Recente ainda no Brasil, o mercado de fusões e aquisições está em evolução. Concentrou-se inicialmente no eixo Rio-São Paulo, mas, nos últimos anos, voltou-se para outras capitais e cidades importantes do interior. "Nos últimos cinco anos, o mercado dos chamados Private Equity está com o olhar para o interior e Londrina é um dos grandes polos do interior do Brasil", afirma Fernando Kireeff, sócio da JMB Advisor, empresa de consultoria em fusões e aquisições.
Levantamento da britânica Dealogic mostra que em 2018 já foram realizadas 71 operações de fusões e aquisições no País. O ano passado fechou com 411 operações. Só no setor de educação, de acordo com pesquisa da KPMG, foram registradas 30 operações no ano passado, 11 a mais em relação a 2016. "Este crescimento está bastante associado ao maior apetite dos investidores para a aquisição de escolas com atuação no ensino médio e fundamental e ainda cursos técnicos e de idiomas", avalia Luis Motta, sócio da KPMG no Brasil.
Além de educação, segmentos de agronegócio, saúde, telecomunicações, e tecnologia da informação estão aquecidos e despertando o interesse de empresas de grande porte.

JÁ FEITAS
Exemplos de operações foram a venda da Belagrícola para o grupo chinês DKBA e a compra da Faculdade Arthur Thomas e da Escola Berlaar Santa Maria pelo grupo Positivo, no ano passado. Em 2016, também houve movimentação na área de saúde com a venda do Cetel - laboratório de análises clínicas - ao grupo Sabin. E, em 2011, a Kroton Educacional comprou a Unopar (Universidade Norte do Paraná) por R$ 1,3 bilhão, o que foi considerado o maior negócio do setor.
"Londrina tem bons exemplos de empresas bem sucedidas em vários segmentos, por isso, a cidade está sempre no radar desses investidores", afirma Kireeff. O empresário diz que os projetos de fusões estão voltados para empresas consolidadas no mercado e com rentabilidade. "As mais desejadas são as que estão com rentabilidade. As grandes empresas estão interessadas no capital, para acelerar seu processo de crescimento", explica.

EDUCAÇÃO
Para o economista Ricardo Jacomassi, diretor da TCP Latam, empresa de investimentos e gestão de São Paulo, Londrina tem boas oportunidades de negócio. Ele esteve semana passada na cidade avaliando o mercado. "Os investidores estão olhando para a região porque tem um PIB per capita de consumo importante. Teve uma onda de crescimento em grandes centros e Londrina é a região secundária onde os investidores estão procurando negócios", diz.
Ele enxerga os setores de serviço, educação e de laboratórios clínicos com bons potenciais de negócios para grandes redes. "O segmento de colégios está em alta e são esperadas no Brasil entre 80 a 100 operações este ano e Londrina está no radar", afirma.
A FOLHA sondou algumas escolas privadas, mas nenhuma confirmou estar em negociação com redes educacionais. Algumas comentaram que sempre existe o burburinho de "flerte" entre colégios e grandes grupos. "Londrina é um mercado de um tamanho interessante, tem espaço para um posicionamento e tem concorrentes que entendemos adequados à nossa realidade. É uma praça saudável", avaliou Lucas Guimarães, vice-presidente do Grupo Positivo, em entrevista à FOLHA em novembro do ano passado. Na ocasião, ele comentou que o Paraná está na prioridade de expansão do grupo, mas também estão na mira investimentos em regiões como São Paulo, Centro-Oeste e Sul.

SUCESSÃO
O economista Ricardo Jacomassi comentou que há uma dificuldade de fazer negócios em Londrina em função da falta de profissionalização da gestão das empresas. "Muitas empresas são familiares e não fizeram o processo de governança para colocar o cara na mesa para conversar com o investidor. Boa parte dos empresários está na faixa dos 60, 70 anos e se encontra na fase de sucessão, mas como não fizeram esse processo há falta de profissionalização", disse.

Contratos de confidencialidade

Carlos Roberto Audi Ayres: muita especulação, mas só um negócio realizado
Carlos Roberto Audi Ayres: muita especulação, mas só um negócio realizado | Foto: Anderson Coelho



Existem especulações sobre o interesse de grandes grupos no setor da saúde em Londrina. Mas, assim como na educação, ninguém confirma nada a respeito. O presidente do SindLab-PR (Sindicato dos Laboratórios Análises e Patologias Clínicas, Anatomias e Citologia do Estado do Paraná), Carlos Roberto Audi Ayres, afirma que os negócios envolvem contratos de confidencialidade e que o mercado só fica sabendo após o fechamento do negócio.
As transações são realizada por meio de assessores ou consultores de empresas especializadas em fusões e aquisições. De acordo com o presidente, que também sócio-fundador do Laboratório Oswaldo Cruz, esses consultores exigem assinatura do contrato antes de informarem qual é a empresa interessada.
"Já fomos procurados várias vezes por pessoas que dizem representar grupos, mas relutamos em assinar contratos de confidencialidade sem saber quem são os grupos. Às vezes, esses contratos são só especulação", conta. Ele disse também que há comentários sobre prospecções em Maringá. "Sabemos de investidas em Maringá", afirma.
Londrina conta com seis laboratórios de análises clínicas, que são consideradas de médio porte. Em 2016, o Laboratório Sabin, quinto maior do setor no País, comprou o Cetel. De acordo com Ayres, foi o único negócio realizado nos últimos tempos.
O presidente da entidade diz que o mercado local de diagnósticos médicos depende muito das operadoras de saúde e que esse fato provoca o achatamento dos preços dos serviços. Na avaliação dele, isso dificulta a realização de negócios.
Outro problema é que os investidores não estariam dispostos a pagar pela "tradição" das empresas familiares. "Por exemplo, nosso laboratório tem 42 anos e obviamente se alguém quiser comprar queremos vender essa tradição, mas essas empresas têm uma análise muito fria baseada só nos números", afirma.

HOSPITAIS
O presidente do Sindipar (Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná), Luiz Rodrigo Milano, comenta que, nos últimos anos, há especulações sobre a compra de hospitais no Estado, mas que esse mercado sempre foi mais aquecido no Sudeste e Nordeste do País. "Existem especulações, mas nada concreto. A nossa rede hospitalar é pequena em número de leitos, em média, 70 por unidade, e essas incorporações investem em hospitais com 200, 300 leitos", explica Milano.
Outro parâmetro que deixaria a região Sul menos atraente para grandes grupos é a característica de cooperativas. As empresas, de acordo com Milano, preferem apostar em mercados onde predominam as seguradoras.