‘‘Quem diz que os negócios vão melhorar é otimista. Quem diz que vão piorar é analista. Só o segundo é levado a sério.’’
Christopher Quick, banqueiro americano
O vôo da águia – 2
A produtividade média da economia americana cresceu 3,2% nos anos 90 contra 1,6% nos anos 80, revela estudo da Brookings Institution, de Washington. Ela responde por um terço do crescimento continuado do PIB, já pelo 107º mês consecutivo. E, seguramente, por metade da contenção sustentada da temível inflação de demanda.
É o mais longo ciclo de prosperidade econômica com estabilidade monetária na história do capitalismo opulento made in Usa e abusa. Ano passado, o PIB reacelerou para a média anual de 4,3% (3,7% no ano anterior). A dólar médio de julho, deve ter ficado ao redor de US$ 9,5 trilhões, calcula o Departamento do Trabalho.
A renda real do trabalho, segundo a mesma fonte, deve ter crescido 2,4%, já descontada a inflação de 2%. Ou seja: o trabalho apropriou-se de três quartos dos ganhos de produtividade das empresas. Com direito a desemprego mínimo de 4,1%, meramente friccional. Tecnicamente, um estado onírico de quase pleno emprego.
Yes. Fábricas na Califórnia estão recusando encomendas por falta de mão-de-obra. Pela teoria dos livros, quando os empregos abundam, os salários aumentam, acionando o motor de ignição do reajuste dos preços. E tome puxão de orelhas do monetarismo enrustido do Federal Open Market Committe, do Fed, reunido desde ontem ao redor de Alan Greenspan, o ‘‘senhor dos mercados’’ .
O dedo em riste do Fed atiça os juros, aflige as bolsas e espeta as bolhas. Ou os bolhas. Mas só por dois ou três dias, como é da rotina da ‘‘irrational exuberance’’ desde 1996. O povão americano, metade dele com pé-de-meia recheado de ações e fundos de ações, não se deixa levar pelas carrancas de Greenspan, provecto por necessidade. Nem pelas paranóias de Wall Street, volátil por vocação.
Resultado: o nível de confiança dos consumidores para os próximos seis meses, medido mensalmente pelo Conference Board, subiu em janeiro para 144,7 pontos. Superou o recorde de 142,3 do distante outubro de 1968 (então no 104.º mês de expansão). Ora, sem a reversão das expectativas otimistas dos consumidores (com insopitável propensão ao consumo) os doutos do Fed lembram a fábula apache das formigas aboletadas em tronco que desce o rio: cada uma delas pensa que está dirigindo o tronco...
Euforia coletiva cacifada por garantia de empregos, aumento de salários e ganhos anuais de 24% em ações, desde 1995. Um círculo virtuoso, xingado de hedonista, do tipo ‘‘eu consumo; logo, existo’’. Agora, com doce releitura: ‘‘Eu consumo; logo emprego.’’




Secos & Molhados
Desemprego?
- Choques de modernização e de competitividade destruíram 43 milhões de empregos (obsoletos) nos anos 90. Mas (re)criaram 64 milhões de novos empregos. Ganho líquido de 21 milhões. Na década, o desemprego caiu de 7,5% para 4,1%.
Pobreza?
- Sim, 12,7% dos americanos ainda vegetam na linha da pobreza ou da exclusão. Ressalva: dois terços deles são imigrantes e clandestinos, com menos de cinco anos de ‘‘casa’’. Em 1990, a pobreza era de 15,1%.
Petróleo?
- O petróleo subiu 152% em 1999 e produziu metade da inflação anual de 2,7% (1,6% em 1998). E só. Nos anos 70, o petróleo fazia 8,7% do PIB. Hoje, nada além de 2,9% (Petroleum Industry Research).
Milagre?
- Projeta-se superávit federal de US$ 1,9 trilhão para 2010. E outro de US$ 2,3 trilhões para a Previdência. Haverá cortes de impostos, em dez anos, de US$ 350 bilhões. Bill Clinton é o felizardo formigão no tronco que desce o rio...