Imagem ilustrativa da imagem 'Imã de geladeira do século 21'
| Foto: Ricardo Chicarelli

O lançamento de aplicativos de entregas para restaurantes e lanchonetes ganhou força nos últimos dois anos, como parte dos esforços em melhorar o faturamento e reduzir o pagamento de comissões aos shopping centers virtuais, como iFood, Uber Eats e Rappi. Segundo empresas de desenvolvimento desse tipo de canal, a procura chegou a aumentar em 300% no último ano, movimento observado pelos anúncios de novas ferramentas de estabelecimentos em outdoors, panfletos e cardápios em Londrina.

A sugestão dos especialistas, contudo, é não abdicar dos chamados market places, que oferecem a chance de tornar os restaurantes mais conhecidos. A ideia é ter um aplicativo próprio de entrega, ou delivery, como ferramenta para se aproximar e ter mais informações sobre os hábitos de consumo dos clientes. Além, claro, de vender sem precisar pagar comissão.

No mercado desde 2012, a empresa de aplicativos curitibana Vitto começou a oferecer o serviço ainda antes do surgimento dessas empresas de market places, com a proposta de reduzir o uso de mão de obra no atendimento telefônico de restaurantes. “Era uma forma de desviar esse serviço para o on-line, com dinâmica para receber pedidos simultâneos e fazer tudo isso integrado a um sistema completo de gestão da empresa, o que também faz parte do serviço”, diz o CEO da Vitto, Pedro Ruibal.

Ruibal conta que os contatos para contratação de aplicativos aumentou 200% até maio deste ano, na comparação com o mesmo período de 2018, principalmente de empresários em busca de avançar em termos de marketing de serviços. “Recebemos até gente desesperada porque 80% do faturamento vinha do iFood, o que tira muito da competitividade em relação à concorrência e na formação de preços”, afirma.

Isso porque serviços como o oferecido pelos aplicativos que reúnem restaurantes, que aparecem entre os mais baixados na loja do Google Play, chegam a cobrar dos vendedores quase um terço do valor de nota fiscal em uma entrega. Se para os clientes o benefício é grande, porque podem até mesmo decidir entre vários restaurantes e tipos de cozinhas diferentes, para os empresários isso pode dificultar o fechamento das contas no fim do mês.

Segundo o site de um market place de alimentação, as vantagens para o restaurante são o aumento do alcance e a visibilidade, redução de gastos com propaganda, menor dependência de atendentes por telefone e acesso a ferramentas de desempenho do restaurante na rede. As vendas chegam a crescer até 70%, de acordo com a marca.

A empresária Mara Maziero, proprietária da Old Pizzaria, em Londrina, é um exemplo. Ela entrou no ramo neste ano e vendeu cerca de 450 pizzas ao mês em fevereiro e março. Depois de passar a expor a marca também no iFood, o número praticamente triplicou e chegou a 1,2 mil unidades mensais. “Compensa muito pela quantidade que passei a vender. Mas uso meus entregadores, porque pelo plano com os deles fica muito caro”, conta Maziero, que ampliou desde então o quadro de três para cinco funcionários e de um para dois motoboys.

Com o apoio de divulgação, Maziero começou a pensar em investir na pizzaria. Ela comprou mais um forno e pretende reformar a fachada. “Estamos implantando um novo sistema e acredito que vamos aumentar ainda mais as vendas.”, conta. “É meu filho que cuida dessa parte, mas também estudamos a possibilidade de ter um aplicativo próprio”, completa.

Comissões ameaçam fechamento do caixa

Se garantem visibilidade, por outro lado os market places cobram uma parte dos ganhos dos comerciantes. Um dos três principais oferece dois planos comuns. No básico, o restaurante é responsável por contratar entregadores e paga uma comissão de 12% sobre valores totais da nota fiscal, além de mensalidade de R$ 100 caso a venda ultrapasse R$ 1,8 mil ao mês. No formato de delivery, os entregadores são responsabilidade do aplicativo, que cobra 27% sobre o valor dos pedidos e mais R$ 130 mensais para vendas acima de R$ 1,8 mil. Em ambos, caso o cliente resolva pagar de forma on-line, o custo cresce 3,5%.

