Uma lanchonete na Avenida Maringá é capaz de fazer qualquer pessoa viajar de volta para os anos 1950, aos famosos diners norte-americanos - restaurantes com características de construções pré-fabricadas, coloridas e com estrutura de aço que atendiam em horário estendido. O piso preto e branco, as mesas com assentos estofados em branco e azul ou rosa claro e cadeiras vermelhas da lanchonete londrinense Anne Rockets remetem imediatamente à época. Também é impossível não reparar nos objetos e pôsteres antigos. Para reforçar a identidade, em uma das paredes está a pintura de um diner. A música ambiente tem repertório formado pelos sucessos da década.
Iniciativas assim começam a ficar cada vez mais comuns, mas já é um movimento iniciado há muito tempo fora do Brasil, afirma o professor de marketing da ISA/FGV Marcelo Peruzzo. Lojas temáticas atraem o consumidor e se revelam como estabelecimentos com um diferencial. "Como os produtos e serviços estão se tornando cada vez mais commodities, a experiência de consumo faz a diferença."
Em um shopping center da cidade, uma pista de skate ganha espaço em plena loja. O cenário das ruas é reproduzido na loja de artigos de skate e surf Star Point, no Boulevard Londrina Shopping. Enquanto o estabelecimento está aberto, os skatistas estão livres para usar a pista, afirmam os sócios Rodolfo Ignatowicz e Tiago Ramos. "É preciso apenas estar de capacete."
Piso de cimento queimado e papel de parede com estampa de tijolos também caracterizam o espaço. Os móveis são feitos no formato de skate e os corners (espaços) de cada marca têm uma marcação em um quadro negro, que pega toda a extensão da parede. A cada coleção, um artista enviado pela marca atualiza a arte da logo no quadro negro, com caneta posca (uma caneta de tinta fosca semelhante a um marcador).
Quadros que contam um pouco da história do surf e miniaturas de carros antigos decoram o espaço do caixa. Uma geladeira retrô guarda Red Bull e cerveja, que são oferecidos aos clientes maiores de idade. Caixas de madeira viram prateleiras.
No começo, conta um dos sócios, as pessoas entravam na loja e conversavam com os vendedores com os olhos rolando ao redor, tanto era a novidade de uma loja com uma decoração particular como esta. "As pessoas entram no lugar e bate um encantamento." O projeto de design da rede já foi premiado duas vezes pela Associação Brasileira de Franchising, continua.
Os sócios, que abriram a franquia este ano em Londrina, investiram R$ 800 mil na estrutura da loja. "Em São Paulo, as lojas estão muito preocupadas com a exposição (de produtos). Só com isso, 50% do produto já está vendido", ressalta Ramos.
Para os sócios Ana Maria Munhoz Larini e Thiago Marques, uma lanchonete como a Anne Rockets desperta a curiosidade de quem passa. A decoração com objetos antigos invoca a memória e é justamente esta experiência que os sócios desejam oferecer aos seus clientes, diferente de uma lanchonete comum, que faz vários lanches por dia sem se preocupar com o resto. Os lanches na Anne Rockets são caseiros.
Marques diz que já perdeu as contas de quanto aplicou na lanchonete, já que após o investimento inicial os sócios continuaram a destinar recursos ao local mês a mês. No entanto, como dono de carro antigo, foi ele próprio quem reformou a geladeira antiga, fez as luminárias e mandou fazer os assentos retrô. Outros objetos da lanchonete são pessoais e foram reunidos com o tempo, mesmo antes de a ideia do estabelecimento nascer. Marques e Ana Maria compartilham o gosto pelo clima dos anos 1950.
Quem vê pensa que o local vai despertar as lembranças daqueles que viveram esta época e que estes é que se tornarão os clientes da Anne Rockets. O público, entretanto, é formado por muitos jovens, conta Ana Maria. O mesmo aconteceu com a Star Point. Não é preciso andar sobre uma prancha para ter vontade de conhecer a loja.