O isolamento social imposto pelo novo coronavírus fez aumentar o volume de usuários da internet. Desde que os governos começaram a instituir a quarentena, há cerca de dez dias, as operadoras de todo o País observaram uma elevação gradual no fluxo de dados, chegando, em alguns casos, a 40%. Boa parte dessa alta foi impulsionada pelos serviços de streaming, como YouTube e Netflix. Para evitar o risco de colapso ou lentidão no sistema, as empresas adotaram algumas medidas, como extensão da capacidade, contingenciamento e redirecionamento de tráfego.

Imagem ilustrativa da imagem Isolamento social eleva tráfego de dados na internet
| Foto: Gustavo Carneiro

“Na semana retrasada, começou a subir, até chegar a 40% na semana passada. Esse percentual se mantém”, disse o diretor de Engenharia e Operações da Sercomtel, Tiago Caetano. Segundo ele, como o fenômeno foi percebido por todas as operadoras do País, houve uma conversa com os grandes geradores, como Netflix, Google e Amazon, que se comprometeram a reduzir temporariamente a qualidade de imagem oferecida aos clientes. Para quem utiliza o serviço, a redução da qualidade não deve ser notada, mas para as operadoras, faz diferença.

Além de comercializar internet, a Sercomtel vende também links para os provedores e, de acordo com Caetano, a telefônica sempre trabalhou para os clientes com 25% da capacidade total. Com o aumento do tráfego, a empresa opera entre 60% e 70% de sua capacidade. Apesar de ainda ter uma margem, a companhia tomou duas medidas. Restringiu a venda dos links de internet e comprou mais capacidade de link dos fornecedores, cujo valor do investimento não foi revelado.

“Agora, a venda dos links passa por análise técnica. Não é bloqueio de venda, mas nesse momento a venda vai acontecer mediante análise, o que antes não era feito”, explicou o diretor. Se os técnicos concluírem que a rede não irá suportar a demanda do novo cliente, a venda pode não ser concretizada. “A prioridade são os clientes Sercomtel, para que não tenham interrupção do serviço.” Caetano garantiu que não há risco de colapso nem lentidão no sistema.

Representadas pelo SindiTelebrasil (Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal), Claro, Oi e Vivo responderam que os centros de gerência de rede das empresas monitoram permanentemente o uso das redes de acesso e transporte para garantir a conectividade e acesso aos serviços digitais. Com o monitoramento, é possível implantar rotinas de contingenciamento e redirecionamento de tráfego para mitigar eventuais situações de congestionamento já que a capacidade das redes de telecomunicações não é infinita. Até o momento, disse o sindicato, não houve registros de problemas.

O IX.br (Brasil Internet Exchange) – projeto do Comitê Gestor da Internet no Brasil responsável pelos pontos públicos de troca de tráfego entre operadoras – divulgou um pico histórico há dez dias, que já foi superado. Em São Paulo, o pico de uso subiu 25% em relação ao nível de três semanas atrás. Isso demonstra que redes antes ociosas, como as residenciais, estão superutilizadas. Apesar de ser atribuído a serviços de streaming, a grande novidade desse cenário são as chamadas de voz no celular ou videoconferências, resultado de muitos profissionais que trocaram o escritório pelo home office.

Especialistas confirmam que não há possibilidade de colapso, mas lentidão, sim. “A operadora faz estatísticas contando que ninguém vai pedir 200 mega ao mesmo tempo, mas se todo mundo pede, fica lento”, destacou Tadeu Viana, diretor da Coming, fornecedora de fibra ótica. Segundo ele, grande parte da população se conecta à internet por fios da TV a cabo. Nessas estruturas, é difícil escalar mais dados do que o projetado. Na fibra ótica, o remanejamento é possível por meio de roteadores. “Apagões em redes individuais acontecem. Mas a infraestrutura que sustenta o sistema é tão distribuída territorialmente, e a quantidade de rotas para se chegar a um mesmo lugar é tão variada que é improvável que tudo colapse de uma vez só”, disse o gerente regional de Políticas para a América Latina e o Caribe da ONG Internet Society, Diego Canabarro.(Com Folhapress)

Entidades pedem medidas para agilizar instalação de antenas

Devido ao aumento da demanda de serviços de telecomunicações, dez entidades do setor encaminharam às prefeituras uma carta pedindo medidas urgentes para agilizar a instalação de antenas. Além da necessidade de se atualizar legislações municipais que impõem dificuldades à instalação de antenas, as entidades solicitam ainda a liberação das solicitações de licenciamento de antenas e fibra óptica que já foram protocolados nas prefeituras e daqueles que venham a se apresentar necessários ao atendimento à demanda.

De acordo com o Sinditelebrasil, ao todo, existem mais de 4 mil pedidos de instalação de antenas em todo o País aguardando a liberação de licenças pelos municípios. Em diversas cidades brasileiras há atraso de mais de um ano nos processos de liberação das licenças para instalação de antenas de telecomunicações, em função da burocracia de processos e de leis municipais desatualizadas.

As entidades que assinam a carta consideram que conectividade nesse período de dificuldades de deslocamento e necessidade de confinamento, é elemento chave para viabilizar as relações pessoais, de saúde, de estudo e de trabalho.

Como já foi publicado pela FOLHA, Londrina não aprova pedidos de instalação de antenas desde 2015 por falta de lei específica. Naquele ano, a lei 8.462/2001, que dispunha sobre as normas para instalação desses equipamentos, foi revogada devido à aprovação de uma nova Lei de Uso e Ocupação do Solo (12.236/2015).

Desde então, a cidade já recebeu pelo menos 240 protocolos de licenciamento para instalação de antenas, dos quais apenas alguns foram aprovados em 2015 por se tratar de um período de transição.

Segundo o secretário de Governo, Juarez Tridapalli, a redação da nova lei está passando por ajustes de modernização sugeridos pelo próprio Sinditelebrasil e deve ser encaminhada à Câmara na semana que vem.(Mie Francine Chiba/Reportagem Local)