Em julho, muitos londrinenses conseguiram sair da inadimplência e ter de volta o ‘nome limpo’ junto às prestadoras de crédito. De acordo com dados disponibilizados pela Acil (Associação Comercial e Empresarial de Londrina), o mês de julho teve um crescimento de 22%, em relação ao mesmo período do ano passado, no número de pessoas que saíram da inadimplência. Além disso, no acumulado dos sete primeiros meses de 2023, houve uma redução de 0,5% no número de consumidores que entraram na inadimplência.

Segundo Marcos Rambalducci, consultor econômico da Acil, os índices do Sistema de Proteção ao Crédito (SPC) mostram que julho foi o melhor mês nos últimos nove anos em relação ao volume de consumidores que saíram do cadastro de negativados, conseguindo pagar ou renegociar suas dívidas. Já em relação a janeiro e julho de 2023, o contingente de consumidores que conseguiram deixar o cadastro da inadimplência está 4% maior do que no mesmo período do ano passado.

Assim como o número de pessoas que quitaram ou renegociaram as dívidas cresceu, a quantidade de consumidores que tiveram seu nome incluído no cadastro de limitação de crédito foi 7% menor em julho de 2023 do que no mesmo mês de 2022. No acumulado do ano, o percentual de consumidores negativados está 0,5% menor do que o mesmo período do ano passado.

O consultor detalha que os dados são muito interessantes porque não há uma ligação direta com o Programa Desenrola Brasil, do Governo Federal, já que ele começa a valer a partir de setembro para o comércio varejista. “Mas pode ser que exista um reflexo indireto, ou seja, tanto se falou no Desenrola Brasil que as pessoas espontaneamente começaram a procurar os varejistas para negociar. Então no meio desse bolo, pode haver um comportamento psicológico por parte desse consumidor que fez com que ele fosse renegociar”, explica.

Além do fator psicológico, Rambalducci também relacionou o comportamento do consumidor com a recuperação de renda, que vem principalmente do mercado formal. Segundo ele, foram abertos mais de quatro mil postos de trabalho nos primeiros seis meses do ano em Londrina. “Quando a pessoa está em um emprego formal, que é mais estável e permite uma maior segurança, o que ela faz é pagar aquelas dívidas que ficaram atrasadas”, pontua.

JUROS

Ao ser questionado se a recente redução da taxa básica de juros pelo Copom (Comitê de Política Monetária), que saiu de 13,75% para 13,25%, pode impactar positivamente o comércio e reduzir a inadimplência, o consultor sinalizou positivamente, mas alertou que ainda é cedo para cravar algum cenário. A taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) é a taxa básica de juros, que serve como referência para que os demais juros sejam calculados.

Segundo Marcos Rambalducci, a queda pode auxiliar a ativar a economia industrial, já que a indústria vai conseguir receber dívidas dos consumidores e, ao mesmo tempo, vai ficar mais barato para que ele compre novamente. “O que significa que eu vou poder vender mais, então eu preciso aumentar a minha produção. Se eu preciso aumentar a produção, eu também preciso investir em um galpão novo, em uma maquinaria nova, então ele começa a fazer essa injeção de dinheiro por causa de uma perspectiva futura de aumento nas vendas. Tudo isso começa a criar um ciclo virtuoso na economia, trazendo mais emprego, mais renda, mais potencial de consumo e assim a gente entra em uma dinâmica muito positiva para a economia “, esclarece.

CAUTELA

Apesar de ser um ótimo sinalizador, a redução de meio ponto na taxa Selic não significa um crescimento “espetacular” na economia, segundo o economista. “Mas ela é um sinalizador forte, principalmente porque o Copom já sinalizou novos cortes lá no futuro. Então não é esse corte, mas o início de um ciclo de cortes na taxa de juros que vai dar essa dinâmica para a economia”, detalha. Segundo ele, uma taxa básica de juros de 9,5% seria um cenário muito positivo neste momento.

Para os consumidores, a queda na taxa de juros faz com o juros do parcelamento de uma geladeira, por exemplo, fiquem um pouco menores, mas o fator inadimplência é essencial para que essa queda seja mais acentuada. “O cartão de crédito está cobrando uma taxa de juros de 430% ao ano, então o que adianta você reduzir meio por cento e ela ir para 425%?, questiona.

EQUILÍBRIO

Rambalducci destaca que o que auxilia é a somatória da redução da taxa de juros e um equilíbrio financeiro dos consumidores, que pode ser alcançado através de programas como o Densenrola Brasil. Entretanto, segundo ele, quem vai renegociar uma dívida não vai voltar a gastar de imediato, já que ele precisa custear as parcelas. “Daqui a cinco ou seis meses, a pessoa vai conseguir sair dessa conta e limpar o seu nome, então aí sim nós teremos uma expectativa positiva também para a economia, mas é preciso essa somatória [da redução da taxa de juros e do equilíbrio financeiro dos consumidores]”, esclarece.

No momento, o consultor afirma que Londrina vive um cenário positivo, em que o comércio está apostando nesses indicadores para ter boas vendas para o Dia dos Pais. “Pode não refletir diretamente no preço [dos produtos], mas no entusiasmo das pessoas, então todo mundo fica animado e esse é um forte componente psicológico que deve ajudar nas vendas”, finaliza.