin no dia 25. ‘‘Se pedisse demissão, estes encontros com os dois principais líderes mundiais não aconteceriam’’, afirmou Kawahara.