SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após quase dois meses de portas fechadas para cumprir o distanciamento social contra o coronavírus, alguns pequenos comerciantes de estabelecimentos não essenciais de São Paulo atendem o público de forma restrita para tentar sobreviver.

No centro de São Paulo, lojas de roupas deixam as portas entreabertas ou sinalizam que funcionam de modo restrito. Empresários e funcionários falaram com a reportagem na condição de não terem os nomes revelados.

Na rua das Palmeiras, um ponto de venda de roupas femininas e lingeries permite a entrada de clientes, com a regra de dois por vez. O gerente diz que as pessoas precisam estar de máscara e passar álcool em gel nas mãos.

Segundo ele, apesar de temer multas, a loja não tem outra forma de garantir um faturamento mínimo. Mesmo com a possibilidade de suspensão de contrato ou corte de jornada e salário, viabilizados por medida provisória do governo federal, 25 funcionários foram demitidos.

A empresa chegou a formar uma rede de nove lojas na capital, mas seis foram fechadas por completo, segundo ele. Apenas a do centro funciona, e foi reaberta há menos de uma semana. O faturamento caiu a menos da metade.

Esquema parecido é visto em duas lojas em Santa Cecília. Um comerciante relatou queda de 80% no faturamento e disse que reabrir com restrição foi a única opção que encontrou para pagar o aluguel e as contas, que ultrapassam R$ 7.000. O resultado oscila na casa dos R$ 3.000 com encomendas de clientes antigos feitas via WhatsApp.

Apesar de aberta, duas fitas isolantes impedem o ingresso no interior da loja. O atendente recebe o interessado, que informa a peça de roupa que deseja adquirir, e a transação é feita fora da loja.

Na Santa Ifigênia, polo de eletrônicos, a movimentação é maior que a vista em outros bairros comerciais. Há muitos estabelecimentos abertos que oferecem reparo de itens elétricos, modalidade considerada essencial pelo governo do estado.

Lojas de luminárias e de peças para computador têm as portas abertas: algumas têm fita isolante restringindo a passagem, e outras, acesso liberado, que é permitido.

Esquema comum tem sido a venda por WhatsApp, que justifica a operação de uma série de lojas com portas entreabertas a um metro do chão.

"Estamos faturando cerca de 40% do que normalmente conseguimos. Tínhamos dinheiro guardado e pedimos empréstimo no banco. Conseguimos segurar funcionários. Se o governo optasse pelo 'lockdown' [restrição total], teríamos que demitir", afirma Paulo Antoni, de uma loja de chaveiros para o atacado.

Há sete semanas, sua operação ocorre essencialmente pelo WhatsApp. A loja veda o acesso a clientes, mas às vezes precisa operar internamente para manejar o estoque e realizar a entrega de materiais.

Na região da 25 de Março, onde funciona boa parte do varejo popular paulistano, ao menos 20 pontos encerraram as atividades e não devem reabrir, segundo a Univinco, associação de comerciantes.

"Isso são lojas de rua. Não sabemos sobre as dezenas que ficam em prédios e galerias, o número será muito maior", diz Claudia Urias, diretora da associação.

Ela afirmou que representantes dos polos comerciais do centro, que são Santa Ifigênia, Brás, 25 e Bom Retiro, aguardam posição do governo sobre uma reunião pleiteada para entender os protocolos a serem estabelecidos no pós-confinamento.

O setor defende reabertura gradual e flexível após o dia 31. "Respeitamos até agora, mas precisamos do mínimo de previsibilidade", diz. Reportagem da Folha de S.Paulo já mostrou que a estimativa de associações do centro é de 100 mil cortes diretos e indiretos nos próximos meses.

Nos Jardins, bairro nobre de São Paulo, as lojas não essenciais estão fechadas, mas com luzes acesas e trabalhadores no interior. Três estabelecimentos abriram a porta para a reportagem. Eles dizem que estão no local porque operam pelo ecommerce e precisam realizar as entregas.