IA no agro: evento aponta caminhos para região liderar nova era no campo
Conteúdo do EncontrosFolha demonstra que não há mais como falar em perspectivas do setor sem incluir a inteligência artificial no debate
PUBLICAÇÃO
sábado, 31 de maio de 2025
Conteúdo do EncontrosFolha demonstra que não há mais como falar em perspectivas do setor sem incluir a inteligência artificial no debate
Lúcio Flávio Moura e Guto Rocha

“Estamos mais ou menos como estávamos no fim dos anos 1990 em relação à internet. Todo mundo de olho, tentando entender e buscando informações”. A comparação do economista e consultor José Luis Dalto resume a agitação que o uso iminente - ou já em andamento - da inteligência artificial tem provocado no setor produtivo, na vida pública e nas políticas oficiais.
No Paraná e em Londrina, a vocação para uma agropecuária de alta performance e o DNA inovador do empresariado e dos governos se somaram para potencializar este interesse e colocá-lo na primeira prateleira do planejamento estratégico de muitos líderes.
Mediada por Dalto, um professor da UTFPR que é doutor em gestão de projetos, a 23ª edição do EncontrosFolha - Conteúdo com Relevância, realizada no Centro de Convenções do Aurora Shopping na noite de terça-feira (27), contou com a presença do secretário de Inovação e Inteligência Artificial, Alex Canziani, do coordenador de Inovação e IA da Coamo Agroindustrial, Daniel Bonete Ricardo, e do pesquisador do Departamento de Computação da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Daniel dos Santos Kaster, integrante do Centro de Inteligência Artificial do Agro (CIA-Agro), um colegiado científico que faz a interface da academia com startups, grandes empresas e autoridades ligadas à área.

Além dos palestrantes e do mediador, o público pôde ouvir líderes como o superintendente do Grupo Folha de Londrina, Nicolás Mejía, responsável pela fala inicial, o prefeito Tiago Amaral, o gerente regional do Sebrae, Rubens Negrão, e a responsável pelas relações institucionais da Fundação Araucária, Cristiane Cordeiro.
Após as palestras e o painel que encerrou a programação, prevaleceu uma sensação de que muita coisa está acontecendo ao mesmo tempo e que o agronegócio está mobilizado para acompanhar esta transformação. A década de largada da IA como predominante na matriz econômica vai acumulando anúncios impactantes desde o ano passado e que entraram na mira das discussões do EF 23.
Projetos que já mobilizam a região
A instalação de um supercomputador na sede do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) em Londrina, primeiro passo de uma parceria do governo do Estado com o Centro de Desenvolvimento de Computação Avançada (C-DAC), reconhecido hub da Índia no desenvolvimento de HPC (Computação de Alto Desempenho) e o funcionamento na UEL de um núcleo de capacitação técnica para estudantes aprenderem a desenvolver softwares; a instalação da primeira unidade de ensino técnico voltado à tecnologia no agro do País, o Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola (CEEPA), que deve começar a funcionar no ano que vem no Conjunto Aquiles Stenghel, na zona norte; o novo Parque Tecnológico que será construído dentro do campus da UEL; a formalização da parceria do governo do Estado com o Google, que concedeu 25 mil licenças de cursos para qualificar alunos de escolas profissionalizantes da rede estadual e está acelerando a implantação de soluções de IA no serviço público; o projeto de desenvolvimento colaborativo da Agricultura de Precisão e de Agricultura Digital, uma parceria entre os governos brasileiro e japonês para modernizar a agricultura familiar e que terá o envolvimento do Centro de Inteligência Artificial no Agro (CIA-Agro) da UEL.

Aprendizado das máquinas
Em sua palestra, Daniel dos Santos Kaster, um dos pesquisadores do CIA Agro, apresentou os processos e mecanismos envolvidos no desenvolvimento e na geração da IA, explicando pontos básicos do aprendizado das máquinas. “Dentro disso está o que chamamos deep learning (aprendizado profundo), redes que mimetizam o cérebro humano para fazer inferências e resolver problemas de forma não linear e complexas. Aí chegamos no que está mais na moda, que é a IA generativa, como o Chat GPT, Gemini e outros grandes modelos de linguagem. Todos esses modelos são treinados sobre base de dados gigantescas e variadas e a grande jogada desses modelos é o contexto, a medida que ele avança, os algorítimos vão produzindo textos e outras coisas a partir daí”, explica.
Ele destacou ainda a importância da Ciência de Dados que é a chave para construir os grandes modelos da IA. “Toda a parte de preparação de dados é fundamental para a inteligência artificial. A gente não consegue construir um modelo que seja satisfatório se o que tenho de entrada para ele não é adequado. Se entrar lixo vai sair lixo”, destaca.