Foi esse custo de até um terço do faturamento que fez com que a Neemo chegasse à marca de 1,7 mil clientes com aplicativos próprios para delivery, em todos os estados do País, e a um aumento de 300% na procura nos últimos 12 meses, diz o diretor de operações da empresa, Donizeti Ferreira. “Os estabelecimentos tentam encontrar alternativas e o caminho foi ter um canal próprio, com app, perfil no Facebook, site próprio”, diz o representante da marca de Avaré (SP), que tem 14 clientes com a ferramenta ativa em Londrina, entre pizzarias, lanchonetes, bar, restaurante e loja de bufê para festas.

No entanto, mais do que reduzir o pagamento de comissões, os aplicativos fornecidos por empresas como Neemo e Vitto permitem conhecer hábitos de consumo dos clientes, algo não disponível nos market places. Assim, é possível oferecer planos de fidelidade, propor descontos e fazer promoções personalizadas. “Somos uma plataforma omnichannel, multicanais. Não é só o app e cardápio em site, mas pedidos via fanpage no Facebook, chatbox no Messenger e automatizações via Whatsapp, por exemplo”, diz Ferreira.

O CEO da Vitto, Pedro Ruibal, destaca a importância de aliar a ferramenta personalizada aos shoppings virtuais, que recebem altos investimentos e funcionam como praças de alimentação em shoppings. “Nossa equipe propaga a ideia aos clientes de que não faz sentido um restaurante não se expor, não estar em um market place. Mas delivery on-line não é só isso. Vale para o nosso app e para os nossos concorrentes.”

Apesar da aparente dificuldade em ter vários aplicativos de restaurantes em um celular, Ruibal diz que as ferramentas são leves e os aparelhos telefônicos têm cada vez mais memória. “Se a pessoa nem sabe o que quer comer, ela entra no market place. Mas, se ela quer aquele sabor de pizza, da pizzaria que ela gosta, é muito melhor comprar pelo app, somar pontos e ganhar descontos”, diz o diretor da Vitto. “É como se fosse o imã de geladeira do século 21.” (F.G.)

Empresário investe em app próprio há sete anos

O empresário Fábio Feijó, proprietário da Massaria Artigianale, em Londrina, tem aplicativo próprio para entregas há sete anos. Como um dos pioneiros nesse tipo de ferramenta, ele conta que teve um custo maior pelo desenvolvimento de software na época, quando os market places nem mesmo existiam, mas que não se arrepende. Tanto que deve implantar neste mês um novo sistema. “Só pago uma mensalidade, que é irrisória perto do que gastaria se pagasse comissão em todas as vendas pelo meu aplicativo”, conta.

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| Foto: Ricardo Chicarelli

Com campanhas diferenciadas e planos de pontuação, o faturamento da empresa de Feijó se divide em 70% no restaurante, 22% pelo aplicativo próprio de entregas e 8% por market places. “O iFood é considerado como um shopping center de comida, mas é mais uma estratégia de divulgação do que importante para o meu faturamento”, diz.

Para o empresário, a margem no comércio de alimentos é mais apertada hoje e ceder mais uma parte das vendas em comissões não é a melhor estratégia. “Se a pessoa tiver uma participação muito grande do market place no faturamento, vai ter um sério problema de fluxo de caixa. Pense que, se vender R$ 30 mil por mês com eles, até 30% [ou R$ 9 mil] não virão para o seu caixa”, explica Feijó.

'NÃO DEU CERTO'

Já Giovani Mateoti Zanini, proprietário da Giovani Lanches, desistiu há um ano do aplicativo próprio da lanchonete. Ele revela que teve problemas com os pagamentos on-line, nos quais sofreu golpes de pessoas que recebiam o produto e cancelavam as compras. “Esse problema ainda ocorre com o iFood, mas aí não sou eu que perco”, diz, ao revelar que o shopping virtual que utiliza arca com custos de eventuais cancelamentos.

Zanini acredita que o número de clientes que usavam o aplicativo que desenvolveu era pequeno e o número de entregas não passava de 100 ao mês. Apesar de contar com programas de fidelidades e campanhas de descontos, ele preferiu desistir. “Não sei se divulguei pouco, mas vi que não as vendas não aumentariam. Existe uma moda, né, primeiro com o iFood, agora tem o Rappi, e os clientes preferem.” (F.G.)