SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Bradesco registrou lucro de R$ 19,5 bilhões em 2020. O número representa uma queda de 24,8% em relação a 2019 e é o pior resultado do banco desde os R$ 19 bilhões de 2017.

O tombo no ano foi causado pelo maior volume de reservas feitas pelo banco para cobrir eventuais calotes -ação tomada para tentar conter possíveis impactos da crise do coronavírus na carteira de crédito e nos níveis de inadimplência.

No quarto trimestre o lucro foi de R$ 6,8 bilhões, aumento de 2,3% em relação aos mesmos três meses de 2019. Nessa comparação, foi o único trimestre de 2020 em que houve crescimento.

No ano passado, as provisões do Bradesco somaram R$ 25,8 bilhões, número 78,7% superior do que o registrado em 2019 e a maior reserva para conter calotes feita pelo banco em mais de 15 anos.

No quarto trimestre, as reservas somaram R$ 4,6 bilhões, avanço de 14,7% em relação aos mesmos três meses do ano anterior.

Em relatório divulgado nesta quarta-feira (3), o banco afirmou que a evolução das operações de crédito também impactou as provisões.

"Ainda assim permanecemos com um bom nível de provisionamento para créditos vencidos acima de 90 dias", disse.

"No quarto trimestre, nossos estudos internos, que são baseados em modelos estatísticos que capturam informações históricas e prospectivas, e refletem nossa expectativa de perdas esperadas em diferentes cenários econômicos, bem como a experiência da administração, indicaram que não havia a necessidade de reforçar nossas provisões relacionadas ao cenário econômico adverso", afirmou o Bradesco em nota.

O banco, no entanto, não descarta um cenário de aumento da inadimplência neste ano.

A carteira de crédito total do Bradesco totalizou R$ 687 bilhões em 2020, um aumento de 10,3% em relação a 2019. O destaque ficou com a carteira de pessoas jurídicas, que responde por 62% do total emprestado pelo banco.

Os empréstimos para empresas totalizaram R$ 426,7 bilhões, avanço de 9,4% em relação a 2019. O principal avanço veio da linha de capital de giro, que subiu 57,4% no período, para R$ 91,6 bilhões.

A carteira de crédito para pessoas físicas subiu 11,7%, para R$ 260,3 bilhões. O crédito voltado para financiamento ao consumo subiu 5,7%, para R$ 169,1 bilhões. Já os financiamentos imobiliários tiveram alta de 33,6% no período, para R$ 59,2 bilhões.

A inadimplência ficou em 2,2% em 2020, queda de 1,1 ponto percentual em comparação a 2019.

"A efetividade de nossos modelos de crédito e a correção e assertividade das nossas políticas de provisionamento e gestão de riscos estão na base do nosso balanço", afirmou o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari.

"Nossa política de crédito foi montada para apoiar os clientes, com prorrogações e novas linhas, sempre que necessário. Fomos prudentes, mas constantes no acolhimento dos nossos clientes."

As operações prorrogadas do ano terminaram 2020 com R$ 48 bilhões, sendo R$ 41,4 bilhões de empréstimos em dia, R$ 3,8 bilhões em carência e outros R$ 2,9 bilhões em atraso.

As receitas com tarifas e prestação de serviços somou R$ 32,8 bilhões em 2020, uma queda de 2,6% em relação ao ano anterior. No trimestre, essas receitas totalizaram R$ 8,7 bilhões, recuo de 1,3% em comparação aos três últimos meses de 2019.

A margem financeira (principal receita do banco, com operações de crédito) somou R$ 63,1 bilhões no ano passado, avanço de 7,4% na mesma relação.

Segundo Lazari, este ano mostra um cenário de reconstrução, uma vez que as incertezas em relação à economia e às vacinas contra a Covid-19 serão menores.

"A pandemia está aí e é um problema grave, mas já temos vacinação em andamento. Sem dúvida, a velocidade e o impacto dessa imunização são menores que o nosso desejo, mas é o caminho possível e o cenário é positivo para o médio prazo", disse.

Em relação ao cenário econômico, Lazari projeta a continuidade do juro baixo, com inflação controlada e reação do PIB (Produto Interno Bruto). "O principal é que renovamos as expectativas no andamento das reformas e isso será muito bom do ponto da volta dos investidores", disse.