A pandemia de Covid-19 impactou fortemente o mercado de trabalho no Brasil. Em 2020, houve um salto no número de demissões e de fechamento de empresas e muitos profissionais que perderam a carteira assinada vislumbraram no empreendedorismo um meio de garantir renda. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), enquanto o país reduziu 825,3 mil postos de trabalho na comparação com 2019, a abertura de empresas cresceu 3,7%. Mas vencido o período mais duro da pandemia e com a retomada das contratações, o que se observa é que o empreendedorismo segue forte e um grande número de trabalhadores preferiu continuar investindo no próprio negócio a tentar uma vaga de emprego.

Em Londrina, o número de MEIs (Microempreendedores Individuais) cadastrados cresceu 12,65% entre 2021 e 2022, passando de 41.682 para 47.713, aponta um levantamento feito pela Sala do Empreendedor, da Prefeitura de Londrina, com base nos dados da Receita Federal. No Paraná, até dezembro do ano passado havia 938.879 MEIs cadastrados e no Brasil, o número se aproxima dos 15 milhões, com 14.820.414 cadastros.

Instituído no país há pouco mais de uma década, o número de MEIs é bastante significativo se comparado a outros tipos de empresas, avaliou a consultora do Sebrae/PR, Liciana Pedroso. “Londrina tem hoje quase 50 mil MEIs, um número bastante expressivo, considerando que (o modelo empresarial) é recente. Foi efetivado em 2010.”

Pedroso aponta dois fatores que teriam contribuído para esse salto no microempreendedorismo individual. A necessidade imposta pela pandemia, quando muitos trabalhadores perderam seus empregos e decidiram empreender para não ficar sem renda, e a percepção do negócio próprio como oportunidade de aproveitar as habilidades já desenvolvidas. “O MEI é simplificado, tem custo zero de abertura, a manutenção é baixa. O empreendedor paga em torno de R$ 72 mensais, já inclusos o ISS, ICMS e o INSS. É uma forma de começar a empreender com risco baixo. É uma porta de entrada para o mundo empresarial muito flexível”, destacou a consultora. “O que temos percebido é que as pessoas, mesmo com a opção de carteira assinada, preferem continuar empreendendo. Dificilmente elas voltam ao mercado formal.”

Dentre as principais motivações que mantêm os empreendedores ativos, ressaltou Pedroso, o principal é a possibilidade de exercer um propósito, fazendo algo que faz sentido e soluciona o problema de alguém. A flexibilidade de conciliar o empreendedorismo com outras atividades diárias é outro motivo que leva a empreender. “Os ganhos vêm em quarto ou quinto lugar em uma série de apontamentos. É uma soma de fatores.”

Quanto à natureza da atividade econômica, o levantamento da Sala do Empreendedor em Londrina aponta que as mais cadastradas são cabeleireiros, com 3.262 MEIs, promoção de vendas, com 3.021, comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios (2.817) e obras de alvenaria (2.017).

Os homens formam a maioria dos microempreendedores individuais ativos em Londrina e correspondem a 53,99% do total. E sobre a forma de atuação dos MEIs, 32,87% exercem sua atividade pelo modelo porta a porta, postos móveis ou ambulantes. Contam com estabelecimento fixo 24,91% dos microempreendedores e 21,01% atuam pela internet.

A faixa etária de 31 a 40 anos é a maior parcela dos MEIs, com 14.263 microempresários. Em segundo lugar, estão aqueles na faixa dos 41 aos 50 anos (11.066) e, em seguida, os jovens adultos, de 21 a 30 anos (10.800). Mas chama a atenção o número de MEIs acima dos 70 anos, que somam 558 no município.