Representantes de entidades empresarias paranaenses consideraram correta a decisão de manter a taxa básica de juros, a Selic, em 11% ao ano, conforme anunciado na noite de anteontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). A percepção é de que a medida tem efeito mais benéfico à economia por encarecer o crédito para conter a inflação, ainda que desestimule os investimentos industriais e as vendas em um período de baixa atividade produtiva.
A opção do Copom foi tomada em um quadro de recessão técnica, com dois trimestres seguidos de retração do Produto Interno Bruto (PIB) ante períodos diretamente anteriores. No entanto, a inflação ainda está em patamar elevado em 12 meses, próxima aos 6,5% do teto da meta perseguida pelo BC, e continua como foco da preocupação.
Foi a quarta manutenção consecutiva da taxa em 11%, na última reunião do Copom antes das eleições de outubro. A próxima será nos dias 28 e 29 do próximo mês, logo após a data marcada para o segundo turno.
O diretor de Planejamento e Gestão da Federação do Comércio (Fecomércio) do Paraná, Dieter Lengning, afirma que o anúncio era esperado. "Não podemos ter e não temos expectativa de que sejam reduzidos os juros, porque ocorreria incremento na inflação. Mas todas essas manobras econômicas se refletem na demanda do comércio", diz.
Para o presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Valter Orsi, um cenário com redução da Selic seria mais proveitoso para a competitividade do setor produtivo nacional, mas não pode ocorrer pela alta dos preços no País. "Continuamos tendo uma das taxas de juros mais altas do mundo, mas o fato de o BC ter conseguido manter os juros pelo quarto mês seguido mostra que o fantasma da inflação se afasta, ainda que se aproxime o da recessão."
A visão é que o segundo semestre deve ser de pé no freio para os empresários paranaenses. "Todos se sentem apreensivos e os investimentos acabam represados", diz Orsi. "O ano foi atípico desde o início, com Copa do Mundo e eleições, então apenas investimentos que sejam necessários devem ser feitos. O empresário tem de esperar o momento passar e manter a empresa viva", completa Lengning.

Remédio amargo
As críticas à decisão do BC foram mais fortes entre entidades nacionais. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota na qual afirma que a decisão prolongará as dificuldades da indústria brasileira e a retomada da atividade, mesma posição do presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, e do presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), Levi Ceregato.
O professor de economia Pedro Raffy Vartanian, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirma que a tendência é que o setor empresarial veja o juro alto como prejudicial. Isso porque gera desestímulo ao consumo e ao investimento na produção, que passa a ser menos lucrativo do que em o feito em ativos financeiros.
No entanto, Vartanian vê a decisão do BC como um "remédio amargo, mas necessário", porque a inflação prejudica os mais pobres. "O controle de preços é pré-condição para que as pessoas tenham melhor poder de compra. É importante controlar a inflação antes, para depois buscar soluções para o crescimento econômico e o possível risco para os empregos", diz.
O professor diz que seria possível reduzir os juros caso um cenário de crise se desenhasse, mas considera que a recessão técnica é momentânea. "Nada indica que isso será necessário e a economia deve se recuperar no segundo semestre."

Mudança
A grande novidade do anúncio do Copom foi a retirada da expressão "neste momento" do comunicado que se segue ao anúncio e que constava nas edições de maio e julho. A interpretação de analistas do mercado financeiro é de que a taxa permanecerá no mesmo nível, ao menos até janeiro de 2015.

Imagem ilustrativa da imagem Manutenção de juros atende necessidade de conter inflação