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Economia 5m de leitura

Manifesto do setor produtivo pede que governador reavalie alta do ICMS

Documento foi elaborado após supressão de artigo da Reforma Tributária. Governo do Espírito Santo anunciou revogação do aumento da alíquota

ATUALIZAÇÃO
19 de dezembro de 2023

Simoni Saris - Grupo Folha
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Imagem ilustrativa da imagem Manifesto do setor produtivo pede que governador reavalie alta do ICMS

Entidades representativas do setor produtivo paranaense divulgaram, na última segunda-feira (18), um manifesto pedindo que o governador Ratinho Junior reconsidere o aumento da alíquota modal do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) no Estado, aprovado na semana passada pela Assembleia Legislativa do Paraná. Com a supressão do artigo 131 do texto da Reforma Tributária, ACP (Associação Comercial do Paraná), Faciap (Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná) e Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) defendem que não há mais razão para o governo do Estado insistir na majoração do imposto com o intuito de evitar a perda futura na arrecadação.

O Paraná foi uma das unidades federativas do Brasil que se apressaram para propor a alta do ICMS, sob a justificativa de que com a aprovação da Reforma Tributária pelo Congresso Nacional, o Estado teria direito a uma fatia menor na partilha do bolo tributário mais à frente. Os governadores que ingressaram na corrida pela elevação da alíquota do imposto utilizavam como argumento o artigo 131, que tratava da distribuição do produto da arrecadação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) pelos estados, municípios e Distrito Federal. O IBS foi planejado para substituir o ICMS e o ISS (Imposto Sobre Serviços).

As entidades esperam decisão parecida com a tomada pelo Governo do Espírito Santo, que voltou atrás sobre o aumento da alíquota após a mudança no texto da reforma. Nesta terça-feira, (19), a administração capixaba informou que vai encaminhar à Assembleia Legislativa um projeto de lei para revogar o aumento do ICMS, que continuará em 17%, o menor percentual entre os estados da Região Sudeste. 

O parágrafo segundo do artigo 131 previa uma transição de 50 anos a partir do fim do ICMS e do ISS. Para os estados não serem prejudicados até o término do prazo de transição, eles teriam direito a uma fatia correspondente à média da arrecadação no período de 2024 a 2028. Essa foi a principal justificativa usada por Ratinho Junior para defender a alta do ICMS paranaense, de 17% para 19,5%, fazendo com que o Estado tenha uma das maiores alíquotas do país.

“Com a mudança no texto da Reforma, não temos mais a ameaça da perda de receitas. Por isso, não temos mais motivo para seguir com o aumento da alíquota do ICMS – que era uma decisão não por conta do desequilíbrio das atuais contas públicas, mas sim uma proteção para o futuro do Estado. Como os deputados nos ajudaram com a aprovação desse tema, que era uma medida impopular, nada mais justo que tomarmos juntos agora a decisão de reduzir o ICMS”, afirmou o governador Renato Casagrande (PSB) ao site oficial do Governo do Espírito Santo.

No Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (PSDB) anunciou, na noite desta segunda-feira (18), a retirada do projeto que previa o aumento da alíquota geral do ICMS de 17% para 19,5%, em 2024. O projeto seria votado na Assembleia Legislativa (AL) nesta terça-feira (19).

Nos últimos dias, o governador do Paraná e o secretário estadual do Planejamento, Guto Silva, chegaram a afirmar publicamente que se a Câmara dos Deputados, em Brasília, excluísse o artigo 131 do texto da Reforma Tributária, a decisão de aumentar o ICMS no Estado poderia ser revista. Na última sexta-feira (15), o relator da Reforma, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), suprimiu o artigo, mas até o momento o governo paranaense não sinalizou qualquer recuo. Com a extinção do artigo 131, o marco temporal que valerá para a divisão dos tributos arrecadados deverá ser definido por Lei Complementar a ser votada no ano que vem.

A lei que prevê o aumento do ICMS paranaense foi sancionada e publicada por Ratinho Junior na última segunda-feira e terá um prazo de 90 dias para entrar em vigor, o que irá acontecer a partir de abril de 2024.

“A gente sempre falou que não justificava o governo se antecipar à Reforma. A gente já tinha a informação de que o Aguinaldo Ribeiro estaria articulando a retirada do artigo e no relatório votado na semana passada, foi retirado. Então, o motivo que primeiro justificou o aumento da alíquota, hoje não existe mais”, afirmou o diretor da Fiep e coordenador do Conselho Temático de Assuntos Tributários da Federação, Guilherme Hakme. “O Guto Silva deu entrevista dizendo que se o artigo fosse suprimido, o governo não teria nenhum problema (em recuar), mas a gente está vendo que isso não está acontecendo.”

No manifesto, as entidades do setor produtivo voltaram a reforçar que com o aumento da alíquota, o Paraná irá perder competitividade e deixará de ser atrativo para a instalação de novas empresas. O Estado tem agora a maior alíquota da Região Sul e, entre os estados do Sudeste, só fica atrás do Rio de Janeiro, com taxação de 20%. 

O presidente da Faciap, Fernando Moraes, demonstrou preocupação com as falas do governador, indicando pouca disposição para reconsiderar o aumento do imposto. “Primeiro era o discurso do IBS, da Reforma Tributária, depois ele falou que não foi somente por isso que subiu a alíquota, que teve a queda da tributação do GNV (Gás Natural Veicular), de 18% para 12%, e está falando que mais de 1,5 mil produtos vão sair da Reforma Tributária. A gente ficou preocupado com a fala, de que não vai reconsiderar”, disse ele, que tenta uma reunião com o governador para janeiro para tratar da questão.

Os representantes do setor produtivo também voltaram a ressaltar a importância de o governo promover uma reforma administrativa, cortando custos e despesas. “Na nossa visão, as contas estão equilibradas e há bastante investimento no Estado. O Paraná está em obras. A gente pede para o governo rever os gastos. No seu segundo mandato, o governador aumentou nove secretarias, houve muitas contratações”, cobrou Moraes. “É muito fácil para o governo quando há a perspectiva de perda de arrecadação, aumentar o imposto. Mas é preciso uma reforma administrativa”, destacou Hakme.

A reportagem questionou o secretário do Planejamento sobre a possibilidade de o governo reconsiderar a alta do ICMS após nova cobrança do setor produtivo, por meio do manifesto. Guto Silva respondeu que o governador deverá refletir sobre a questão. A assessoria de imprensa da Casa Civil informou que não há qualquer novidade sobre o assunto.

Atualizada às 16h

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