Embora o índice de inadimplência em Londrina tenha ficado negativo nos primeiros cinco meses do ano, com -1%, nos dois últimos meses avançou o número de consumidores que não conseguiram quitar suas dívidas e entraram para o cadastro de devedores. Após um aumento de 4% em abril, os dados do SPC/Acil (Sistema de Proteção ao Crédito da Associação Comercial e Industrial de Londrina) referentes a maio apontaram nova alta, de 15%. A base de comparação são os mesmos meses de 2022.

No mês passado, também caiu o número de consumidores londrinenses que conseguiram renegociar suas dívidas e “limparam” seus nomes. Também na comparação com maio de 2022, foram 6% a menos de pessoas nessa situação. No acumulado do ano, o percentual ficou 2% abaixo do que em igual período do ano passado.

Assessor econômico da Acil e coordenador do NuPEA (Núcleo de Pesquisas Econômicas Aplicadas), Marcos Rambalducci atribui o crescimento das vendas do comércio à alta da inadimplência. “A pandemia como um todo vem reagindo no pós-pandemia e quando são mais consumidores indo às compras, mesmo que a proporção de quem não consegue pagar suas contas se mantenha, o número absoluto de inadimplentes vai aumentar.”

Há que se considerar ainda a inflação, especialmente dos alimentos, que obriga a população a escolher entre comprar comida e pagar as contas, destacou o economista. “Mesmo com a inflação dando sinais de desaquecimento, a perda de poder aquisitivo dos salários já ficou estabelecida e esta é outra causa para o aumento da inadimplência”, afirmou Rambalducci.

O Desenrola Brasil, programa do governo federal que promete auxiliar os brasileiros a quitarem suas dívidas, é aguardado com ansiedade pelos consumidores e pelo setor varejista como uma possibilidade de renegociação de dívidas e ampliação da base de consumidores com capacidade de tomar crédito. “Todos os que devem menos de R$ 100 terão seu nome retirado da restrição ao crédito. Não que a dívida lhes foi perdoada, mas o nome deles não mais constará como inadimplentes”, pontuou o economista.

O programa prevê ainda que os consumidores com renda de até dois salários mínimos e dívidas de até R$ 5 mil tenham a oportunidade de negociar com seus credores, caso estes aceitem participar do programa e se sujeitar às regras de descontos que precisam oferecer. “Estas duas medidas precisam ser vistas com muita cautela porque o fato de terem seu nome excluído do cadastro de inadimplentes não significa que deixaram de dever ou que aumentaram seu poder de compra. O cuidado precisa vir justamente deles de não comprometerem mais sua renda em função de passarem a ter acesso a crédito e correrem o risco de acumularem mais dívida ainda”, alertou Rambalducci.

A principal causa da queda nas vendas do comércio, disse ele, é a falta de renda disponível, fator relacionado ao alto comprometimento da renda familiar, ainda que essa família não esteja inadimplente. “Vale lembrar que, em maio, somente pelo SPC/Acil, eram mais de 95 mil consumidores com restrição ao crédito e este número deve representar algo como 50% do total de inadimplentes. Estes números ajudam-nos a entender por que o volume de vendas tem sido inferior às expectativas.”

PARANÁ

No Paraná, a inadimplência segue elevada, mas demonstra tendência de queda, apontou a PEIC (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), realizada mensalmente pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) e pela Fecomércio-PR (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná). O estudo mostrou que, em maio, em um universo de 94,1% de famílias paranaenses endividadas, 19,3% estavam com contas em atraso e 5,7% não tinham condições de quitar as dívidas contraídas. O índice aponta sinais de queda, tanto em relação a abril de 2023 quanto em relação a maio do ano passado.

Na comparação com a média nacional, a inadimplência no Paraná também está menor. A mesma pesquisa apontou que das 78,3% das famílias brasileiras endividadas, 29,1% tinham contas em atraso no mês passado e 11,8% declararam não ter condições de pagar.

O Paraná ocupa o primeiro lugar no ranking nacional de endividamento, mas na classificação dos estados em que as famílias têm mais contas em atraso, está na 23ª colocação e na 18ª posição da lista dos que não terão condições de pagar. “Estamos com uma série de parcelas contraídas, com endividamento, mas há um percentual grande de pessoas que estão pagando em dia. São poucas as que não vão conseguir pagar seus compromissos”, avaliou o coordenador de Desenvolvimento Empresarial da Fecomércio-PR, Rodrigo Schmidt.

A PEIC revelou que o endividamento cresceu entre a população com maior renda. Entre as famílias com ganhos mensais acima de dez salários mínimos, 95,8% possuíam algum tipo de dívida em maio, contra 93,7% daquelas cuja renda não ultrapassa os dez salários mínimos.

O cartão de crédito concentra 80,8% das dívidas dos paranaenses, seguido pelo financiamento da casa, com 8,3%, e o financiamento do veículo, com 7,5%. “Vemos que as pessoas não estão só pagando as despesas básicas de sobrevivência e estão investindo em bens de maior valor”, disse Schmidt.

No último mês de maio, a inflação oficial do país, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), mostrou desaceleração, com alta de 0,23%, a menor desde setembro de 2022. No acumulado em 12 meses, a taxa foi a mais baixa desde outubro de 2020, com 3,92%. No Paraná, os índices de emprego também estão melhores, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego. Em abril, o saldo de vagas foi de 9.429, o melhor desempenho para o mês dos últimos quatro anos e o terceiro consecutivo de elevação dos postos de trabalho.

Esses dois fatores, combinados, associados a uma possível queda nos juros, ajudam a elevar a capacidade de consumo da população e a tendência é que a inadimplência caia. “A inadimplência tem a ver com o desenvolvimento da economia e com o mercado de trabalho. Estando empregadas, com maior capacidade de consumo, as pessoas tendem a sair da inadimplência”, afirmou Schmidt.