Londrina registra geada em várias regiões nesta quarta
Sensação térmica chegou a -1,1°C no início da manhã; produtor rural relata perdas com as hortaliças
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 25 de junho de 2025
Sensação térmica chegou a -1,1°C no início da manhã; produtor rural relata perdas com as hortaliças
Jéssica Sabbadini

Em mais um dia de muito frio, Londrina amanheceu encoberta por uma fina camada de gelo nesta quarta-feira (25), que transformou a paisagem em diversos pontos da cidade: do verde para o branco da geada. De acordo com o Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná), a mínima atingiu a marca de 0,9°C entre 6h e às 7h na cidade, sendo que a sensação térmica foi -1,1°C.
Com o clima favorável, o IDR-PR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná) confirmou a formação de geada em todo o estado nesta quarta-feira. Nas regiões Centro-sul, Sul e Campos Gerais, as geadas foram consideradas fortes; nas demais áreas, incluindo a região Norte, o fenômeno foi moderado.
LEIA TAMBÉM:
= Londrina amanhece com sensação térmica abaixo de zero: -2,2ºC
Agrometeorologista do IDR-PR, Angela Costa explica que Londrina, assim como o restante do Paraná, amanheceu com as características ideais para a formação das geadas: temperaturas baixas, ausência de vento e baixa nebulosidade, sendo este último ponto o que permite que a superfície perca calor para a atmosfera pela falta de nuvens, contribuindo para uma queda mais acentuada nas temperaturas. “As nuvens servem como um cobertor para a nossa superfície”, aponta.

'Cozinhou as verduras'
No campo, as hortaliças, as frutas e as plantações de café com menos de dois anos são as culturas mais impactadas pelas geadas. Esse é o caso do produtor rural Eliel dos Santos Silva, 54, que tem uma propriedade de sete hectares no Patrimônio Selva, na zona sul de Londrina.
Com mais de 20 variedades de hortaliças, o agricultor estima um prejuízo de mais de R$ 60 mil por conta da geada, que queimou os pés de alface, couve e repolho prontos para colheita e venda. A geada, segundo ele, ‘cozinhou’ as verduras, o que impacta na qualidade do produto que chega à mesa da população. “Foi uma geada congelante”, lamenta, citando que os insumos estão com preços elevados, o que encarece a produção e, consequentemente, aumenta ainda mais o prejuízo.
Ele explica que aplicou alguns produtos que ajudam a evitar a cristalização da água nas hortaliças, mas garante que isso ajuda apenas a minimizar, já que a geada foi muito intensa. Na propriedade, ele detalha que a temperatura chegou a -1°C durante a madrugada. “A gente não esperava essa geada”, explica.
Aumento do preço
As hortaliças mais afetadas são aqueles já em ponto de colheita, que ficam danificadas após o congelamento; no caso das menores, ainda é possível salvar parte da produção com a utilização de fertilizantes, como o cálcio. Segundo ele, por conta da qualidade inferior, a colheita em muitas das vezes acaba sendo inviável.
Como resultado, a quantidade de hortaliças disponíveis no mercado tende a cair, o que encarece os preços e afeta o bolso dos consumidores. Ele diz acreditar que culturas como a da abobrinha, chuchu, tomate, pepino e quiabo, assim como as verduras, podem ter um aumento entre 50% e 100% já a partir de sexta-feira (27). “A geada pegou muitos produtores de surpresa. Foi uma geada que congelou tudo”, reforça.
Ele explica que acordou por volta da meia noite e já percebeu a formação de gelo nas hortas. “Não tinha nem o que fazer porque ligar a irrigação já com gelo ia ser pior”, relata, explicando que, nesses casos, a água formaria ainda mais gelo nas plantas. Silva comenta que a última geada forte como a desta quarta-feira foi em 2021, sendo que nos anos seguintes foram fracas e não trouxeram prejuízos significativos aos produtores.

Perda de 80% da plantação
Na propriedade de João Kaduta, 42, localizada no Vale Água dos Cágados, em Sertanópolis (Região Metropolitana de Londrina), a geada também afetou a produção de hortaliças e legumes. Segundo ele, a estimativa inicial é de que tenha perdido pelo menos 80% de toda a plantação, o que deve impactar em 70% a renda da família.
Na propriedade de quatro hectares, ele cultiva diversos tipos de alface e chicória, além de legumes como berinjela, vagem e abobrinha.
“Quando eu acordei, a plantação estava coberta pela geada”, aponta, citando que a intensidade foi de moderada para forte. “Elas necrosam e depois o pé morre, não tem como salvar”, lamenta. Na propriedade dele, toda a plantação fica em campo aberto, então é difícil prevenir os impactos. “Como hoje em dia o material está muito caro, como a lona ou TNT, fica inviável porque encarece muito a produção, o que acaba não compensando”, explica.
Ao utilizar o semeio direto como modelo produtivo, ele garante que vai precisar de cerca de dois meses para começar a colher as hortaliças e os legumes novamente.
Seab
À reportagem, o Ceasa (Centro de Abastecimento do Paraná) de Londrina confirmou que o preço deve começar a subir entre sexta-feira e a semana que vem. Questionada, a Seab (Secretaria da Abastecimento e do Agricultura do Paraná) disse que ainda é cedo para fazer uma avaliação do impacto no preço dos alimentos, já que os técnicos do Deral (Departamento de Economia Rural) precisam percorrer as regiões do estado para mensurar os prejuízos.