Kaster afirma que esse universo da IA é muito mais desafiador no agro. Os desenvolvedores da área de computação trabalham com variáveis que são imprevisíveis. “O agro tem uma quantidade de variáveis muito menos controlada do que em outros ambientes. O setor tem problemas mais específicos e um pouco mais complexos, que exigem uma integração maior de dados. Envolve a parte climática, a parte da planta, do solo. Isso sem falar na parte comercial”, observa.
O painelista diz que o Centro de IA no Agro, que reúne a UEL, a UTFPR, o IDR Paraná, Embrapa Soja e a Fundação ABC, tem o propósito de unir expertise de seus pesquisadores e buscar soluções com a aplicação da IA para o setor do agronegócio. Kaster afirma que, atualmente, o CIA Agro trabalha no desenvolvimento de nove projetos com a aplicação da inteligência artificial, vão desde da avaliação da qualidade do solo, segurança de dados, agrometeorologia, aquisição de imagens por veículos aéreos não tripulados até o monitoramento de manejo da ferrugem da soja. “O nosso objetivo não é tanto chegar lá na ponta da cadeia, mas sim desenvolver uma pesquisa aplicada, e fazer a transferência disso para que empresas e startups possam levar isso para o campo”, explica.
Cooperativa utiliza IA em seus processos internos
Como exemplo de como uma grande corporação está enxergando a revolução da IA, o coordenador de Inovação e Inteligência Artificial da Coamo Agroindustrial Cooperativa, Daniel Bonete Ricardo, explicou como está sendo o embarque da maior cooperativa paranaense nesta nova era.
“A IA passou a fazer parte do organograma da Cooperativa a partir de 2021. Inicialmente está sendo estruturado a Governança e a Gestão de Inovação em todas as áreas da cooperativa, por meio de um programa corporativo de inovação. Já iniciamos também alguns projetos pilotos com a IA, como por exemplo, o projeto de otimização da nossa frota de veículos pesados, que estamos desenvolvendo em parceria com o Senai e apoio do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) Space e aporte financeiro da Fundação Araucária”, disse.

