BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Para o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, a estimativa recente do governo de déficit primário em torno de R$ 700 bilhões (10% do PIB) no ano é otimista. Segundo ele, pode chegar a R$ 800 bilhões.

Ele disse, em evento virtual promovido pela Verde Asset Management, nesta sexta-feira (5), que, se o pagamento de tributos que foram prorrogados em razão da pandemia não forem pagos no segundo semestre e se programas emergenciais forem prorrogados, o resultado negativo será maior.

"Pode ser maior? Pode. Se algum programa for renovado para além de três meses, e se o recolhimento adiado não entrar, o déficit será maior", afirmou.

O resultado primário indica a capacidade do governo de pagar as contas, exceto os encargos da dívida pública. Se as receitas são maiores que as despesas, há superávit. Caso contrário, há déficit.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou recentemente que o auxílio emergencial do governo de R$ 600 aos que perderam renda com a pandemia será prorrogado por mais dois meses, com valor menor, ainda não definido.

"O debate [sobre a prorrogação do auxílio] está ocorrendo, mas não vou detalhar porque não estou participando, mas sabemos que o valor de R$ 600 dada a realidade brasileira é alto", disse Mansueto.

Segundo ele, beneficiários do Bolsa Família tiveram ganho de renda com a ajuda. "Alguns recebiam menos de R$ 200 por mês e receberam 18 meses de benefício à vista."

"Não é um programa que pode ser renovado até o fim do ano, o déficit nominal iria para 20% do PIB e a dívida passaria de 100% do PIB com certeza. O auxílio se fez necessário no período de maior intensidade do isolamento, ninguém questiona isso, mas não pode ser mantido por tanto tempo", afirmou.

Segundo Mansueto, o ajuste fiscal deve levar mais, pelo menos, seis anos. "É uma agenda que ainda não se completou e não vai se completar nesse governo, vai levar todo o próximo governo", disse.

O secretário pontuou, ainda, a importância do diálogo entre o Executivo e o Congresso Nacional.

"Cabe a nós como sociedade criar o consenso político, respeitar o debate, aceitar que as pessoas não precisam concordar umas com as outras e ter respeito com o contraditório para poder avançar com as agendas de reforma", ressaltou.