Londrina sofre um “apagão” de mão de obra na área de TI (Tecnologia da Informação). No momento, há cerca de três mil vagas de trabalho em aberto nas 1,8 mil empresas do setor instaladas no município, mas há uma dificuldade de preenchê-las por falta de trabalhadores qualificados. São ofertas de emprego em todos os níveis de conhecimento e salário, às quais podem se candidatar desde jovens apenas com o ensino fundamental completo até profissionais graduados. Os salários iniciais variam de R$ 1.800 a R$ 6 mil.

O mercado de TI já vinha crescendo gradualmente ano a ano, mas com a pandemia e a aceleração do processo de digitalização da economia, as oportunidades de trabalho se multiplicaram com enorme rapidez e a tendência a médio e longo prazo é que continuem em alta. A maior parte das vagas de emprego é para programadores de computadores e, dentro desse universo, os recrutadores procuram desenvolvedores de aplicativos para celular, desenvolvedores de sites para interação com o usuário e desenvolvedores de software. Profissionais habilitados para analisar a qualidade dos softwares e em ciência de dados, que saiba usar ferramentas de matemática e estatística, também são bastante requisitados.

Ter uma graduação na área ajuda a conseguir boas colocações, mas a formação técnica já abre muitas portas, destacou o professor de Ciência da Computação da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) Londrina, Alessandro Botelho Bovo. “Se (o profissional) tem competência na área, as empresas não estão preocupadas se ele tem curso superior ou não. Até empresas grandes, como o Google, contratam. Mas é claro que se a pessoa tiver uma graduação, vai ter uma bagagem maior”, disse. “Os cursos mais rápidos ensinam as tecnologias do momento. O superior foca nos fundamentos da área. A tecnologia muda de tempos em tempos, mas os fundamentos, não”, explicou o professor.

Em um setor constantemente em busca por novos talentos, uma habilidade a mais pode ajudar a alcançar novos patamares na profissão, ultrapassando fronteiras. Quando os conhecimentos técnicos da TI vêm associados ao conhecimento da língua inglesa, ainda que em nível intermediário, o profissional se torna apto a concorrer a uma vaga em empresas dos Estados Unidos, Canadá e Europa. O trabalho pode ser remoto, com a vantagem de ganhar salários em dólar ou euro, mas essas empresas também oferecem a oportunidade de trabalho no exterior. “Há brasileiros com menos de 30 anos, com pouco tempo de formação, que conseguiram vagas nessas empresas. Elas pagam US$ 4 mil, o que para elas é um salário baixo, mas para um brasileiro, é um salário de R$ 20 a R$ 25 mil”, ressaltou Bovo.

Segundo dados da Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais), em média 53 mil pessoas com perfil tecnológico se formam por ano no Brasil. Até 2025, a expectativa é que a demanda do setor chegue a 797 mil novos profissionais. Com o número de formados muito abaixo da necessidade do mercado, a projeção é de um deficit anual de 106 mil trabalhadores de TI, chegando a 530 mil em cinco anos.

O Senai é uma das principais instituições formadoras de profissionais para a área de TI no país e uma das estratégias para suprir a escassez de trabalhadores no setor são os cursos gratuitos na área. Na unidade de Londrina, até o final deste ano, serão ofertados 70 cursos sem qualquer custo ao aluno nas linhas de qualificação e aperfeiçoamento profissional para formação e capacitação de mão de obra. “Essa seria a nossa porta de entrada para o pessoal da área de TI”, disse o coordenador de Educação Profissional e Superior do Senai Londrina, Sander Costa.

A instituição ainda oferece cursos técnicos, pagos, principalmente para desenvolvimento de sistemas, e cursos de graduação que, segundo Costa, garantem ao aluno um nível de empregabilidade “bem alto”. “A demanda é tão grande que temos alunos que mesmo antes de concluir a graduação já conseguiram vaga de analista sênior ou premium. Hoje, entendemos essa alta procura de mão de obra na área de tecnologia e estamos trabalhando as nossas frentes. A pessoa pode partir do zero. A gente monta uma trilha formativa desde a informática básica e vai evoluindo.”

Para iniciar nos cursos gratuitos, é preciso ter idade mínima de 14 anos e ensino fundamental completo. Ao concluir a carga horária, o aluno sai apto a ingressar no mercado de trabalho para assumir um cargo de suporte de TI, com salário inicial entre R$ 1,8 mil e R$ 2,2 mil. Os estudantes com graduação chegam a receber salário de R$ 5 mil a R$ 6 mil na região de Londrina. O Senai mantém convênio de estágio com empresas desde o programa de aprendizagem até estágio de graduação.

Mesmo com ampla oferta de trabalho e disponibilidade de formação para todas as faixas de público, Costa observou que ainda há dificuldade de fechar turmas completas. Quem quiser conhecer mais sobre a grade de cursos do Senai, pode acessar o site sistemafiep.org.br/gratuidade.

Programa municipal irá capacitar jovens de 17 a 25 anos

As vagas para a área de TI disponíveis em Londrina não passam pela Agência do Trabalhador e a Codel (Instituto de Desenvolvimento de Londrina) tem estudado formas de promover a qualificação de trabalhadores na área e viabilizar o ingresso do maior número possível de profissionais no mercado de trabalho. Na última quarta-feira (22), o instituto divulgou que o Senac foi a entidade homologada que irá oferecer vagas de capacitação em tecnologia da informação dentro do programa EmpregaTech, desenvolvido pelo município.

Serão ofertadas 200 vagas para capacitar jovens de 17 a 25 anos em linguagem de programação e inglês. O curso, gratuito, terá oito turmas com 25 alunos cada uma e será ministrado nos períodos diurno e noturno. A duração é de seis meses. As inscrições devem começar em julho. “A Codel e o Arranjo Produtivo Local de TI da cidade mapearam as vagas em aberto e fomentaram o curso para preencher essas vagas. O curso será bem prático, focado na empregabilidade”, disse o diretor de Ciência e Tecnologia da Codel, Roberto Moreira.

Das três mil vagas disponíveis no setor em Londrina, metade delas é ofertada por duas multinacionais, segundo a Codel. “O EmpregaTech de Londrina foi concebido para solucionar um problema ‘bom’ - a falta de mão de obra capacitada para a demanda operacional de empresas. Hoje, 10% do PIB (Produto Interno Bruto) de Londrina vem do ISS (Imposto Sobre Serviços) de empresas ligadas ao setor de tecnologia de informação e comunicação, sem falar do ecossistema de inovação que abrange desde setores da construção civil à indústria química. Londrina será pioneira neste tipo de capacitação profissional”, disse o presidente da Codel, Bruno Ubiratan.(S.S.)

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