Joelmir Beting
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 20 de abril de 2000
Joelmir Beting
O homem moderno não é o grande mestre feiticeiro que julgava ser. É um aprendiz de feiticeiro que não sabe como desligar o que ligou.
Thornton Wilder, escritor americano
Pontocom.com S.A.
A nova economia não substitui a velha economia. Ela simplesmente moderniza e fortalece a velha economia. E torna-se, cada vez mais, refém dela. Que o diga o teatro de guerra do comércio eletrônico. As lojas virtuais (on-line) obrigam-se a celebrar leoninos contratos de parceria com as empresas de logística que operam os mercados reais (off-line). Antes que se transformem em micos de bolsa do tamanho de um gorila.
Logística. Eis a palavra da vez. Que bicho é esse? Nada além das velhas e competentes empresas de distribuição no atacado e no varejo, servidas por velhas e azeitadas empresas de transporte de cargas, por velhas e recicladas empresas de gestão de depósitos ou estoques, por velhas e respeitadas empresas de correios e malotes... Em suma: toda uma operação em cadeia que vai do mouse numa ponta ao motoboy na outra.
Este, sujeito a multas, chuvas e tombos da vida real em pleno advento da Idade Digital. As lojas virtuais feitas de bites, que vendem produtos físicos feitos de átomos, descobrem-se a bordo de uma miragem no deserto. Vender é fácil. Basta um clique a qualquer hora da noite, de qualquer dia, em qualquer lugar. O difícil é garantir os suprimentos, administrar os estoques, monitorar as faturas e realizar as entregas. E o que dizer da coleta e retorno das reclamações?
As ditosas promessas da economia em rede, com sua mágica de lucros não-decrescentes, começam a ser questionadas pelas limitações físicas e operacionais das deseconomias de escala da velha economia da massa, do espaço e do tempo (os três fundamentos do Universo). Uma percepção coletiva ainda incipiente ou imprecisa, mas que já produz os primeiros calafrios nas mesas e nos cofres de Wall Street (movidos a Nasdaq).
Felizmente, as mesmas tecnologias que fazem a ossatura da nova economia estão robustecendo a musculatura das empresas de logística da velha economia. E não apenas das gigantes americanas UPS, Fedex ou DHL. Também dos atacadistas e das transportadoras brasileiras, começando pela estatal dos Correios, dona do ágil Sedex. Esse ecossistema de sinergia em logística de distribuição é que está encorajando o e-commerce de lojas físicas e de fábricas idem.
O Grupo Martins, de Uberlândia, MG, maior do ramo, com receita anual de R$ 1,3 bilhão, vem aí com a Intecom, com sede em São Paulo. Uma subsidiária de logística real a serviço do comércio digital pela Internet: aquisição, estocagem, transporte, seguro, entrega e pós-venda. Uma Intecom no rodapé da Pontocom.com S.A.
Secos & Molhados
Digitalização
- Os mercados de maior inclusão na Internet são os de produtos físicos que podem passar de átomos para bites. Com transporte virtual em tempo real: discos, vídeos, filmes, livros, jogos eletrônicos e programas de computação.
Ultrapassagem
- Em tais mercados, segundo a Harris Interactive, as vendas on-line já superam as vendas off-line no varejo americano. Incluídas as versões para entrega física. Na média, a relação já é de US$ 1,38 on-line para cada R$ 1,00 off-line.
Canibalização
- A filial on-line ensaia superar a matriz off-line nas grandes redes americanas de varejo. Um processo de canibalização consentida e monitorada, levado à conta da sobrevivência pura e simples do negócio.
Clonagem
- No Brasil, o mesmo fenômeno começa a ser encarado pelas Lojas Americanas e pelo Grupo Pão de Açúcar. Até a Avon, com mais de 650 mil demonstradoras de porta em porta, entra de clique na Web.