As atividades dos setores da indústria e da construção civil poderão ser retomadas no município de forma gradual já a partir desta quarta-feira (15). Em seguida, na próxima segunda-feira, é a vez do comércio. Nos canteiros de obras, a determinação da Prefeitura de Londrina é para que todos os funcionários sejam monitorados com termômetros e o uso de máscaras deverá ser estendido aos demais trabalhadores uma vez que muitos já utilizam o equipamento durante o expediente. Um novo decreto, que havia sido detalhado pelo prefeito Marcelo Belinati (PP) em uma live da manhã deste sábado (11), já foi publicado no jornal oficial do município com todas estas diretrizes.

Setores poderão retomar as atividades em Londrina a partir da próxima quarta-feira (15)
Setores poderão retomar as atividades em Londrina a partir da próxima quarta-feira (15) | Foto: AEN

O presidente do Sinduscon Norte (Sindicato da Indústria da Construção Civil no Paraná), Sandro Nóbrega, avaliou que algumas medidas já estavam sendo colocadas em prática mesmo antes da paralisação das atividades e outras serão intensificadas. "A maior parte dos trabalhadores já usa máscara por causa do pó, evidentemente que os poucos que não usam, passarão a usar. Sobre a assepsia dos canteiros, o setor mudou, a mão de obra é mais qualificada, os banheiros são mais limpos, os refeitórios são bem cuidados, até porque sofremos uma intensa fiscalização do Ministério do Trabalho. Então nós também vamos intensificar as informações aos trabalhadores da construção civil", afirmou.

De agora em diante, deverá haver, também, uma alternância entre grupos de funcionários para o uso dos refeitórios de forma a garantir que operem com 50% da capacidade. Pias com água corrente e sabão, assim como estações com álcool em gel, também deverão sejam instaladas, determina a Prefeitura.

Na avaliação do vice-presidente da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Ary Sudan, não será um problema para o setor evitar aglomerações entre os funcionários e até por isso não haveria necessidade de fechar as indústrias, avaliou. "Ninguém estava preparado para esse evento. Uma indústria é obrigada a reduzir suas atividades antes de entrar no período de quarentena, tem que se preparar para não perder materiais que deterioram se ficar no meio do processo produtivo e precisa de alguns dias depois da paralisação para retornar ao seu ritmo normal, então, dez dias de quarentena para o comércio significa 15 dias para a indústria", avaliou.

Setor privado

Questionado se a empresa conseguirá medir a temperatura dos trabalhadores no canteiro de obras, o gerente regional da Plaenge, Rodolfo Sugeta, garantiu que sim. A construtora deverá retomar as atividades em seis empreendimentos em Londrina nesta semana. Dois deles estão mais avançados e empregam até 150 funcionários cada. Nos outros quatro empreendimentos, o número de trabalhadores em cada canteiro de obras gira em torno de 80 a 120 pessoas.

"Vai ser possível sim, não só o controle da temperatura como outras medidas. Algumas coisas nós já havíamos organizado e ai agora serão continuadas, como essa do termômetro. Até adquirimos máscaras, álcool em gel porque uma hora iria voltar então sabíamos destas exigências", explicou.

Uma "vantagem" da construção civil, lembrou Sugeta, é que a ampla maioria dos locais de trabalho possui área extensa e conta com boa circulação de oxigênio, o que ajuda a facilitar o espaçamento de no mínimo dois metros entre cada funcionário e dificultar a transmissão da covid-19.

Questionado se a pandemia de coronavírus acelerou alguma demanda específica da construtora, o gerente mencionou a assinatura digital para a compra e venda de imóveis e a prática do "homeoffice" para alguns setores como as principais "novidades". Já sobre possíveis demissões de profissionais de setores específicos, a avaliação foi de que a empresa deu preferência neste momento a adiantar as férias e usar o banco de horas, e que segue observando as medidas que vêm sendo anunciadas pelo Governo Federal tanto para empresários quanto para trabalhadores registrados e autônomos. "Uma das vantagens do setor é que a empresa sempre foi pé no chão e preservou um bom caixa para momentos como este", comemorou.

Dentre as "estratégias" adotadas pelos vendedores que estavam impedidos de mostrar empreendimentos ou apartamentos decorados aos clientes, o atendimento online através de videoconferências e o próprio whatsaap foram fundamentais. "Apesar que para nós uma coisa muito importante são as centrais de vendas com os apartamentos decorados para que o cliente possa materializar o tamanho do apartamento e isso faz uma diferença", ponderou.

Era pós-pandemia

Para o presidente do Sinduscon, Sandro Nóbrega, o momento requer muita atenção para que dois tipos de catástrofes humanitárias sejam evitadas. Uma está representada na crise de saúde pública e a outra de ordem econômica uma vez que o setor da construção civil na Região Metropolitana de Londrina emprega 50 mil pessoas, somente entre Apucarana e Jacarezinho. No entanto, também negou que a entidade tenha feito "pressão" sobre o prefeito Marcelo Belinati para se agilizar a retomada do trabalho. Para ele, houve respeito ao que ficou que determinado pelos servidores da saúde em Londrina, diferentemente de outros municípios brasileiros.

"A indústria e o comércio também são grandes empregadores e já tem gente passando necessidades, os pequenos. Então queremos retornar para se ter um pouco de normalidade sabendo que existem restrições e que pode haver até outra parada, mas o retorno é necessário. Sabemos que hoje os hospitais têm os leitos preparados e nós entendemos a responsabilidade do prefeito e dos servidores da saúde, não foi uma pressão comercial. Então vão ser tomadas uma série de medidas", reafirmou.

Dentre as principais demandas de médio e longo prazos para o desenvolvimento regional que devem ser "aceleradas" após a pandemia, Nóbrega citou uma modernização no marco regulatório para a aprovação de projetos e concessão de Habite-se e a modernização da máquina pública com uma estrutura mais ágil e enxuta.

"Precisa ter uma relação de confiança entre o setor público e o privada, automatização de sistemas e auto responsabilização. Eu vou lá na Prefeitura e precisa ter uma legislação clara, que qualquer pessoa que leia, entenda. Conforme você precisa ter uma estrutura mais enxuta também, ao invés de ter um número grande de pessoas, você tem que trazer outros fluxos de trabalho para aquelas que estão ali. Assim você consegue reinvestir os impostos em educação ambiental, na melhoria da coleta seletiva, nos cuidados com os fundos de vales", mencionou.

Para o industrial e vice-presidente da Fiep, Ary Sudan, o setor adequou-se às normas do Ministério da Saúde, porém o remédio "amargo" já causou o fechamento de algumas indústrias, inevitavelmente incorrerá, também, no déficit de arrecadação pública.