Agência Estado
Do Rio de Janeiro
A recessão em 1999 provocou a primeira queda na média dos salários na indústria desde 1992, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A soma dos salários pagos no setor também caiu mais do que o número de empregos, o que não acontecia desde 1991. Os dois fenômenos mostram que, no ano passado, os trabalhadores tiveram de suportar a perda de renda para manter suas vagas nas fábricas, segundo a gerente de Dados da Indústria do IBGE, Miriam Ferreira.
Houve redução de 2,8% do salário médio da indústria, que é calculado com o desconto da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE. A última retração, em 1991, havia sido de 0,2%. O pior ano foi em 1990, quando houve o confisco do governo Collor, quando o declínio chegou a 16,4%. ‘‘Em um quadro de desemprego e queda da produtividade da indústria, o poder de barganha do trabalhador é afetado’’, constatou Miriam.
‘‘Podemos dizer, grosso modo, que foi melhor manter o emprego sem aumento’’, sintetizou a analista do IBGE. Outro indicador desta tendência foi o recuo do total dos salários pagos na indústria, de 10% no ano passado. O percentual foi maior do que o declínio de 7,3% do número de vagas na indústria. ‘‘Geralmente, o salário acompanha a indústria’’, afirmou Miriam.
A última vez em que houve esta perda foi no início da década, em 1990, também por causa do Plano Collor. Naquele ano, o total dos salários teve redução de 23,6%, enquanto o nível de emprego baixou apenas 5,4%. Os piores indicadores em 1999 foram registrados em Minas Gerais (11,4%) e São Paulo (11%).
Do terceiro para o quarto trimestre de 1999 a queda da média salarial da indústria se acelerou, passando de 3,2% para 4 8%. Dos 22 segmentos industriais pesquisados pelo IBGE, 19 mostraram perdas. As mais graves foram na indústrias extrativa mineral e de produtos alimentícios. No primeiro caso, a retração do salário médio passou de 1,2% de julho e setembro para 6,7% entre outubro e dezembro. No caso da indústria dos alimentos, a redução foi de 2,5% no terceiro trimestre e de 6% nos últimos três meses.
Ao mesmo tempo em que aumentou a perda salarial, o ritmo de demissões na indústria ficou mais brando no segundo semestre, segundo o instituto. No terceiro trimestre, a retração do número de postos de trabalho foi de 7%, e no quarto, de 1,4%. Mesmo o índice de demissões na indústria, de 7,3%, ficou abaixo do registrado em 1998, quando chegou a redução foi de 9,1%.
A gerente do IBGE afirmou que, para que o salário e o nível de emprego na indústria melhorem este ano, é preciso que haja um grande aumento da produtividade. Ela informou que os indicadores de produção do setor no início deste ano devem ser positivos – mas porque no começo do ano passado, período que serve de base de comparação, a atividade das fábricas estava muito reduzida. ‘‘A indústria precisa produzir muito para voltar a contratar e pagar melhores salários’’, advertiu.