Juro cobrado de clientes pelos bancos, na ponta, ainda é super alto, diz Kanczuk
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terça-feira, 29 de outubro de 2019
Fabrício de Castro
O economista Fábio Kanczuk, indicado para a Diretoria de Política Econômica do Banco Central, afirmou nesta terça-feira, 29, que, apesar do recuo da Selic ao longo dos anos, o juro cobrado dos clientes pelos bancos, na ponta, ainda é "super alto". "De longe, o primeiro tópico de relevância é a redução dos juros na ponta", comentou aos senadores da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). "Se eu tiver a honra de ser aprovado por essa comissão, pelo Senado, a preocupação número um é essa: redução de juros na ponta", disse.
Kanczuk afirmou ainda que o próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, também diz que a tarefa número um da autarquia é reduzir juro na ponta. "Entre as razões do spread, está a inadimplência, que responde por mais de um terço de juros na ponta", comentou o economista.
O spread corresponde à diferença do custo de captação dos bancos e o que é efetivamente cobrado dos clientes em empréstimos e financiamentos bancários.
De acordo com Kanczuk a segunda razão para o spread é o custo administrativo. Já a terceira está ligada ao custo dos compulsórios e dos impostos. A quarta razão para o spread ser elevado no Brasil, conforme o economista, é a margem de lucro dos bancos, em torno de 15%.
"Para resolver o problema da inadimplência, tenho que reduzir a informação assimétrica dos bancos", comentou Kanczuk. "Se a instituição financeira não souber se ele (cliente) é bom ou mal pagador, cobra juro maior", exemplificou.
Estabilidade monetária
O economista afirmou também que "é com estabilidade monetária que convergiremos para taxas de juros a níveis mais adequados, seguindo sempre firmes no objetivo de contribuir para um ambiente de crescimento econômico sustentável".
Kanczuk defendeu ainda que "o Banco Central tem assegurado um sistema financeiro sólido e eficiente, capaz, entre outras funções, de prestar serviços financeiros adequados à população, de permitir um planejamento e gerenciamento adequado dos riscos financeiros, uma intermediação eficiente de recursos, contando sempre com regulação prudencial e com supervisão abrangente e profunda, reconhecidas por sua eficácia e sucesso".
Cadastro positivo
Questionado por senadores sobre o fato de o cadastro positivo ainda não ter promovido a redução de juros aos clientes de bancos, o economista disse concordar que "até agora não deu para ver nada do cadastro positivo". Ele lembrou, no entanto, que para o cadastro positivo ser bem sucedido é necessário que se forme uma base de dados, a ser consultada pelas instituições financeiras na concessão de crédito.
Kanczuk defendeu ainda que, para que os juros caiam no Brasil, a obtenção de garantias das operações de crédito, pelos bancos, ocorra "de forma rápida e integral". "Em geral, consegue-se pegar menos de 50% das garantias de crédito, depois de quatro anos", comentou.
Cheque especial e cartão de crédito
O economista demonstrou ainda preocupação com o fato de que os juros do cheque especial e do cartão de crédito no Brasil estarem acima dos 300% ao ano. "Cheque especial e rotativo têm juros mais elevados e são regressivos, prejudicam os mais pobres", afirmou. "Quem recorre a produto emergencial de crédito é cidadão com menos educação", acrescentou Kanczuk, defendendo a eliminação de "subsídios cruzados" que, segundo ele, prejudicam o custo dos produtos emergenciais.
Fábio Kanczuk participa nesta terça-feira de sabatina na CAE do Senado. Formado em engenharia eletrônica, Kanczuk tem mestrado e doutorado em economia. Ele será o substituto de Carlos Viana de Carvalho na Diretoria de Política Econômica do BC. Viana deixou o cargo recentemente e cumpre período de quarentena.