SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A maioria dos sites que disseminam fake news, inclusive sobre a Covid-19, financia-se pela plataforma de anúncios Google Ads, indica o estudo do Oxford Internet Institute "Follow the Money: How the Online Advertising Ecosystem Funds Covid-19 Junk News and Disinformation" (siga o dinheiro: como o ecossistema de publicidade digital financia desinformação e junk news sobre a Covid-19).

Segundo o estudo, 61% dos sites de desinformação e junk news (notícias deliberadamente distorcidas, mentirosas ou incorretas) recebem anúncios pela plataforma Google Ads, diante de 59% dos sites de jornalismo profissional.

"Outras plataformas, sob pressão da opinião pública, adotaram medidas para evitar isso, mas nosso estudo mostra que 61% das fontes de junk news usam Google Ads. Deixar de oferecer esses serviços poderia ter um enorme impacto sobre a viabilidade financeira de sites de desinformação, e isso é algo a ser explorado", disse à reportagem a principal autora do estudo, Emily Taylor, pesquisadora associada do Oxford Internet Institute.

Segundo o estudo, muitos dos sites analisados já foram apontados por pesquisadores e checadores de fatos como disseminadores de teorias da conspiração e de mentiras, incluindo em relação à Covid-19. "Mesmo assim, esses sites continuam gerando receita publicitária. Portanto, grandes plataformas de anúncios, como Google e Amazon, contribuem para a viabilidade financeira e o sucesso de sites de junk news e desinformação", diz o estudo.

Além disso, os sites de jornalismo profissional são menos eficientes ao usar SEO (Search Engine Optimization), ferramentas que os tornam mais atraentes para buscadores: aumentam as chances de aparecer no topo das pesquisas e, consequentemente, elevam o número de acessos. Isso, por sua vez, contribui para a receita publicitária.

Segundo o estudo do OII, sites que sistematicamente publicam notícias falsas ou distorcidas, inclusive relacionadas à Covid-19, apresentam estratégias eficientes de SEO para ressaltar seu conteúdo nos buscadores.

"Os principais sites de desinformação atingem altos fatores de SEO (conseguem boa visibilidade em mecanismos de busca) e conseguem otimização de distribuição em mecanismos de busca um pouco melhor que os sites de jornalismo profissional."

Entre os sites de jornalismo profissional analisados estão o de Reuters, BBC, Guardian, Bloomberg, WSJ e Spiegel. Estão entre os apontados como disseminadores de desinformação alternet.org, infowars.com, Breitbart.com e SputnikNews.Com.

"Os sites de desinformação mostram um alto nível de sofisticação no uso de otimização do mecanismo de busca --eles procuram se aproveitar do algoritmo de busca do Google para ganhar mais destaque nos resultados das buscas. São operações profissionais, para aumentar o alcance do conteúdo deles e da receita publicitária; sites que aparecem com destaque em buscas têm um aumento no tráfego, e esse tráfego pode ser monetizado por meio de venda de publicidade", diz Taylor.

"Por um lado, o Google não é responsável pela maneira como sites - incluindo os de junk news - tentam otimizar seu desempenho nos mecanismos de busca. Mas o Google, em resposta aos escândalos envolvendo desinformação e interferência em eleições, havia dito que estava usando inteligência artificial e mudando seus algoritmos de busca para reduzir o destaque de sites de desinformação. Nossa pesquisa sugere que essas medidas tiveram impacto limitado sobre o alcance das junk news."

O levantamento afirma que, apesar de os mecanismos de busca e plataformas de anúncio também terem sido criticados por seu papel na promoção de desinformação, eles foram muito menos questionados do que as redes sociais.

Procurado, o Google afirmou que tem políticas rígidas para impedir que páginas com conteúdos prejudiciais, perigosos ou fraudulentos gerem receita por meio da plataforma de anúncios.

"Estamos comprometidos em elevar o conteúdo de qualidade, e isso inclui proteger as pessoas de informação falsa sobre saúde. Atualizamos nossa política para proibir a monetização de conteúdos que contrariem o consenso científico em meio a crises de saúde", disse a empresa.

"Quando uma página ou site viola nossas políticas, tomamos medidas imediatas e removemos sua capacidade de gerar receita. Somente em 2019, encerramos mais de 1,2 milhão de contas de publishers e retiramos anúncios de mais de 21 milhões de página por violação de políticas."