Jovens lideram busca por cartões de crédito
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Mie Francine Chiba <br> <br> Reportagem Local
Com pouca experiência no mundo das finanças, o jovem que adquire o seu cartão de crédito pode acabar se comprometendo com as parcelas cobradas no começo do mês. De acordo com pesquisa realizada este ano com cerca de 300 mil Cadastros de Pessoa Física (CPF), a inadimplência aumentou 8% nos primeiros quatro meses após a aquisição deste meio de pagamento.
Diante deste quadro, a conclusão da Serasa é que a maior parte dos CPFs que solicitam um cartão de crédito integram o segmento chamado de ''periferia jovem'', formado por jovens trabalhadores de baixa renda e baixa qualificação, estudantes de periferia e famílias assistidas. Os cadastros se enquadram, em maior número, na classe E.
No grupo de novos entrantes, ou seja, aqueles que realizam pela primeira vez uma consulta na Serasa para a obtenção de um cartão de crédito, este cenário se repete. São os jovens de até 25 anos de idade pertencentes à classe E que se destacam em número.
Para o professor João Basílio Pereima, do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), esse perfil apontado pela Serasa Experian é o mais vulnerável ao cartão de crédito e também à inadimplência. Ele aponta que esse público possui pouco conhecimento e informações sobre finanças, taxa de juros e regras do sistema, mas que tem se beneficiado com o aumento de empregos no País. ''Com o emprego, o jovem consegue ter um pouco mais de renda e, o primeiro passo, é satisfazer as suas necessidades de consumo, o que antes não podia'', diz.
Outro fator que torna o jovem mais vulnerável aos riscos do cartão de crédito é a sua forma natural de tomar decisões. ''É o tipo de atitude pouco racional e muito emocional. O cartão de crédito entra aí como meio. Em uma única compra, ele tem acesso a um conjunto de bens a que não tinha acesso antes'', observa.
De acordo com ele, por todos esses fatores, o jovem da classe E pode se endividar desproporcionalmente em relação à sua renda. Já para o especialista em finanças José Eroni Fernandes, de Londrina, o cartão de crédito tem duas características que podem levar a gastar mais: o socorro na hora em que não se tem dinheiro e o seu fator anestésico. ''Na hora de gastar, a pessoa não sente.''
O professor João Basílio Pereima alerta ainda que as maiores bandeiras de cartão de crédito do Brasil cobram taxas de juros de 150% a 180% ao ano quando o consumidor decide não pagar suas faturas integralmente.
Dicas
A primeira recomendação dada por Fernandes para quem está entrando no mundo do cartão de crédito é não adquirir um limite que exceda a sua renda. A seguinte é ter um controle rígido sobre os gastos que recaem sobre a fatura. Para isso, o acompanhamento dos gastos pela internet ou mesmo por meio dos comprovantes emitidos pela máquina de cartão é um hábito a ser adquirido.
Na visão do professor da UFPR, o principal conselho é pagar o valor acumulado durante o mês integralmente no mês seguinte e evitar os juros exorbitantes do parcelamento da fatura. Além disso, o valor a ser pago não deve ultrapassar a metade do salário recebido no mês.
Mas o melhor conselho ainda é pagar à vista. Mesmo quando a loja diz que o preço parcelado ou à vista é o mesmo, os custos financeiros que recaem sobre as prestações podem estar sendo omitidos. Na opinião do professor, essa pode ser uma jogada de marketing para atrair aquele consumidor que não tem dinheiro na hora, mas deseja adquirir o produto.