Durou menos de 24 horas a intenção do governo do Estado de adiar para novembro o leilão de privatização do Banestado. A equipe econômica do governo, capitaneada pelo secretário Giovani Gionédis, da Fazenda, conseguiu na última hora convencer o governador Jaime Lerner de que a mudança na data traria prejuízos para os cofres públicos e um possível desgaste político.
Lerner estava propenso a adiar o leilão até o meio dia de ontem, quando chegou a afirmar aos jornalistas que as mudanças seriam anunciadas à tarde pela Secretaria da Fazenda. ‘‘Sobre esse assunto, vai ser dado conhecimento à tarde’’, afirmou Lerner, por volta do meio dia.
Mas nas horas que se seguiram a situação foi revertida e o governador ‘‘bateu o martelo’’ a favor da privatização na data inicialmente prevista. Giovani Gionédis anunciou, em coletiva à imprensa, que está ‘‘mantida’’ a data do leilão para 17 de outubro, terça-feira. Gionédis não quis admitir que houve uma intensa mobilização dentro do governo para definir o calendário de venda do banco. ‘‘São apenas boatos e tentativas de desinformar o público’’, disse Gionédis, ao comentar a informação que partiu de dentro do próprio Palácio Iguaçu, na noite anterior, segundo a qual Lerner estudava o adiamento. A notícia de que o assunto estava em pauta foi confirmada pelo chefe da Casa Civil, Alceni Guerra, à reportagem da Folha na noite de terça-feira.
Lerner de fato quis adiar o leilão e chegou a telefonar inúmeras vezes para o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente Fernando Henrique Cardoso, mas acabou por recuar. Alguns telefonemas foram feitos ontem pela manhã.
A idéia de mudar a data partiu do grupo político do governador, que levou em conta o processo eleitoral de Curitiba, onde estão em campanha o prefeito Cassio Taniguchi (PFL) e o deputado estadual Ângelo Vanhoni (PT), ex-funcionário do Banestado. O governo temia que a oposição aproveitasse a privatização para fazer campanha política.
O chefe da Casa Civil confirmou ontem que desde segunda-feira havia uma análise criteriosa para o adiamento. ‘‘Tínhamos de esgotar todos os argumentos, mas acabou prevalecendo os econômicos’’, afirmou. O secretário disse que, anteontem à tarde, as direções de todos os bancos credenciados para a compra do Banestado foram consultados, durante uma reunião, e disseram que não iriam se opor a um eventual adiamento. ‘‘Eles só pediram que fosse preservada uma diferença de duas semanas entre o leilão do Banespa (marcado para 17 de novembro)’’, explicou Alceni. A data cogitada seria o dia 7 ou 29 de novembro. Segundo o chefe da Casa Civil, os advisers também foram ouvidos pelo governo do Estado e disseram que não haveria problema no adiamento.
O que pesou na balança para Lerner manter a data, ontem à tarde, foi uma carta do Banco Central cobrando a realização do leilão na data marcada. ‘‘O Banco Central se posicionou por escrito duramente pela manutenção’’, disse Alceni. A carta foi assinada pelo diretor do banco Carlos Eduardo Freitas, que havia afirmado, na semana passada, que a privatização do Banestado estava confirmada para o dia 17 deste mês e que não haveria alterações.
A greve dos funcionários também teria pesado na decisão do governador. O vice-presidente do Banestado, José Evangelista de Souza, informou que manter a greve representa prejuízos diários para o banco. O governo espera que a greve termine no dia seguinte ao leilão.