SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O lucro líquido recorrente (que desconsidera receitas e despesas extraordinárias) da Caixa Econômica Federal atingiu R$ 3 bilhões no primeiro trimestre deste ano, uma queda de 7,5% ante igual período de 2019.

O movimento foi puxado pelo recuo de 14,3% da margem financeira —principal receita do banco, com operações de crédito— para R$ 10,6 bilhões. Em relatório, a Caixa atribui o movimento às quedas de 7,9% em receitas com operações de crédito e de 32,9% aos resultado com títulos de valores mobiliários e derivativos.

Segundo um analista bancário, a redução de juros promovida pelo banco influenciou o spread (diferença entre a taxa de captação e as taxas cobradas pelos empréstimos) e foi parte dos motivos que levou à redução do lucro da Caixa no trimestre. Soma-se a isso o resultado da gestão de recursos do banco, impactado pelo menor apetite a risco no mercado de capitais ante o atual cenário de crise.

A Caixa também informou que chegou a reduzir suas taxas de juros para pessoas físicas em até 62,3% no parcelamento da fatura de cartão e em até 41,4% no cheque especial, por exemplo.

Diferentemente dos demais grandes bancos —Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander—, que aumentaram as reservas para cobrir eventuais calotes ante o atual momento de crise do coronavírus, a Caixa apresentou um recuo de 28,8% nas provisões, para R$ 2 bilhões.

Segundo o vice-presidente de finanças e controladoria do banco, Gabriel Cardozo, a queda na relação com o primeiro trimestre de 2019 acontece por conta do impacto positivo de cerca de R$ 200 milhões, referente a uma recuperação de crédito que a Caixa teve no início deste ano no segmento corporativo.

O presidente do banco, Pedro Guimarães, afirmou ainda que como a carteira tem empréstimos mais longos, a perda só seria significativa se a crise financeira que vivemos pelo coronavírus durasse cerca de cinco anos.

"É diferente de uma exposição grande em capital de giro, por exemplo, que precisa ser renovado em um espaço de tempo mais curto. A vida média da nossa carteira é de oito anos e ainda temos garantia real [o imóvel]. Além disso, também temos outros R$ 10 bilhões em receitas de parcerias que foram fechadas, mas ainda não estão contabilizadas no balanço", disse Guimarães.

A inadimplência do banco subiu 0,68 ponto percentual no período, para 3,14%.

Em relatório divulgado nesta quinta-feira (21), a Caixa afirmou que não houve alteração no processo de apuração da provisão de risco de crédito, bem como a na constituição da provisão prudencial, considerando as características das operações do banco, que são concentradas principalmente em operações de longo prazo, com garantias reais.

O banco disse ainda que continuará acompanhando as operações de crédito ante a evolução da pandemia do Covid-19.

A carteira de crédito ampla da Caixa apresentou um crescimento de 2%, para R$ 699,6 bilhões. O crédito para habitação, principal negócio do banco, teve alta de 5,2%, para R$ 470,4 bilhões.

A carteira comercial do banco caiu 5,1%, para R$ 121,3 bilhões, impactada pela redução de 17,1% nos empréstimos para pessoas jurídicas, para R$ 38,7 bilhões. O presidente do banco, Pedro Guimarães, já havia afirmado que a retração aconteceria, uma vez que o banco já desde o ano passado tem trabalhado na redução do crédito cedido às grandes empresas.

Os recursos cedidos para pessoas físicas tiveram um aumento de 1,8% no período, para R4 82,6 bilhões.

As despesas administrativas da Caixa apresentaram recuo de 1,3%, para R$ 5,2 bilhões, influenciadas pela redução de 3,2% nos custos do banco com salários. O movimento ainda é reflexo da redução do quadro de funcionários do banco —nos últimos dois anos, a Caixa abriu quatro PDVs (Programas de Demissão Voluntária).

O banco também registrou redução de 59,4% no valor da atualização monetária dos IHCD (Instrumento Híbrido de Capital e Dívida) —instrumento usado pelo governo entre os anos de 2007 e 2013 para capitalizar o banco público— ante o pagamento de R$ 11,35 bilhões ocorrido em 2019.

As receitas com prestação de serviços e tarifas bancárias da Caixa ficaram praticamente estáveis no período, em R$ 5,8 bilhões. O recuo de 11,8% nos ganhos com contas correntes – que respondem por 23% dessas receitas— acabou compensando aumento de 12,5% com crédito e 2,4% em cartões.

AUXÍLIO EMERGENCIAL

A Caixa já pagou cerca de R$ 50 bilhões de auxílio emergencial até agora —sendo R$ 37,1 bilhões na primeira parcela e outros R$ 12,8 bilhões na segunda parcela. Além disso, o banco afirma que de 4 a 20 de maio pagou R$ 1,9 bilhão por meio do Benefício Emergencial Bem.

Ante o avanço da crise do coronavírus, a Caixa também havia anunciado, em 20 de abril, uma nova linha de crédito de R$ 7,5 bilhões para microempreendedores individuais e micro e pequenas empresas em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

O banco também suspendeu possibilitou a pauta ou o pagamento parcial das prestações do crédito habitacional para pessoas físicas e renegociou contratos em atraso entre 61 e 180 dias, permitindo pausa de até três prestações.

Para diminuir as filas nas agências físicas da Caixa ante o pagamento dos auxílios e benefícios, o banco afirmou que ampliou a disponibilidade de produtos e serviços nos canais digitais e que disponibilizou o atendimento via Whatsapp para todos os clientes correntistas e poupadores.