Neste primeiro momento, segundo Ricardo, a IA está sendo aplicada para auxiliar e otimizar os processos internos. “A automação de processos que são repetitivos, por exemplo, é uma tecnologia que a gente está pondo em prática para automatizar processos internos. Depois de amadurecido e tendo tecnologias habilitadoras, vamos poder oferecer essas tecnologias para nossos cooperados”, afirma.
Ricardo observa que os cooperados demonstram interesse em relação às tecnologias relacionadas à IA. “Há uma procura muito grande entre os agricultores, que participam das palestras e eventos sobre o tema. Eles escutam o que está sendo comentado mundo afora. E a cooperativa, assim como acontece hoje com o fornecimento de insumos e serviços, também será intermediária para o acesso dos cooperados a essa tecnologia quando estiver disponível”, diz.
Economista acredita que IA é a base da ‘segunda revolução’ no agronegócio
Caso em algum auditório qualquer do Brasil dos anos 1960 alguém bradasse que a produção agropecuária brasileira seria uma das mais competitivas do mundo ainda no primeiro quarto do século seguinte correria o risco de ser taxado de lunático.
O país vivia um cenário de baixa produtividade, dependente de subsídios, com exportações concentradas apenas no café, com uma área plantada modesta na imensidão de um país continental. Mas o que parecia improvável, aconteceu.
Enquanto o processo de intensa urbanização do País se consumava - as cidades abrigavam cerca de 35 milhões de moradores em 1962 e alcançaria quase 180 milhões em 2022, a área destinada às lavouras mais que dobrou, a produção de grãos foi multiplicada por 15 e os portos do mundo, habituados apenas com o desembarque das sacas de café, foram “invadidos” por um variado cardápio made in Brasil - soja, milho, carnes, açúcar, celulose e suco de laranja.
Para o economista e consultor José Luis Dalto, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), esta revolução que manteve uma certa vitalidade da economia brasileira (num período histórico no qual a indústria oscilou na gangorra da globalização) pode dar lugar a outra, talvez tão subestimada quanto a primeira.
“A inteligência artificial vai transformar nossos níveis de produtividade”, prevê, com a autoridade de quem já analisa os primeiros efeitos das novas tecnologias nas fazendas do Sul e do Centro-Oeste. “Vamos otimizar produtos, otimizar insumos. Já estamos vivendo uma nova revolução”, avisa. Para ele, o segmento vive uma inquietação semelhante àquela que as cidades viveram com o advento da internet comercial, com auditórios lotados por líderes ávidos de conteúdo e esclarecimentos sobre o fenômeno, cenário verificado na noite de terça-feira no Aurora Shopping e no qual Dalto foi mediador.
Para o especialista em gestão de projetos, o interesse se justifica pelo nível de competitividade global que o agronegócio brasileiro sabe que tem em relação aos concorrentes. “Temos vantagens comparativas inquestionáveis. Vantagens naturais, como solo, clima, estoque de terras, tudo muito agricultável. Isso não existe em nenhum lugar do mundo. Sai mais barato produzir aqui do que produzir em qualquer outro lugar. É muito rentável. Há uma sensação real de que se nos mantivermos atualizados tecnologicamente, vamos permanecer com este protagonismo nas próximas décadas. Temos a responsabilidade global de colocar alimento na mesa de quem hoje passa fome. Precisamos continuar sendo super competitivos para cumprir este papel que conquistamos. A inteligência artificial é a chave para que continuemos ocupando este posto que nos foi confiado, para sermos de fato o celeiro do mundo neste século”.
Dalto ressalta que a organização do agronegócio e sua rede de instituições será fundamental para fazer a União e os governos estaduais estarem em sintonia com o fenômeno, elaborando políticas públicas que sejam capazes de facilitar o acesso às novas tecnologias, assim como faz um dos grandes concorrentes globais do Brasil, os Estados Unidos.
“A agropecuária se beneficiou de uma política pública que foi a criação da Embrapa, que nos modernizou em relação às sementes, ao manejo do solo, ao combate às pragas. Agora, o governo tem que liderar este processo, levar a tecnologia até os produtores e apontar os caminhos da inteligência artificial no campo, mostrar os rumos. Em que direção o mundo está caminhando? É preciso orientar o setor para que ele acompanhe o ritmo dos concorrentes globais”, explicou.
Durante o evento, o mediador também se mostrou preocupado com a regulamentação da inteligência artificial. Todos os debatedores lembraram que o regramento deve encontrar um ponto de equilíbrio, suficiente para que seja efetivo no combate de abusos que ameacem os direitos fundamentais dos grupos e dos indivíduos, mas que permita um ambiente amigável para a inovação e ao desenvolvimento.
O projeto de lei 2338/23, de autoria do senador mineiro Rodrigo Pacheco (PSD), foi aprovado pelo Senado Federal em 10 de dezembro de 2024 e desde março aguarda análise na Câmara dos Deputados. O PL estabelece um marco regulatório nacional para o desenvolvimento, uso e governança de sistemas de Inteligência Artificial no Brasil.(L.F.M)
Instituições de pesquisa se unem para desenvolver projetos
A automatização de leitura de imagens de microscópio para detecção de doenças na soja, segurança de dados meteorológicos, nível de saúde do solo e outras tecnologias que podem otimizar o trabalho do produtor rural. Essas são só algumas das soluções que estão sendo desenvolvidas por um grupo de pesquisadores e estudantes de cinco instituições se uniram para pesquisar os potenciais que a IA oferece para o homem do campo.
Juntas, a Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR Paraná), Embrapa Soja e Fundação ABC, estão desenvolvendo nove projetos de pesquisa com objetivo oferecer soluções tecnológicas com o emprego da inteligência artificial. Essas instituições formam o Centro de IA do Agro (CIA-Agro).

