Na contramão dos principais indicadores sobre a atividade econômica, o IBC-Br (índice de atividade do Banco Central) cresceu 0,18% em novembro com relação a outubro. O dado veio acima das expectativas de economistas consultados pela Bloomberg, que previam queda de 0,05%.

O dado de outubro, no entanto, foi revisado para baixo (de 0,17% para 0,09%), o que alterou a base de comparação. Em 12 meses, o indicador mostra crescimento de 0,9%.

Com a surpresa positiva, a Bolsa subiu 0,24% nesta quinta (16), para 116.704 pontos. O dólar fechou a R$ 4,19 (+0,2%).

"O indicador foi influenciado negativamente pelos resultados mais fracos da indústria, dos serviços e do comércio varejista em novembro, mas sustentado pelo setor de construção civil, que apresentou expansão de 0,8% [na base mensal]. Na nossa visão, o resultado levemente acima do esperado, a despeito dos dados mais fracos em novembro, corrobora a mensagem de recuperação gradual da atividade econômica brasileira", diz relatório da XP Investimentos.

"O resultado é extremamente positivo não pelo valor em si, mas porque pega no contrapé a leitura pior de novembro que viu queda no comportamento da indústria, estabilidade nos serviços e crescimento aquém do esperado no varejo", diz André Perfeito, da Necton Investimentos.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostraram desempenho abaixo do esperado da indústria, comércio e serviços em novembro.

O economista Luka Barbosa, do Itaú-Unibanco, afirma que o indicador de atividade calculado pela própria instituição financeira mostra queda de 0,3% em novembro. Para dezembro, dados preliminares apontam contração.

Pelas séries históricas, o indicador do Itaú tem se aproximado mais dos resultados do PIB (Produto Interno Bruto) do que o índice de BC.

Segundo Barbosa, os números mais fracos de novembro podem levar a instituição a rever para baixo a projeção de crescimento do PIB de 2019, que está atualmente em 1,2%, mas a mudança deve ser marginal. Para o resultado do quarto trimestre, a expectativa já foi alterada, de crescimento de 0,6% para 0,5%.

"Principalmente por causa da contração da produção industrial. Serviços e varejo vieram em linha com o que esperávamos", afirmou.

Segundo ele, os dados confirmam a expectativa de um crescimento mais próximo de 2% do que de 3% em 2020. A instituição manteve a projeção de 2,2%, resultado que embute os estímulos da redução da taxa básica de juros dos atuais 4,5% para 4% ao ano.

"O que está acontecendo em novembro e dezembro deixa mais claro que o PIB do 1º trimestre [de 2020] vai desacelerar, algo pontual, causado pelo fim do estímulo do FGTS. Depois acelera novamente. Não altera a recuperação da economia", afirma.

Também nesta quinta-feira, o Ibre/FGV divulgou seu indicador antecedente, que subiu 1% em dezembro, puxado principalmente pelas expectativas de diversos setores, incluindo a indústria.

O superintendente de Estatísticas Públicas do Ibre/FGV, Aloisio Campelo Junior, afirma que as expectativas apontam para uma continuidade da recuperação da economia, mas sem aceleração.

"Não há sinal de reversão de tendência. Continuamos crescendo. A gente queria crescer mais rápido, mas o quarto trimestre deve vir parecido com o terceiro", afirmou.

Desemprego recuará lentamente, mas com mais vagas formais Estudo do Itaú mostra que o Brasil vive hoje um processo de aceleração na abertura de vagas com carteira assinada e de desaceleração na criação de empregos informais.

A substituição de postos informais pelo trabalho com carteira explica, segundo a instituição, a queda lenta do desemprego, que considera as duas formas de contratação.

O banco estima que a taxa de desemprego deve passar de cerca de 12% no final de 2019 para 11% em 2021. Nesse período de dois anos, espera-se a criação de 1,9 milhão de vagas formais e metade disso (950 mil) em vagas informais.

Nos últimos três anos, período marcado pelo fraco crescimento da economia, foi criado 1 milhão de vagas com carteira e 3,4 milhões de empregos informais, segundo dados verificados e estimativas do Itaú para 2019, cujos dados ainda não estão fechados.

Os dados do mercado de trabalho do Ministério da Economia e do IBGE já mostram essa mudança desde agosto do ano passado, quando a economia voltou a crescer em ritmo mais forte, e a tendência é que isso se repita neste e no próximo ano, segundo o Itaú.

Luka Barbosa, responsável pelo estudo, diz que a substituição é um processo verificado historicamente em momentos de aceleração do crescimento da economia.

"A queda lenta da taxa de desemprego esconde uma grande melhora no mercado de trabalho em termos de composição. Se uma pessoa saiu do emprego informal e veio para o emprego formal, a vida dela melhorou, houve aumento da renda. É uma queda no emprego de pior qualidade."

Ele afirma ainda que a recuperação do emprego formal ajuda a confirmar que economia está realmente mudando de patamar de crescimento.

O histórico do mercado de trabalho mostra correlação negativa entre empregos formais e informais. O trabalho sem registro cai quando a atividade econômica avança. A criação de empregos formais, por outro lado, acelera.

A queda do desemprego em taxas significativas, como ocorreu de 2004 a 2010, se deu em anos de crescimento acima de 5%. A projeção do Itaú é uma expansão de 2,2% em 2020 e 3% em 2021.

Em 2010, por exemplo, o desemprego caiu 1,1 ponto percentual, praticamente o que a instituição projeta para a queda, somada, em 2020 e 2021. Na época, no entanto, a economia cresceu 7,5%.

O Itaú estima uma taxa de desemprego de equilíbrio de 10%.