Segundo analistas,os mais jovens tem uma performance melhor para o trabalho com maquinários mais novos
Segundo analistas,os mais jovens tem uma performance melhor para o trabalho com maquinários mais novos | Foto: Shutterstock


A indústria paranaense têm trocado os funcionários mais velhos por jovens, segundo dados do último boletim do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) compilados pela Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná). Houve 15,1 mil postos de trabalho abertos para a funcionários de 18 a 24 anos em 2017 e 13,3 mil, em 2018, enquanto houve fechamento de vagas nas faixas etárias acima. O movimento indica uma tentativa de empresários de pagar salários mais baixos, além de uma tendência de buscarem por funcionários mais aptos às inovações tecnológicas da chamada Indústria 4.0.

Não se trata de uma exclusividade paranaense, já que o mesmo ocorreu no Brasil. Porém, para se ter uma ideia, em 2017 somente houve geração de vagas no Estado no setor para aprendizes menores de 17 anos (3,1 mil) e para a faixa com mais de 25 e menos de 30 anos (975), além da já citada anteriormente. A partir dessa idade, foram fechados 11,7 mil empregos. No total, o saldo entre admitidos e demitidos em 2017 na indústria ficou positivo em 7,3 mil empregados.

Como ocorreu interrupção da geração de empregos na atividade terciária em 2018, com perda de 323, a mudança nas políticas de contratação ficou ainda mais evidentes. Além da faixa de aprendizes (3,4 mil), somente houve mais admissões do que demissões para pessoas com até 24 anos. Todas as faixas seguintes fecharam postos, com perda de 17,1 mil postos.

O economista Evanio Felippe, da Fiep, afirma que 34,8% das 235,7 mil admissões registradas no ano passado no setor foram de pessoas de até 24 anos. "Pensando na retomada do crescimento, a indústria tenta antecipar o movimento e contrata uma mão de obra mais jovem, para fazer frente às necessidades do futuro", diz.

Ele se refere principalmente às evoluções tecnológicas, mas não descarta uma relação com o salário maior que a vivência de funcionários mais velhos proporciona. "Os mais jovens costumam ter mais escolaridade do que os mais velhos, mas também têm um custo menor. De acordo com o perfil de cada empresa ou segmento, é possível mesclar na proporção correta para garantir a troca de experiências", completa o economista da Fiep.

Em Londrina, há casos ainda mais emblemáticos, diz o economista Marcos Rambalducci, consultor da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina) e professor da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná). "Temos uma das indústrias que mais emprega na cidade que tem trocado absolutamente todos os funcionários da fábrica por alunos da UTFPR, que entram como estagiários e depois são efetivados ou mesmo depois de formados", cita.

Para Rambalducci, a principal conclusão é que os mais jovens tem uma performance melhor para o trabalho com maquinários mais novos, sem esquecer que dependem de salários mais baixos para se sustentar. O economista lembra que o movimento também ocorre em um momento de altas taxas de desemprego, o que gera facilidade para os departamentos de recursos humanos na hora da seleção e não considera que os mais velhos estejam com os dias contados. "O trabalhador precisa entender que tem de se qualificar porque a inovação gera essa demanda."

AQUECIMENTO
Apesar do resultado negativo no geral, alguns setores apresentam números bastante positivos na geração de vagas em 2018 na indústria. Houve saldo positivo de 2,7 mil na fabricação de produtos alimentícios e bebidas, de 1,9 mil na de material de transporte e de 523 na de química de farmacêuticos e veterinários. Por outro lado, o tombo foi grande na indústria têxtil e de vestuário (-4,5 mil) e mecânica (-1,9 mil).

Para o economista da Fiep, é importante lembrar que o setor tenta se reerguer, depois de fechar 2,9 mil vagas entre 2014 e 2016 no Estado. "Há estudos que apontam que essa recuperação somente ocorrerá a partir de 2021, mas toda essa expectativa está ancorada no crescimento da economia nacional, que depende de reformas", cita Felippe.

IMPREVISTOS
Havia expectativa de abertura de vagas na indústria paranaense, mas atrapalharam as incertezas com eleições, a greve dos caminhoneiros e a crise argentina que impactou principalmente a fabricação de veículos no segundo semestre. Nesse cenário, o consultor econômico da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), Marcos Rambalducci, diz que houve um movimento mais forte de demissões em dezembro, além do que já é tradicional no setor para o período. "São comuns os desligamentos porque a indústria entrega os produtos para o fim do ano e só voltará a ter demanda a partir de meados de janeiro, então promove férias coletivas ou demissões."

Na Região Metropolitana de Londrina (RML), Rambalducci viu um impacto maior da indústria na geração de empregos pelo efeito cascata sobre outros setores. Por isso, afirma que Londrina demitiu menos do que Arapongas em dezembro, por exemplo, mas teve pior desempenho ao longo do ano. "Quando a pessoa olha apenas o desempenho da indústria não costuma pensar que gera uma circulação maior nos serviços e no comércio", diz.

Para o economista Evanio Felippe, da Fiep, a boa notícia é o interesse em contratar neste ano. "Fizemos uma sondagem no fim do ano passado e 80% dos empresários estavam otimistas, ainda que seja um retrato de momento e que possa mudar de lá para cá com a política e o andamento das reformas", diz.