WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Enock Benjamin morreu no dia 3 de abril por insuficiência respiratória provocada pela Covid-19. Aos 70 anos, o haitiano que morava nos EUA era um dos 1.400 funcionários do complexo frigorífico da JBS USA em Souderton, no estado americano da Pensilvânia.

Nesta quinta-feira (7), a família de Benjamin entrou com um processo contra a gigante de carnes, acusando-a de negligência. Afirma que a JBS USA falhou em proteger seus funcionários com máscaras e outras medidas de segurança e que a empresa aumentou a produção em março para satisfazer a demanda por carne bovina, suína e de aves já durante um estágio avançado da pandemia do novo coronavírus.

"Ao escolher os lucros em vez da segurança, a JBS demonstrou uma negligência imprudente aos direitos e à segurança de terceiros", diz o processo, de acordo com o jornal The Philadelphia Inquirer.

Os EUA são hoje o epicentro da pandemia, com mais de 1,2 milhão de casos e 76 mil mortes.

O caso de Benjamin é o reflexo mais dramático do impacto da Covid-19 nos frigoríficos dos EUA e pode gerar uma onda de novos processos em todo o país.

Desde o início da crise, duas dezenas de frigoríficos fecharam nos EUA e centenas de casos da doença entre funcionários foram relatados aos órgãos de saúde.

De acordo com relatório do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês), 115 instalações de processamento de carnes e aves reportaram diagnósticos de Covid-19 entre seus quadros, em 19 dos 50 estados americanos.

Dos 130 mil trabalhadores desses locais, 4.913 tiveram casos confirmados -858 deles na Pensilvânia-, com ao menos 20 mortes, uma delas a de Benjamin.

Com cerca de 60 plantas nos EUA, a JBS USA afirma que fechou temporariamente ao menos quatro delas para "contribuir com a saúde pública", mas todas já voltaram às atividades, algumas com capacidade reduzida.

O complexo de Souderton, onde trabalhava Benjamin, foi uma das instalações fechadas para limpeza e adaptações a medidas de distanciamento social em espaços compartilhados e entre os maquinários.

A morte do funcionário, porém, aconteceu enquanto a planta estava fechada para esses procedimentos, ou seja, Benjamin já tinha sido infectado antes disso.

Procurada pela reportagem, a JBS USA não havia respondido até o fechamento deste texto.

Além da JBS USA, outros gigantes das carnes fecharam algumas de suas plantas neste ano e alegam queda de produção de até 50% nos EUA. Entre elas estão a Tyson Foods e a Smithfield Foods.

Preocupado com os danos econômicos da pandemia em sua campanha à reeleição, Donald Trump decidiu intervir no setor.

Em meio ao aumento de preços da carne e à escalada do desemprego no país, o presidente assinou, no fim do mês passado, uma ordem executiva para que os frigoríficos se mantenham abertos.

Baseado no Ato de Defesa da Produção, criado em 1950 para garantir a produção nacional, Trump quer evitar problemas de abastecimento, mas a Tyson, por exemplo, afirma que a medida não deve adiantar.

Na última segunda (4), em conversa com investidores, a Tyson afirmou que sua produção de carne de porco já havia despencado 50%, diante de projeções de analistas de que as perdas podem ser ainda maiores.

A ordem de Trump dá às empresas cobertura legal e proteção contra ações de responsabilização caso trabalhadores peguem o vírus por terem que se manter em serviço.