O potencial de consumo das famílias crescerá em Londrina, proporcionalmente, mais do que nas maiores cidades do País neste ano, aponta o estudo IPC Maps 2019. O aumento da abertura de empreendimentos mesmo que como solução perante o desemprego, a migração da abertura de empresas das capitais para o interior e o fortalecimento das classes B e C, as que mais consomem na cidade, são os principais motivos para a previsão de R$ 16,4 bilhões em gastos dos londrinenses, o que fará a participação passar de 0,31% para 0,35% em relação ao bolo nacional.

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. | Foto: Folha Arte

Assim, o potencial faz com que Londrina pule da 41ª para a 37ª posição no ranking municipal em 2019. Para um momento de baixos índices nas principais pesquisas brasileiras sobre a produção econômica, soa estranho apontar um índice positivo no consumo familiar. Contudo, o diretor da IPC Marketing e coordenador do estudo anual, Marcos Pazzini, afirma que houve uma migração das classes A e C para a B em Londrina, registrada por meio da renda média e do tipo de domicílios.

"O IPC Maps indica uma retração de 1,9% na população em moradias de classe A, mas uma queda de consumo de 8,3%. Na B, que é a que mais consome, houve aumento de 6,3% de domicílios e 20,8% em potencial de gastos familiares."

Outra explicação dada por Pazzini é a abertura de 10.288 empresas na cidade entre as pesquisas de 2018 e 2019, que indicam uma maior movimentação financeira, mesmo que indique o empreendedorismo por necessidade. "Esse número inclui os microempreendedores individuais, mas é um gerador de empregos e renda. Existem também executivos que deixam os cargos e abrem empresas, atuam como pessoa jurídica, mas isso gera uma manutenção de geração de renda e consumo", sugere.

O terceiro ponto da pesquisa é a interiorização do consumo familiar, que havia perdido força nos últimos dois anos, mas que voltou a ter destaque no estudo de 2019. "É o conhecido movimento das empresas que passam a procurar cidades menores, com população com boa formação, em busca de menor custo. Assim, geram mais empregos, renda e consumo", cita Pazzini, que lembra que os gastos familiares subiram 2% no ano passado ainda que o PIB (Produto Interno Bruto) nacional tenha aumentado 1%. "Foi o consumo familiar que puxou o PIB."

Consultor econômico da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina) e professor da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Marcos Rambalducci vê um excesso de otimismo no estudo. "As avaliações não estão erradas, mas o problema é o prognóstico diante do momento em que vivemos. Se for com base no que todos nós, economistas, esperávamos em janeiro, com um crescimento do PIB em 2019 de 2,5%, seria possível. Mas estamos em junho e a aposta dos agentes de mercado para isso já caiu para 1%."

Por outro lado, Rambalducci acredita que o londrinense tem boa capacidade de criar soluções para manter a renda, em uma forma de resiliência para momentos de dificuldades econômicas. "A forma como as pessoas reagem diante da crise mostra que Londrina é, de fato, uma cidade empreendedora, talvez pelo maior nível de formação profissional e pelo otimismo", cita.

É mesmo, entretanto, a possibilidade de declínio do potencial de consumo em outras cidades com base em setores produtivos mais afetados pela recessão, como a indústria, que explica o melhor o cenário, para Rambalducci. "Municípios que estavam à frente de Londrina no ano passado, como Santos, que teve redução nos postos de trabalho em 2018, e Juiz de Fora (MG), que gerou menos do que Londrina, perdem capacidade de consumo."

NO PAÍS

Segundo o IPC Maps, o potencial de consumo das famílias brasileiras continuará a crescer e a impulsionar o PIB do País. Na contramão das últimas expectativas, a economia tem capacidade para movimentar cerca de R$ 4,7 trilhões, sendo responsável por 64,8% da somatória de bens e serviços deste ano. A previsão é baseada na inflação pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) estimada em 3,89% e na análise de dados de 5,5 mil cidades.

O levantamento indica que as capitais perderão espaço no consumo, de 29,6% em 2018 para 28,9% neste ano. O interior voltará a dar sinais de recuperação, elevando de 54% para 54,4% a movimentação de recursos.

Apesar dos indicadores ruins nas pesquisas oficiais sobre a economia no País, Pazzini afirma que é possível fortalecer a capacidade de compra das famílias neste ano. "O governo precisa desonerar o consumo. O ramo imobiliário está praticamente parado porque há pouca oferta de crédito, faltam diretrizes definidas e os juros estão altos. Em veículos está um pouco melhor, ainda que boa parte das vendas seja para frotistas", diz, sobre dois dos setores que levam outros a reboque.