‘‘Um bilhão de dólares já não são o que costumavam ser.’’
Howard Hughes (1905-1976), magnata americano
Cólicas do ramo
Nova York – Para as bolsas americanas, a importância das eleições municipais no Brasil é exatamente a mesma das eleições presidenciais nos Estados Unidos. Ou seja: importância nenhuma.
Wall Street está plugada na crise intermitente do Oriente Médio, na cotação ciclotímica do petróleo, nos resultados trimestrais das grandes empresas da Nyse e nos ajustes baixistas das estrelas pontocom da Nasdaq.
Para os investidores e respectivos consultores, o quase empate técnico de Gore/Bush desperta menos atenção que a decisão em ‘‘play off’’ do campeonato nacional de beisebol entre as duas equipes aqui de Nova York – Yankees e Mets. Algo que não ocorria desde 1956. Com direito a editoriais em série do The New York Times.
O futuro presidente dos Estados Unidos vai ter de administrar doces problemas: 1) manter nos trilhos da prosperidade econômica (com estabilidade monetária) a locomotiva de US$ 10 trilhões; 2) dar destino adequado a um superávit orçamentário da ordem telúrica de US$ 4,2 trilhões até 2009.
Nos comícios corpo a corpo e nos debates televisivos, os dois gladiadores não estão conseguindo desequilibrar o jogo. Com ligeira vantagem nas pesquisas, o republicano Bush divide as futuras sobras de caixa do Tesouro de modo salomônico e populista: metade para o reforço dos programas sociais e metade para a redução dos impostos e encargos das famílias de baixa renda.
O democrata Gore insiste numa repartição menos palatável: metade para a ampliação dos programas de educação e seguridade social e metade para o resgate parcial da dívida pública interna e externa. Um programa de formiga em estação de cigarra.
Para as bolsas, Bush e Gore não têm luz própria pessoal nem massa crítica partidária para desviar a economia e a sociedade do já prolongado ciclo de Felicidade Nacional Bruta. Democratas e/ou republicanos na Casa Branca e no Congresso igualmente não fazem diferença no discurso para uso externo.
Pela primeira vez em quatro gerações, os americanos vão para a cama sem purgar o medo não confessado de uma guerra mundial pela madrugada. O Império Vermelho do Mal veio abaixo sem levar um tiro. Ou um míssil. O planeta amarelo da China está cooptado por acordos bilaterais de comércio e segurança. E o Oriente Médio vai continuar em guerra tribal pelo menos até o Juízo Final.


SECOS & MOLHADOS