Em Londrina, a indústria do vestuário sente os reflexos da greve: falta de insumos e matéria-prima
Em Londrina, a indústria do vestuário sente os reflexos da greve: falta de insumos e matéria-prima | Foto: Anderson Coelho



As indústrias de Londrina e região podem parar caso a greve dos caminhoneiros se prolongue. Devido à paralisação da categoria, muitas já sofrem com falta de insumos e matéria-prima, e não conseguem escoar, nem estocar a produção. A situação foi relatada por industriais e por entidades representativas do setor. "Todas estão trabalhando em um ritmo pequeno. Hoje, ninguém trabalha com estoques grandes. Basta um produto faltar para não conseguir tocar a produção", comenta Ary Sudan, vice-presidente da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná). Segundo ele, muitas indústrias estão dando férias coletivas ou mandando funcionários para casa para cumprir banco de horas. "Se hoje [segunda] não retornar, amanhã [terça] a paralisação de indústrias será muito grande."

Segundo estimativa da Fiep, caso a manifestação dos caminhoneiros se prolongue e haja paralisação completa das linhas de produção no Estado, as empresas deixarão de vender o equivalente a R$ 550 milhões por dia. Nesta segunda-feira (28), a entidade divulgou uma nota em que o presidente, Edson Campagnolo, pede o fim da greve. "Desde o início do movimento a Fiep afirmou que as reivindicações eram justas e defendeu que o governo federal buscasse soluções. Entendemos que as medidas anunciadas neste domingo (27) atendem à pauta de reivindicações dos caminhoneiros e, por isso, não há motivos para a continuidade dos bloqueios nas rodovias."

No domingo (27), o presidente Michel Temer apresentou proposta em que pretende cancelar a cobrança dos eixos suspensos dos caminhões nos pedágios, a redução no preço do litro do diesel em R$ 0,46 e a implantação de um valor mínimo do frete para o transporte rodoviário.

BANCO DE HORAS
Um industrial do setor do vestuário contou que, nesta segunda-feira, liberou 80 de seus 700 funcionários para cumprir banco de horas em casa. "A lavanderia está parando. Não temos lenha e produtos químicos", relata. Linha, zíperes e tecido são outros itens que faltam. Hoje, a indústria está operando com apenas 50% de sua capacidade de produção – das 5 mil peças/dia que é capaz de produzir, apenas 2,5 mil estão sendo fabricadas. A expedição também está parada, prejudicando o fluxo de caixa. "O que produzimos não sai. Fazemos dinheiro em cima das vendas."

Se nesta segunda-feira a lavanderia praticamente parou, o empresário teme que nos dias seguintes outros setores sofram as consequências em cadeia, até que, na sexta-feira (1), a indústria pare totalmente. Se a greve persistir até o final do mês, ele estima perdas de 40% em maio. Como o processo de fabricação é demorado – leva de três a quatro semanas -, isso gera um "descompasso entre a produtividade e o fluxo de caixa", ele observa. Após o retorno das atividades, o industrial diz acreditar que levará pelo menos 60 dias para se recuperar.

Georges Touma, cuja indústria do vestuário trabalha com terceirização de algumas etapas do processo de fabricação, enfrenta uma situação ainda mais limitadora, já que as empresas com as quais trabalha estão paradas. "Tenho matéria-prima, corto mas não tenho como mandar costurar." A indústria de Touma não cessou as atividades, mas ele já pensa em mandar metade dos funcionários para casa nesta terça-feira (29).

O empresário lembra ainda que não há consumidores nas ruas para comprar o produto final – devido à falta de combustível -, o que faz diminuir a demanda da indústria. Por esse motivo, clientes já estão pedindo prorrogação dos pedidos. Touma observa que os reflexos da paralisação irão além do problema de produtividade. "Com certeza vamos ter problemas, principalmente na folha de pagamento, porque não produzimos. Realmente é muito complicado para nós, para o terceirizado e para o cliente, que não recebe."

O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmou nesta segunda-feira que uma parcela da redução da tributação do diesel será parcialmente compensada pela reoneração da folha de pagamentos para 28 setores produtivos da economia. A reoneração ainda precisa ser aprovada pelo Congresso. "Não tem dinheiro novo. Vai de uma parte da balança para outra", critica Ary Sudan. "As indústrias vão ter mais um ônus."

'CAOS'
"Está um caos", disse o presidente do Sivepar Paraná (Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Vestuário do Paraná), Alexandre Graciano de Oliveira, sobre a situação das indústrias do setor. "As indústrias estão parando. Não chega matéria-prima, nem insumos, as peças produzidas não conseguimos despachar. Se o governo não tomar uma medida hoje, 20 mil trabalhadores vão ficar no banco de horas ou serão demitidos", disse, referindo-se ao número de trabalhadores que atuam no setor de vestuário da região.

Segundo o presidente do sindicato, a greve já prejudicou o resultado financeiro das indústrias do setor, que irão fechar o mês de maio no vermelho. "Sei que a causa é justa, mas agora chega. Acabou. Já está prejudicando toda uma cadeia. É hora do bom senso prevalecer e voltarmos ao trabalho." Oliveira diz considerar, no entanto, que o governo também deve "fazer a sua parte" e diminuir seus gastos a fim de atender às reivindicações dos caminhoneiros.

METALURGIA
As indústrias do setor metalúrgico de Londrina e região têm um "fôlego" maior de matéria-prima para sobreviver à greve, afirma afirma Walter Orsi, presidente do Sindimetal (Sindicato das Indústrias, Metalúrgicas, Mecânicas e de Materiais Elétricos) do Norte do Paraná. Mas também já enfrentam dificuldades devido à dificuldade de escoamento da produção."Temos um fôlego maior, a matéria-prima é nossa. Poucas estão sofrendo o problema fortemente. Mas se a greve se estender, vamos ter um problema sério. Não podemos nos esquecer que a indústria metalúrgica não está conseguindo escoar a produção, e esse está sendo o grande problema das empresas."

Orsi afirma que as indústrias do setor já enfrentavam grave problema de fluxo de caixa, com rentabilidade próxima de zero. "Como trabalhamos com rentabilidade próxima de zero, com certeza vamos amargar um percentual de prejuízo." Em uma retomada, a indústria é diferente de outros setores, observa o presidente do Sindimetal Norte do Paraná, pois sua produção está restrita à capacidade produtiva. "Não conseguimos recuperar o que não produzimos, não temos como aumentar nossa capacidade produtiva. Se a greve se prolongar, isso torna a situação insustentável."

A situação da indústria de Marcus Vinicius Gimenes já vem de outra greve - anterior à dos caminhoneiros – de funcionários de uma grande indústria automobilística cliente. "Ficamos duas semanas sem entregar para esse cliente específico." A matéria-prima só é suficiente para manter as atividades até quarta-feira (30), e por causa do tempo necessário para a retomada das atividades, Gimenes teme que, mesmo que a greve acabe até o feriado, ele tenha que dar férias coletivas a seus funcionários ou mandá-los para casa. " Mesmo que a greve acabe até o feriado, não dá tempo de fazer a logística. Não é só problema de matéria-prima. Não conseguimos fazer a expedição." O empresário estima perdas de 30% devido à paralisação. "Não vamos conseguir produzir o que deixamos de produzir. Mesmo que entregássemos o excedente, eles (clientes) não conseguiriam absorver."