A lei municipal que permite a abertura do comércio em Londrina durante 24 horas foi promulgada no mês passado, mas ainda não teve a adesão dos lojistas. O Sincoval (Sindicato do Comércio Varejista de Londrina) avalia que os comerciantes não souberam aproveitar a oportunidade, mas para os trabalhadores, o movimento fraco de consumidores é reflexo da situação econômica do país e da perda do poder compra da população e não da falta de tempo para ir às compras. Eles também relatam a falta de policiamento na região central da cidade durante a noite, o que colocaria em risco a segurança de clientes e trabalhadores.

Depois de tramitar no Legislativo por três anos, o projeto de lei que tratava da abertura do comércio durante 24 horas, todos os dias da semana, foi aprovado no último mês de março, mas acabou vetado integralmente pelo prefeito Marcelo Belinati, sob várias justificativas. Entre elas, a falta de segurança pública e o direito dos comerciários ao descanso.

Os vereadores, no entanto, derrubaram o veto do prefeito e a lei foi promulgada. Nos dias que antecederam o Dia dos Namorados, comemorado no último dia 12, os lojistas já poderiam ter se beneficiado da lei e estendido o horário de funcionamento de seus estabelecimentos, mas a comércio de rua continuou encerrando as atividades às 18 horas.

“Todo o trâmite (do projeto de lei) nos colocou a dúvida se ia vingar ou não. (A demora na aprovação) trouxe o esfriamento com os empresários. Agora, que o projeto virou lei, eles estão começando a assimilar a ideia e a conveniência”, avaliou o presidente do Sincoval, Ovhanes Gava. Na semana passada ele esteve na Câmara Municipal para falar com vereadores sobre a importância de voltar a articular com a PM (Polícia Militar) e a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) o aumento da segurança e o redimensionamento da frota de ônibus.

“Os empresários tiveram a primeira oportunidade após a lei, que foi na última sexta e sábado (antes do Dia dos Namorados), e não aproveitaram. Mas eu acho que esse esfriamento é temporário. Eles vão começar a absorver e quando o primeiro concorrente abrir até mais tarde, não vão ficar para trás”, disse Gava, embora reconheça que o momento econômico do país não estimule os empresários a aderir à medida.

A percepção dos trabalhadores, no entanto, é diferente. Segundo eles, o fluxo de clientes atual não justifica a extensão do funcionamento do comércio. Para abrir até mais tarde, os funcionários receberiam horas extras, cresceriam os custos básicos, como água e energia, sem a garantia de retorno desse aumento de gastos. Há ainda a preocupação com a segurança na região central de Londrina, que deixa a desejar. A cobrança é por medidas que atraiam os consumidores para o Centro da cidade no horário comercial.

“O Centro está esquecido. Se já não está bom das 9 às 18 horas, quem dirá após esse horário? Não está tendo giro nem cliente e tem a segurança. A gente não vê um policial nesse calçadão à noite. Para ficar uma loja ou outra aberta, seria um risco”, disse a gerente da loja Mega Jeans, Roberta Fonseca. “O que o Sincoval e a Acil têm que fazer é trazer o público para a rua, criar motivação para que as pessoas venham das 9 às 18 horas, inclusive aos sábados, e não ficar criando leis para que os lojistas gastem mais com funcionários sendo que não estamos tendo fluxo.”

Gerente de uma loja de calçados no Centro, Rosana Kelly afirmou que aderir a lei seria aumentar os gastos sem a garantia de retorno. “Não tem nenhum motivo para abrirmos até tarde. É incompatível com o momento que a gente vive. Talvez, lá na frente, seja algo importante, mas agora não é viável. E a segurança é outra questão também”, ponderou.

O ponto de vista dos trabalhadores do comércio encontra ressonância no Sindecolon (Sindicato dos Empregados do Comércio de Londrina). O presidente da entidade, Manoel Teodoro, diz que a queda nas vendas não se deve à falta de elasticidade no horário de abertura das lojas. “A grande dificuldade é a situação financeira do povo. Alguns vereadores escolheram Londrina para fazer um teste desse tipo, mas da forma como está, vamos continuar sendo contra. Aumento de emprego não existe, o problema é muito maior do que se imagina.”

Lojistas e trabalhadores avaliam que momento econômico do País e insegurança impedem ampliação do horário do comércio de rua
Lojistas e trabalhadores avaliam que momento econômico do País e insegurança impedem ampliação do horário do comércio de rua | Foto: Gustavo Carneiro/12-05-2023

O comandante do 5º Batalhão da PM em Londrina, tenente-coronel Nelson Villa, informou que o efetivo policial atual é suficiente para dar o atendimento à população, mas ele pode ser revisto se houver necessidade. “Caso se perceba que a possibilidade de abertura do comércio por período maior venha a exigir a alteração na aplicação do policiamento, isso será feito.”

Sobre a possibilidade de ampliar o número de ônibus do transporte coletivo em circulação após as 18 horas, a CMTU disse que será medida a demanda por linhas e horários, mas no momento não há nenhuma movimentação nesse sentido.