Marcos BorgesCaminho inversoO engenheiro Roberson Marczak, que trabalha na Siemens, em Viena: de volta às origens da famíliaQuando se formou em Engenharia Elétrica pela Faculdade de Engenharia Industrial, em São Paulo, em 1992, o londrinense Roberson Marczak não imaginava que um dia a profissão e a curiosidade pela informática o levassem a fazer o caminho inverso do seu avô paterno, como integrante da equipe de um importante projeto da Siemens na Áustria. O projeto rendeu um software para controle de geração e distribuição de energia elétrica de hidrelétricas que hoje é utilizado no mundo inteiro.
Marczak já tinha participado de um programa de traineer na Siemens, em São Paulo, de onde foi escolhido para um estágio de oito meses em Viena. ‘‘Estávamos desenvolvendo um projeto semelhante para a Companhia Petroquímica do Nordeste, e alguém precisava ir até a Áustria’’, conta. Quando retornou, foi apenas para arrumar as malas e dar meia volta. Em 1995, voltou definitivamente para a terra de origem dos Marczak, para trabalhar na Siemens.
O projeto, que tem a denominação de Scadas, é permanente. ‘‘É um software para supervisão de sistemas elétricos’’, explicou o engenheiro, que esteve na última semana em Londrina para visitar os pais. Cada software é adaptado de acordo com as necessidades do cliente, a partir de um produto standard. O benefício deste software para a população de uma cidade se nota no dia a dia, explica: ‘‘Numa cidade que tenha instalado o sistema low shedding, ou rejeição de cargas, que está dentro do software, no momento de uma pane pode-se analisar qual a região ou local em que a energia pode ser cortada para reparos’’.
De acordo com Roberson Marczak, a Siemens praticamente domina o mercado mundial na área de equipamentos para geração de energia elétrica. Há apenas duas outras concorrentes: a sueca ABB e a francesa Cegelec. A marca Siemens é diversificada - indo de interruptores domésticos a aparelhos como video-cassete.
A América Latina, embora não tenha recursos para investimentos pesados na área, é um cliente promissor para equipamentos de produção de energia - diz o engenheiro. ‘‘Há interesse, mas não há dinheiro’’. Da mesma forma, segundo Marczak, companhias como a Siemens também se interessam pelo terceiro mundo para projetos hidrelétricos, principalmente onde a economia dá sinais de equilíbrio.
O Brasil é um exemplo. O engenheiro ressalta que a repercusssão das privatizações das estatais e a busca do saneamento das contas públicas tem modificado a reputação do País na Europa. Mas a Europa, segundo ele, embora esteja disposta em bloco para exportar suas novidades tecnológicas, tem tendência de se fechar para a imigração, permitindo apenas o ingresso de profissionais bem preparados. ‘‘O nível do ensino superior no Brasil é bom e não deixa nada a desejar às instituições européias’’, aponta.
Marczak destaca que em seu caso a formação universitária e a sua grande curiosidade pela informática, basicamente na área de hardware, foram fundamentais para o seu crescimento profissinal. ‘‘Esta formação anterior me ajudou a entender melhor como as coisas funcionam e achar soluções mais rápidas’’, considera. Para ele, o profissional do futuro precisa ter flexibilidade e diversidade de conhecimento. ‘‘Criatividade e comunicação também são importantes’’, ressalta.
A criatividade de Marczak vem também dos longos anos de estudo e apresentações em área completamente diversa: a música. No Brasil, ele foi violinista profissional - tocando junto com seu irmão, o também violinista Roney Marczak, que hoje faz sucesso na Europa - integrando sinfônicas importantes como a da Universidade Estadual de Londrina, a Municipal Jovem de São Paulo, a da Paraíba, e as orquestras de Câmara e Sinfonieta em São Paulo. Hoje a música é apenas um hobby - curiosamente no berço de Strauss: Marczak continua tocando, mas naquilo que ele chama de ‘‘música de câmera informal’’, ou seja, com os amigos em Viena.
Os planos do engenheiro londrinense para os próximos anos são de crescimento profissional. Ele diz que tem muitas chances de assumir funções técnicas dentro da Siemens para atender o mercado da América do Sul. Deixar a Áustria está fora de cogitação. ‘‘No final é irônico; estou voltando às minhas origens’’, diz.