Curitiba - Depois de dois anos em baixa, a inadimplência do consumidor fechou 2011 em alta de 5,34%. A informação foi divulgada ontem pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com base em dados do Serviço de Proteção ao Cédito (SPC Brasil). Esse resultado ''em vermelho'' é consequência de 11 elevações consecutivas da taxa em 2011. A última alta registrada ocorreu em dezembro, quando houve expansão de 2,29% sobre os resultados do último mês de 2010.
Para o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior, a inadimplência cresceu em 2011 como resultado da instabilidade econômica provocada pela crise financeira internacional e por conta das consequências que essa crise gerou no humor das economias, como a perda da confiança de empresários e consumidores.
Por meio de sua assessoria, Pellizzaro Junior criticou a condução da política monetária nos primeiros meses de 2011, com cinco elevações consecutivas na taxa básica de juros. Ele acredita que isso foi preponderante para consolidar um quadro de maior endividamento das famílias, em função do custo mais caro do crédito e do estancamento das linhas de financiamento de longo prazo. ''Tivemos juros mais altos e inflação persistente durante todo o ano, e isso gerou um impacto significativo no poder de compra do brasileiro'', disse.
O consultor econômico da Associação Comercial do Paraná (ACP), Claudio Shimoyama, avalia que o ano de 2011 foi diferente de 2009 e 2010, quando a taxa de inadimplência do consumidor teve índices baixos. A diferença, na opinião dele, deve-se à crise econômica internacional, que gerou instabilidade econômica e queda na confiança dos compradores. Ele também concorda que a alta da inflação e dos juros contribuiu para que mais pessoas deixassem de pagar suas dívidas.
Shimoyama lembra ainda que muitas famílias acabaram se descontrolando financeiramente por causa do incentivo ao consumo e da maior oferta ao crédito. Mas o consultor avalia que 2012 será diferente e acredita que a próxima pesquisa de inadimplência dos primeiros meses deste ano pode apontar uma queda, pois as pessoas devem ter usado o décimo terceiro salário e o dinheiro das férias para pagar contas em atraso. ''Pesquisas mostram que a maioria dos inadimplentes pretende pagar a sua dívida para voltar a comprar a crédito'', diz.
O consultor da ACP afirma que não há motivo para pessimismo e lembra que a tendência é de um bom crescimento do comércio em 2012, motivado pelo aumento real do salário mínimo. Shimoyama orienta os comerciantes a convidarem os seus clientes com débitos a negociarem a dívida, prática pouco usada hoje pelos lojistas. ''Às vezes são duas ou três parcelas em atraso. Não é difícil negociar'', diz. ''Os comerciantes têm que ter controle dos clientes inadimplentes e gerenciar essas contas. Não é só o cliente devedor que deve ir atrás das lojas.''
O cenário econômico internacional apontando para instabilidade também influenciou nas vendas a prazo (cheque pré-datado ou crediário), que registraram crescimento tímido em 2011, ficando em 4,79% sobre o anterior. Em 2010, o mesmo índice havia marcado elevação de 8,25% no acumulado de 12 meses.
No que se refere aos cancelamentos de registros, que dão medida ao nível de recuperação de crédito no varejo, o resultado do ano também foi mais tímido em 2011, com alta de 4,94%. Um ano antes, esse índice havia variado positivamente em 5,69%.