Em coletiva realizada na manhã desta quarta-feira (19), o prefeito Marcelo Belinati esclareceu como fica a situação do município em relação à Sercomtel após o processo de desestatização. Na terça-feira (18), a telefônica foi arrematada pela Bordeaux Fundo de Investimentos em Participações Multiestratégia, em leilão na B3, e dentro de 90 dias a nova administração deverá assumir o controle acionário da companhia. Com a mudança de gestão, a Prefeitura de Londrina deixa de ter participação nas ações da operadora, se exime do pagamento de uma dívida de R$ 30 milhões e deverá receber R$ 6 milhões em dividendos.

Ao arrematar a Sercomtel, a Bordeaux, representada pela Planner Corretora de Valores S.A., se comprometeu a fazer um aporte de R$ 130 milhões na operadora e aplicou um ágio de 900% sobre o valor das 38 milhões de ações ordinárias. O preço por ação exigido em leilão era de R$ 0,01 e a investidora irá pagar R$ 0,10, o que deve representar um rendimento de quase R$ 4 milhões à Prefeitura de Londrina e à Copel, hoje as maiores acionistas da telefônica.

Os R$ 130 milhões serão investidos na própria companhia e após o aporte financeiro, a Bordeaux ficará com 97,4% da empresa, segundo simulação feita pela prefeitura. Os outros 2,6%, divididos entre o município, a Copel Telecom e os sócios minoritários, deverão ser adquiridos pela nova gestão, conforme determina o edital do leilão, e o valor da venda será dividido entre os acionistas. Quando concluído todo o processo, a investidora assumirá integralmente o controle acionário da Sercomtel.

Até a conclusão desse processo, informou a prefeitura, não haverá mudanças no quadro de funcionários, mas após a desestatização, essa decisão caberá apenas à nova gestão. Um comitê foi formado entre representantes da Sercomtel e da investidora para fazer a transição. “As soluções que buscamos até agora eram para a manutenção da empresa em Londrina, uma empresa com uma importância econômica imensa para a cidade. (O leilão) foi a melhor opção para que isso seja mantido. Esse investimento de R$ 130 milhões implica a ampliação de oportunidades de negócios, recolhimento de tributos, geração de emprego e renda”, destacou o presidente da Sercomtel, Cláudio Tedeschi, durante a coletiva. O projeto de lei aprovado pelo Legislativo autorizando a desestatização da companhia assegura a permanência da sede da operadora em Londrina.

Segundo ele, o aporte de R$ 130 milhões também deve se reverter em investimentos tecnológicos que tornarão a empresa competitiva. “Já temos discussões para parcerias na área do 5G. Tudo isso deve acontecer agora porque todos esses projetos dependiam de recursos para investimentos.”

Belinati explicou que durante a construção do projeto de venda da Sercomtel, a prefeitura comprou as ações da Sercomtel Iluminação e da Contact Center e a Bordeaux terá que doar essas ações para o município, que terá 100% do controle acionário das duas companhias. No edital do leilão constavam apenas os serviços de telefonia e internet.

O prefeito fez questão de ressaltar que o passivo de dívidas trabalhistas e tributárias da Sercomtel poderia chegar a R$ 600 milhões, conforme avaliação feita pela consultoria Ernst & Young, contratada pela Copel, o que comprometeria a saúde financeira não só da operadora, mas de todo o município. No início do ano, após a primeira tentativa de leiloar a Sercomtel, que não se concretizou por falta de investidores interessados no negócio, uma consultoria avaliou a companhia em R$ 170 milhões negativos. Com a concretização do leilão na terça-feira, Belinati voltou a destacar que o município fica livre da dívida de R$ 30 milhões que tinha com a Sercomtel e do risco de ter de arcar com uma dívida de R$ 600 milhões. “O fundo investidor assume as coisas boas, mas também assume os passivos existentes.”

Além disso, outros R$ 6 milhões devem entrar no caixa da prefeitura, sendo R$ 2 milhões referentes a parte do valor da venda das ações ordinárias ao fundo investidor e R$ 4 milhões pelas ações da Copel Iluminação e da Contact Center.

A prefeitura não deu detalhes sobre o fundo Bordeaux, mas segundo o procurador-geral do município, João Luís Esteves, a empresa é controlada pelo Banco Central, como qualquer outro fundo de investimento. “Parece um fundo bastante sólido”, disse. Representantes da empresa deverão vir a Londrina em breve.

A FOLHA entrou em contato com a Planner, representante da Bordeaux, mas foi informada pela assessoria que questões legais impedem a empresa de se pronunciar sobre a transação antes do dia 25 de agosto, quando acontece a homologação do leilão.

Sinttel acompanha situação dos trabalhadores

Durante entrevista coletiva nesta quarta-feira (19), o presidente da Sercomtel, Cláudio Tedeschi, deixou claro que o município só terá autonomia para decidir sobre os rumos da companhia pelos próximos 90 dias, quando o fundo Bordeaux deverá assumir integralmente o controle acionário da empresa. Concluída a transição da gestão, todas as deliberações passam a ser de competência dos investidores, o que inclui as decisões sobre o quadro de funcionários.

Segundo o diretor-regional do Sinttel (Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do Paraná), Sandro Marochi, a entidade realizou todos os esforços para que a venda não acontecesse, mas quando percebeu que o leilão seria inevitável, tratou de agilizar a renovação do acordo coletivo da categoria, garantindo benefícios e direitos já conquistados e que estão acima da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). “Não estamos discutindo nada por enquanto porque não sabemos quais as intenções da empresa, mas ela terá que respeitar o acordo que foi renovado por um ano. Agora, temos que esperar esses 90 dias, até a transição da gestão, para saber qual caminho a empresa irá seguir.”