Mercosul atrasa entrega de dados para acordo com UE
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sexta-feira, 02 de março de 2001
Agência Estado De São Paulo
O início das negociações sobre a redução de tarifas em geral, inclusive sobre produtos agrícolas, e sobre serviços entre o Mercosul e a União Européia (UE) está ameaçado por causa do atraso do Mercosul em fornecer dados básicos ao bloco europeu. Ontem, negociadores europeus chamaram a atenção dos embaixadores dos quatro países do Mercosul nas Instituições Européias, disse à Agência Estado o representante brasileiro, Clodoaldo Uguiney.
O Mercosul deveria ter fornecido, no último dia 19, informações técnicas que serão utilizadas na quarta rodada de negociações entre os dois blocos, em Bruxelas, na Bélgica, entre os dias 19 e 23. Essa reunião é preparatória para um passo mais importante, o encontro de julho, em Montevidéu, no Uruguai, quando serão iniciadas as negociações sobre tarifas e serviços.
As informações que estão faltando são cruciais para o avanço das negociações. Do sucesso dessa fase depende o início da próxima etapa, mais prática, quando os dois blocos começam a definir regras de serviços e quais produtos, e com que velocidade, terão redução da tarifas de importação. Exemplos desses dados são a lista de produtos com a respectiva Tarifa Externa Comum (TEC), a classificação desses produtos por categoria. Falta até uma lista de nomes e telefones de especialistas no Brasil com quem os europeus possam comunicar-se.
Autoridades européias disseram temer que o atraso tenha um componente político, porque os negociadores do Mercosul estariam mais preocupados em preparar dados para a Cúpula das Américas, que ocorrerá em Quebec, no Canadá, em abril. O principal tema do encontro entre os 34 presidentes do continente americano, menos Cuba, será a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
Os europeus desconfiam que o Mercosul, no fundo, quer adiar as negociações para não ter que fazer concessões, com relação à abertura do mercado, para a Europa e no âmbito da Alca. De acordo com esse raciocínio, concessões feitas com um bloco levariam o outro grupo de países a pedir maior ou igual acesso ao mercado dos quatro países do Cone Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). Portanto, o Mercosul poderia empurrar as negociações com a UE, para manter o paralelismo com a Alca.
Embora atribuam um tom político ao assunto, os negociadores europeus admitem que o problema do Mercosul é a falta de coordenação. Eles dizem reconhecer as dificuldades do bloco do sul por ser composto por países em desenvolvimento e não ter tradição em integração. De acordo com a Comissão Européia, a reunião pode ser adiada até que o Mercosul esteja pronto.
Realmente estamos atrasados, reconheceu Uguiney. Estamos concentrados na reunião de Quebec, mas não por uma razão estratégica, disse. De acordo com o embaixador, faltam especialistas no Mercosul para fazer o trabalho técnico.
Mas, segundo os europeus, a maior dificuldade é dos demais países do Mercosul. Uguiney explica que o Itamaraty está se esforçando para, junto com os demais países do bloco, entregar as informações aos europeus em tempo hábil.