O número de consumidores que não conseguiram pagar no prazo as dívidas contraídas no comércio londrinense e entraram para o cadastro de inadimplentes cresceu 17% em agosto deste ano na comparação com o mesmo mês de 2022, apontaram os dados do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina) divulgados nesta terça-feira (12). No acumulado do ano, também houve alta, de 1,4%, em relação a igual período do ano passado.

O fator positivo do levantamento da Acil é o percentual de consumidores que conseguiram limpar o nome, que além de aumentar 17% ante agosto do ano passado, também subiu no acumulado do ano. Entre janeiro e agosto de 2023, 6% a mais de consumidores saíram da inadimplência na comparação com os oito primeiros meses de 2022.

Como as saídas têm sido em percentual maior que as inclusões, a base de clientes com condições de tomar crédito vem subindo consideravelmente desde janeiro. Este é o primeiro ano em que se verifica diminuição na base de consumidores com restrição ao crédito desde 2017.

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“Toda situação que leva o consumidor a não conseguir honrar seus compromissos na data correta gera preocupação, pois é resultado de um descontrole das contas pessoais ou perda do poder aquisitivo, consequência de inflação ou perda da fonte de renda. No entanto, é uma tendência de saúde econômica quando a quantidade de saintes é maior que a quantidade de entrantes no sistema de restrição a crédito”, ressaltou o consultor econômico da Acil, Marcos Rambalducci.

O economista destacou, no entanto, que com a aceleração da recuperação econômica e a chegada da terceira etapa do programa Desenrola Brasil, no final de setembro, poderá haver uma redução ainda maior na base de clientes negativados. A partir deste mês, o programa do governo federal irá atender devedores com renda mensal de até dois salários mínimos e cujas dívidas não ultrapassem os R$ 5 mil. Podem ser beneficiados pelo programa tanto os consumidores em débito com bancos quanto os que têm pagamento em atraso no mercado varejista.

Com o avanço do Desenrola Brasil, Rambalducci prevê “uma forte tendência” de redução no número de inadimplentes, mas faz um alerta aos consumidores. “Unicamente que não se pode pensar que o programa é para ‘liberar’ as pessoas para assumirem novos créditos. Deve ser visto como um programa para a regularização financeira das pessoas. É um erro a ânsia de querer comprometer novamente a renda destas pessoas, como muitos têm apregoado.”

O economista ressaltou que a negociação de dívidas implica em tornar viável o pagamento de compras realizadas no passado e, em geral, fica no limite da possibilidade de comprometimento da renda. “Achar que uma vez as pessoas recuperando o crédito poderão tomar novos créditos e se endividar novamente, é uma percepção temerária”, alertou.

PARANÁ

No Paraná, o número de inadimplentes também subiu em agosto. O aumento em relação ao mesmo mês do ano passado foi de 12,45%, segundo levantamento divulgado pela Faciap (Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná). O resultado ficou acima da média da Região Sul, de 8,39%, e acima da média nacional, calculada em 7,17%.

A inadimplência no Estado também cresceu na comparação com julho de 2022. De um mês para outro, a alta ficou em 6,95%. Na Região Sul, pela mesma base de comparação, a variação foi de 3,03%.

O levantamento da Faciap apontou também a evolução do número de dívidas dos paranaenses e em relação a agosto de 2022 as dívidas em atraso subiram 19,74% no mês passado. Por esse recorte, os dados do Paraná também superam os da Região Sul, cuja média ficou em 15,19%, e Brasil, com média de 14,75%. Na passagem de julho para agosto, as dívidas cresceram 7,64%.

Em agosto de 2023, cada consumidor inadimplente no Paraná tinha em média 2,244 dívidas em atraso. O número ficou abaixo da média da região Sul (2,262 dívidas por pessoa inadimplente) e acima da média nacional registrada no mês (2,082 dívidas para cada pessoa inadimplente).

Os bancos são os principais credores dos paranaenses, respondendo por 53,76% do total de dívidas. Em seguida, estão comércio (14,97%) e os serviços essenciais de água e luz (11,95%).

O presidente da Faciap, Fernando Moraes, recebeu a alta com surpresa e considerou “preocupantes” os números da inadimplência, que vinham em declínio no primeiro semestre, mas voltaram a crescer a partir de julho. "Essa inconstância preocupa e se deve à perda de renda da população, mas o Desenrola Brasil deve ajudar, assim como a deflação de produtos, que valoriza um pouco mais o dinheiro do trabalhador. E tem também a questão dos juros, que começaram a cair. Tudo isso melhora a inadimplência", avaliou.

Índice de inadimplentes chega a 30% no Brasil

A inadimplência também cresceu no Brasil no mês passado. A marca de pessoas com contas atrasadas chegou a 30%, igualando o resultado a dezembro de 2022, conforme revelou a Peic (Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência), elaborada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). "Estamos falando de um consumidor (por exemplo) que tem dois, três cartões de crédito e um crédito pessoal ou consignado, um financiamento. Com mais modalidades de dívida, está difícil de esse consumidor conseguir pagar todas dentro do prazo de vencimento", avaliou a economista responsável pela Peic, Izis Ferreira.

Outro fator preocupante no levantamento é o nível de consumidores que afirmam que não terão condições de pagar as contas atrasadas e continuarão inadimplentes. A proporção de 12,7% é a maior da série histórica iniciada em janeiro de 2010. Essa situação atinge principalmente as pessoas com renda de até três salários mínimos.

Isso mostra que, mesmo com uma inflação trazendo uma trégua para esse orçamento doméstico, ainda é um desafio conseguir negociar ou pagar uma dívida que está atrasada há mais tempo e que sofre mais com esses juros altos, que aumentam o custo da dívida e acabam tornando o valor muito significativo, e essa família não consegue pagar", explicou Ferreira.

Os dados da CNC mostram que o cartão de crédito é o vilão do orçamento das famílias brasileiras de forma disparada. A proporção de consumidores endividados com o cartão é de 85,5%. Em seguida, as principais modalidades de dívidas são os carnês (17,1%), crédito pessoal (9,2%) e os financiamentos de carro (7,9%) e casa (7,5%).

A Peic revelou também que o tempo médio de comprometimento com dívidas é de 6,9 meses. O tempo médio de pagamento em atraso é de 63 dias. A parcela da renda comprometida com dívida é 29,9%.(Agência Brasil)