A Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) identificou, no começo deste mês de abril, o primeiro caso de raiva bovina em Londrina em 2023. A doença é letal para os animais, não tem cura e já soma 40 diagnósticos no Paraná.

À FOLHA, o gerente de Saúde Animal da Adapar, Rafael Gonçalves Dias, explica que o animal diagnosticado com raiva em uma propriedade londrinense tinha cerca de 20 meses. O vírus é transmitido por morcegos hematófagos, ou seja, que se alimentam de sangue.

“A Adapar já fez toda a parte de investigação para controlar a doença e evitar que ela seja disseminada para outras propriedades”, diz Rafael, reforçando a importância da vacinação dos animais. “É uma vacina barata e que deve ser feita nessas regiões onde há ocorrência da doença e repetida depois de 30 dias.”

A fiscal de Defesa Agropecuária da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento), Elzira Jorge Pierre, explica que as análises de materiais suspeitos são realizadas no CDME (Centro de Diagnóstico Marcos Enrietti), em Curitiba, tanto de veterinários particulares quanto de notificações da Adapar.

“A raiva é uma doença comum, endêmica no Brasil todo e no Paraná não é diferente. Lógico, no Norte do Paraná ocorrem bem menos casos que nas regiões Centro e Oeste, que é onde ficam concentrados os abrigos de morcegos hematófagos”, explica Pierre, pontuando que mais de mil desses abrigos estão cadastrados.

Não é raro que Londrina tenha diagnósticos do vírus, mas em 2022 e em 2021, período consultado pela fiscal da Seab, não há registro no município. No Paraná foram 123 ocorrências no ano passado e, em anos anteriores, os registros variam de 80 a 100.

De acordo com Rafael, os municípios como Ortigueira, Guarapuava e Prudentópolis, que possuem grandes cânions e cavernas, acabam por ter maiores populações do morcego e, consequentemente, mais casos da doença. Mas esses animais podem se deslocar para outras regiões, sobretudo com a invasão humana nos abrigos naturais. “É possível que haja esse deslocamento”, acrescenta Rafael.

Pierre lembra que esses morcegos são animais silvestres protegidos pela legislação ambiental, e que é feito um controle populacional pela Adapar. Também, que apenas os morcegos contaminados transmitem o vírus.

CUIDADOS

Segundo a fiscal, após ser contaminado, o bovino tende a se afastar do rebanho, salivar em excesso, ficar com as pupilas dilatadas, ter dificuldade para engolir e caminhar, até que cai e não consegue mais levantar. É importante ressaltar que o produtor deve tomar cuidado e não ter contato com as secreções do animal.

“Normalmente a morte vem em torno de uma semana, dez dias depois. O diagnóstico só é feito após a morte. Não tem diagnóstico com o animal vivo, infelizmente”, explica a fiscal, pontuando que se o produtor sacrificar o animal, pode ocasionar um falso-negativo, além de se expor ao risco.

A recomendação é deixar o animal separado dos demais, em condições mais favoráveis - longe do Sol, por exemplo - e com acesso à água. Após a morte, é preciso acionar a Adapar, que faz a coleta de material do sistema nervoso central e destina para análise.

Caso haja contato de uma pessoa com o animal contaminado, a Seab encaminha para a Secretaria de Saúde, que vai avaliar o grau de contato e se há necessidade de vacina.

REPERCUSSÃO

Procurado pela reportagem, o técnico do DTE (Departamento Técnico e Econômico) do Sistema Faep/Senar-PR, Fábio Mezzadri, explica que a raiva não tem grande importância econômica, já que não gera embargos para a comercialização, por exemplo. É diferente do que acontece com a doença da vaca louca e a febre aftosa.

“Não é uma doença que gera prejuízos comerciais grandes. O prejuízo é focado no animal para o produtor”, explica Fábio.

Apesar disso, o técnico ressalta que a Faep e a Seab recomendam a vacinação como uma forma de prevenção, para barrar novos casos. Outra sugestão é o uso de uma pasta vampiricida.

Atualizada às 15h35