Entre outubro de 2022 e setembro de 2023, os preços de venda dos imóveis residenciais aumentaram 5,29% no Brasil. Segundo o FipeZap, principal indicador de valorização imobiliária do país, o valor médio do metro quadrado nos 50 municípios monitorados foi de R$ 8.622. Chamada de Dubai brasileira pela profusão de arranha-céus e preços estratosféricos, a cidade de Balneário Camboriú (SC) lidera o ranking, com o metro quadrado residencial cotado, em média, a R$ 12.470.

No Paraná, três cidades figuram na lista. Curitiba aparece em nono lugar, com preço médio de R$ 8.930 por metro quadrado. As outras duas, bem distantes da capital no ranking, são São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, que ocupa a 44ª colocação com o metro quadrado avaliado em R$ 4.627, e Londrina, logo abaixo, em 45º lugar, onde a média de preço do metro quadrado residencial ficou em R$ 4.597.

Presidente do Sincil (Sindicato dos Corretores de Imóveis de Londrina), Marco Antonio Bacarin ressaltou que a análise do mercado imobiliário em Londrina deve considerar não apenas a pujança econômica do município, mas de todo o entorno, em um raio de cem quilômetros. “Há um número muito significativo de pessoas que residem ou trabalham em municípios próximos e compram imóveis em Londrina para investir, o que acaba contribuindo para a valorização.”

Em Londrina, a Gleba Palhano tem hoje um dos metros quadrados mais caros do município. No bairro nobre da zona sul estão alguns dos empreendimentos residenciais mais luxuosos da cidade, porém, o que valorizou os imóveis daquela região não foi só o requinte das construções e a infraestrutura disponível. Variantes subjetivas, como o estilo de vida, o conceito de modernidade e o status conferido aos seus moradores, uma vez que o bairro é visto como um símbolo de ascensão social, influem no cálculo do valor de venda dos imóveis e podem fazer o preço do metro quadrado ultrapassar os R$ 12 mil, equiparando os valores dos imóveis londrinenses à média praticada no balneário catarinense. “O status, mais do que as questões de infraesturutra, tem um peso muito forte no preço final de um imóvel”, afirmou Bacarin.

“O sonho de morar na Gleba Palhano vem da ascensão social que a pessoa tem em mente. Mas existem dois estágios. O estágio da pessoa que ainda sonha em ir para a Gleba, por causa do status, e o estágio de transição, no qual a Gleba já não satisfaz mais e há a necessidade de algo mais”, comentou a gerente de Vendas da CRV Imobiliária, Viviani Fernanda Fernandes de Mendonça.

O “algo mais” a que ela se refere pode vir na forma de uma casa em um condomínio horizontal ou dos edifícios de alto padrão que começam a se multiplicar no entorno da avenida Harry Prochet (zona sul). Se na Gleba Palhano ainda é possível encontrar unidades entre 60 e 70 metros quadrados com valores entre R$ 500 mil e R$ 600 mil, na região da Prochet as opções são direcionadas a um público mais endinheirado e que busca por mais espaço e conforto ao adquirir apartamentos de 200 ou 300 metros quadrados, com preços que começam em R$ 2 milhões. “Como a Gleba está muito saturada, abriu uma brecha para o surgimento de novas regiões”, disse Mendonça.

Além da região da Prochet, a gerente de Vendas chamou a atenção para o bairro Terra Bonita, ao sul do Catuaí Shopping Londrina, que vem tendo uma boa e rápida valorização imobiliária. “As construtoras estão investindo muito ali e o preço do metro quadrado está entre R$ 5 mil e R$ 6 mil.”

Apesar de não concentrar grandes indústrias, Londrina tem uma população com bom poder aquisitivo e atrai investidores e isso explica, ao menos em parte, os motivos que levaram à valorização imobiliária. “Tem pessoas que trabalham em São Paulo, mas a família mora aqui. Londrina é uma cidade tranquila, onde é possível ter um bom padrão de vida e longe da criminalidade”, analisou Mendonça.

O presidente do Sincil destacou que além da variação de preços entre as regiões da cidade, o que é comum em municípios de maior porte, como Londrina, há uma flutuação de valores dentro de uma mesma região, o que pode ser observado na Gleba Palhano. “A Gleba Palhano tem dois preços. Tem a área com os prédios mais modernos e mais caros, mas também tem uma faixa grande de prédios mais antigos, os primeiros construídos no bairro, onde os preços são bastante convidativos”, comparou.

MAIS ACESSÍVEL

Regiões que no passado tiveram seus dias de Gleba hoje passam por um período de acomodação nos preços. A partir do momento em que as maiores construtoras da cidade passaram a direcionar grande parte de seus lançamentos para a zona sul, unidades residenciais no Centro muito valorizadas até o início dos anos 2000, como na avenida Higienópolis e nas ruas Hugo Cabral, Belo Horizonte, Santos e Paranaguá, tornaram-se mais acessíveis. “Há moradias de padrão muito bom, que podem ser comparadas aos prédios da Gleba, mas com preços muito melhores”, disse o presidente do Sincil. “Bairros do entorno dos shoppings Catuaí e Boulevard e da avenida Maringá também oferecem habitações de excelente qualidade a 70% dos preços da Gleba.”

APOSTA

Bacarin aponta ainda regiões que estão na mira de construtoras e incorporadoras. Impulsionada por obras de infraestrutura que facilitaram a mobilidade e a acessibilidade, a zona leste deve concentrar alguns empreendimentos imobiliários em um futuro próximo, embora o foco naquela localidade sejam empreendimentos com valores um pouco mais acessíveis.

O diretor do Sincil aposta ainda em um novo conceito de moradia que deve começar a surgir em alguns anos e que deverá atrair um público interessado não apenas em conforto, mas em qualidade de vida, o que inclui a facilidade nos deslocamentos. “Com a aprovação do Plano Diretor que deve acontecer até o final deste ano, principalmente a parte do parcelamento do solo e zoneamento vai trazer a possibilidade de novos núcleos de construção. Algumas áreas vão vigorar e vão ser criadas smart cities”, disse Bacarin. “Londrina vai ter quatro ou cinco bairros formados por smart cities e algumas empresas já reservaram terrenos para isso.”

Algumas dessas áreas estão a oeste do Catuaí Shopping Londrina, atrás do Centro de Eventos, próximo ao patrimônio Heimtal (zona norte) e, na zona leste, próximo à divisa com Ibiporã. Muitos conceitos que já existiam, mas estavam adormecidos, começaram a se materializar depois do período de pandemia. Com as mudanças na atividade laboral e a adoção do home office como modelo de trabalho definitivo e não mais temporário, aumentou a busca por tranquilidade e qualidade de moradia. “A maioria das grandes empresas do setor, já vislumbrando o que iria acontecer, adquiriu mais de 70% dos terrenos. Essas áreas já estão em posse das grandes construtoras e investidores”, comentou Bacarin.