De janeiro a setembro deste ano, as exportações paranaenses acumularam alta de 16% na comparação com igual período de 2021. Em nove meses, o Estado comercializou US$ 16,8 bilhões de dólares com o mercado externo. Apesar do crescimento, a balança comercial do Paraná acumula um deficit de US$ 195 milhões em 2022 em razão das importações, que superam as exportações. Desde o início do ano, foram US$ 17 bilhões de mercadorias compradas de outros países – 38% a mais em relação ao ano passado. Para especialistas, questões de infraestrutura e logística e falta de políticas públicas voltadas às exportações não são a única explicação, mas ajudam entender o desequilíbrio na balança, que hoje pende mais para as compras do que para as vendas externas.

Imagem ilustrativa da imagem Infraestrutura e logística desequilibram balança comercial do Paraná
| Foto: Rodrigo Félix Leal/Seil

A elevação recente dos preços no cenário internacional beneficiou os exportadores brasileiros, que conseguiram valores melhores pelos itens vendidos aos países estrangeiros, mas também encareceu os custos de importação de mercadorias e serviços. Com a alta, os resultados do comércio exterior mostram um volume maior de investimentos nas importações do que nas exportações, ainda que os indicadores sejam positivos de ambos os lados.

Entre tudo o que é importado no Brasil, em torno de 90% a 95% são para a atividade industrial. A guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em fevereiro deste ano, provocou uma crise que foi agravada no final do primeiro semestre e aumentou os custos com os insumos para o agronegócio, pressionando a pauta de importações e gerando o descompasso entre os preços de venda e de compra. O conflito no Leste Europeu expôs a enorme dependência da agricultura brasileira em relação aos fertilizantes importados. Do total desse insumo utilizado nas lavouras nacionais, 85% vêm de países estrangeiros, sendo 23% comprados diretamente da Rússia.

Os embargos econômicos impostos por organizações ocidentais ao país governado por Vladmir Putin impactou fortemente o mercado interno, em especial o setor agrícola brasileiro, que corresponde a 27,4% da economia do país e a 33,9% do Paraná, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

Mas além dos fatores internacionais, os resultados do comércio exterior brasileiro também são influenciados por questões internas, sendo a logística um dos mais importantes gargalos para a economia nacional. A dificuldade de fazer um item produzido no Brasil chegar a um país estrangeiro afeta a capacidade de venda ao mercado externo. “Mais em nível nacional do que estadual, se a gente comparar os custos de logística aqui, são muito altos e inibem as exportações e desestimulam a internacionalização das nossas empresas”, disse o economista da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Evânio Felippe.

Para uma empresa entrar ou ampliar a participação no mercado internacional não é um processo simples e envolve uma série de fatores, destacou o economista. É preciso identificar novos compradores, arcar com os custos de produção, se adequar à legislação do país para o qual a mercadoria vai ser enviada e também driblar a questão logística, que tem um peso importante nas exportações. “Tem um custo envolvido nesse processo e quando a gente compara esse custo com outros países, aqui é mais caro. Antes de exportar, o empresário deve avaliar se vai ter rentabilidade, descontados os investimentos”, afirmou Felippe.

O Paraná tem um grande potencial de crescimento no mercado externo, mas padece de um problema estrutural, avaliou Vinícius Lisboa, consultor em Negócios Internacionais da Victoria Advisoy, empresa que atua em assessoria e integração de serviços de comércio exterior com foco nas estratégias de compra e logística internacionais. Um dos aspectos mais importantes apontados por ele é a escassez dos canais de escoamento da produção paranaense. Uma das únicas vias é o Porto de Paranaguá, o que obriga alguns produtores a cruzarem o Paraná para poderem exportar suas mercadorias. “A logística do Estado deveria ser pensada para a indústria matriz de cada região. Em Londrina, por exemplo, não tem nenhum voo internacional para a Europa. Tem que ir para Curitiba, pegar um espaço, mandar para São Paulo. O caminho é muito tortuoso.”

Aliada às melhorias de infraestrutura, como a duplicação da BR-277, a construção da Ferroeste e o aumento da estrutura aeroportuária e portuária paranaense, Lisboa defende uma política de desoneração, fundamental, segundo ele, para agregar valor à produção do Estado. Reduzir as taxações que incidem sobre a importação de insumos por empresas que depois irão exportar a produção poderia tornar a indústria mais competitiva e colocar o produto no mercado internacional por valores mais competitivos e com uma regularidade maior. “É preciso trabalhar nas duas pontas. Reduzir o custo de produto e o custo logístico.”

Com um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 466,4 bilhões, o Paraná tem a quinta maior economia do país, mas em exportações ocupa a sétima colocação e para galgar posições nesse ranking, afirmou o consultor, é preciso que ocorra uma combinação de fatores. “A partir do momento que você agrega valor ao produto, precisa de mão de obra qualificada e precisa de um centro urbano para atrair pessoas. Isso é um círculo virtuoso. O nível de exportação do Paraná só vai aumentar quando tiver todo esse combo”, reforçou Lisboa.

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