JOELMIR BETING
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003
Todos os problemas tecnológicos de hoje
são as soluções tecnológicas de ontem.
Gary Hamel, consultor americano
Meia-volta, volver
A digestão de jibóia dos entulhos da bolha pontocom/datacom/telecom está chegando ao fim. O ainda estressado bigbusiness das novas tecnologias da informação (TI) ensaia entregar o bastão avariado a uma nova onda de soluções interativas já na idade das tecnologias da comunicação (TC).
Consultores do ramo sustentam que o megamercado das inovações tecnológicas, que chegou a desfilar o crachá presunçoso de Nova Economia, ainda não sabe como se faz a coisa certa. Mas já é uma grandeza o número de pessoas, de empresas e até de governos que já sabem como se faz as coisas erradas.
Vai daí que os negócios chipados começam a dar a volta por cima da desilusão das últimas mil e uma noites. Pesquisa da Giga Information Group, divulgada terça-feira, revela que os investimentos das empresas americanas em TI/TC voltaram a crescer em 2002, rompendo o viés de baixa apurado em 2001. Expansão modesta de 2,1%, longe da média de 14% ao ano no qüinqüênio da irrational exuberance de 1995/99.
As inversões somaram US$ 725 bilhões. O setor público, atiçado pelas áreas de Saúde, Educação e Defesa, aplicou US$ 123 bilhões.
Na faixa das 1.500 maiores empresas, a fatia de TI/TC voltou a situar-se, em média, acima de 2,5% do faturamento bruto.
Aqui no Brasil, a coisa não tem passado de 1%. Fonte: Perfil da Empresa Digital 2002, pesquisa divulgada ontem, realizada pela Fipe, em parceria com a Compuware, por encomenda da Fiesp. As médias empresas investiram, em média, R$ 310 mil. As pequenas, R$ 36 mil. As grandes, R$ 2,1 milhões.
Muito ou pouco para o estágio verde-amarelo? O suficiente para um Brasil que acaba de ser promovido do 38.º para o 29.º lugar no ranking global do World Economic Forum, divulgado anteontem. Intitulado Relatório Mundial de Tecnologia da Comunicação e Informação 2002/2003, o documento mede a pulsação de cada economia nacional em TI/TC.
A metodologia dá maior peso à pontuação de cada país em infra-estrutura de telecomunicações, em desempenho de mercado, em ambiente político e em modelo regulatório. Mas as melhores notas do Brasil estão na informatização do sistema financeiro e no chamado governo eletrônico. Neste quesito, somos hoje o 8.º melhor do mundo.
No ranking global, os Estados Unidos acabam de perder a liderança para a Finlândia - abstraindo-se as dimensões e as complexidades da sociedade americana. Em 29.º lugar, o Brasil lidera na América Latina. Em segundo, o Chile (35.º); em terceiro, a Argentina (45.º); em quarto, o México (47.º).
Nos usos da internet, especificamente, estamos estacionados na 24.ªposição. Com ênfase na inclusão digital de empresas e de governos. No sistema educacional, não figuramos entre os 50 mais bem equipados.
Secos & molhados
Na berlinda
Para os consultores do World Economic Forum, o relançamento dos negócios de TI/TC vai depender do grau de convalescença nas duas pontas da cadeia tecnológica: o das telecomunicações (telecom) e o da internet (pontocom).
Em apuros
A base das teles continua no contrapé do endividamento e da descapitalização em todo o mundo. Elas tiveram de dar passos maiores que as pernas no triênio 1997/99. A ponta da Web transita da quebradeira da primeira onda para a vigília da segunda onda: a da banda larga verdadeiramente larga. Coisa para 2007. No mais tardar, 2010.
Em marcha
O meio-de-campo da computação ou da informática (datacom) volta a abrir suas asas sobre nós. A dinâmica do negócio está na criação de necessidades desnecessárias que se tornam absolutamente imprescindíveis no lançamento de cada uma delas.
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