Uma dessas tecnologias que está em desenvolvimento no projeto “Automatização da Rede de Monitoramento de Manejo da Ferrugem da Soja”. Segundo o professor e pesquisador da UEL, Daniel Kaster, o projeto tem com objetivodesenvolver uma aplicação que faça a detecção precoce e alerte o sojicultor em tempo hábil sobre o avanço dos esporos do fungo que provoca a ferrugem asiática da soja, principal praga da cultura. “Dessa forma o produtor tem uma previsibilidade maior de como tomar as medidas de manejo na sua lavoura de maneira mais segura”, explica.
Kaster afirma que o projeto utiliza uma estratégia desenvolvida pelo IDR PR, que permitiu reduzir os custos significativamente. Inicialmente, explica o professor da UEL, são espalhados na lavoura vários tubos, que lembram uma biruta de aeroporto, por onde passa o ar e, junto, os esporos do fungo da ferrugem. Ao passar por esse duto, o fungo é capturado por uma lâmina que tem uma espécie de adesivo. A identificação desse fungo, normalmente é feita por análise laboratorial e a tecnologia atualmente disponível com a leitura por meio de microscópio tem custo muito elevado.
O painelista explica que o CIA Agro está buscando alternativas para produzir essas informações de infestação do fungo da ferrugem asiática em grande escala. “Pois o produtor só vai confiar na tecnologia se houver uma escala em volume de detecção do fungo que ele possa ter segurança de, por exemplo, retardar uma aplicação. Então seria preciso aumentar o número desses coletores de esporos, distribuí-los melhor pelo Estado de forma a garantir essa escala”, explica.
Kaster observa que é aí que entra a pesquisa de desenvolvimento de aplicações da IA no projeto de combate à ferrugem asiática da soja. “Buscamos a automatização das leituras de microscópio de forma a gerar a escala que precisamos para oferecer segurança ao produtor rural”, comenta.
Outro projeto desenvolvido pelo grupo visa a segurança de dados e das aplicações pelo que se chama de segurança por design. “Que consiste em projetar uma aplicação já pensando nas vulnerabilidades daquela aplicação”, diz. Dessa forma, segundo ele, ao invés de tentar aplicar uma camada de segurança depois que a tecnologia já está funcionando, os pesquisadores estão buscando projetar a aplicação considerando o aspecto da segurança de dados.
Mas, além dos projetos que estão sendo desenvolvidos pelos integrantes do CIA do Agro em Londrina, Kaster destaca a formação de pessoas capacitadas para atuar no mercado de IA. “Uma grande contribuição, além do projetos que visam o desenvolvimento de tecnologia em si, é podermos montar esse arcabouço de pessoas e de ações conjuntas para que todo o conhecimento gerado pelo centro possa seguir em frente. Então o CIA do Agro investe na formação de mão de obra especializada que possa entrar no mercado e contribuir para o desenvolvimento dessa tecnologia em outras instâncias”, afirma.
Para o painelista observa que o uso da IA é uma grande aliada que permite potencializar realizações que não seriam possíveis sem ela. E em se tratando de agronegócio, o pesquisador afirma que o universo da inteligência artificial é ainda mais desafiador. “No agro, um mais um não é igual a dois sempre. O setor tem uma série de variáveis que o torna um ambiente de grande risco. E a coleta de dados massiva e o emprego de técnicas automatizadas tendem a melhorar a escala de execuções de operações que humanamente não conseguimos fazer, possibilitando decisões mais acertadas, redução de custos, identificação de gargalos, priorização de custos e aumento de produtividade”, destaca.(G.R.)
Coamo aposta no uso da IA e da Ciência de Dados para manter a tradição de inovação que marca sua história
A Coamo vem apostando forte na adoção da inteligência artificial em seus processos. Segundo o coordenador de Inovação e Inteligência da Cooperativa, Daniel Bonete Ricardo, a implantação de sistemas de IA e, principalmente de Ciências de Dados, está em fase estruturante. A área de logística da Cooperativa é a primeira a experimentar o uso da inteligência artificial.
Em parceria com o Senai, a Coamo, de acordo com Ricardo, está desenvolvendo algoritmos de otimização para sua frota de 800 caminhões, da frota própria ou da frota dedicada (empresas que prestam serviço exclusivamente para a Coamo), que fazem o transporte de grãos.

O coordenador explica que o projeto utiliza a chamada visão computacional, que permite que a máquina enxergue como um ser humano. “Basicamente é a utilização de imagens e o treinamento do algoritmo para poder fazer o discernimento como se fosse uma pessoa. No caso do uso de câmeras em caminhões, essa aplicação pode fazer o reconhecimento do uso indevido de celular, por exemplo, bem como a falta do uso de cinto de segurança”, explica. A mesma ferramenta de visão computacional, segundo ele, pode ser utilizada para classificar e validar sementes.
Outra área da cooperativa que vem utilizando a IA e a Ciência de Dados é a financeira. Segundo o painelista, o emprego da IA e também da visão computacional permitem a automação de processos robóticos para a execução de tarefas repetitivas como leitura de documentos, digitação e transcrição. “Estamos ganhando corpo, experimentando as tecnologias que a gente ainda vai precisar para depois escalar outros tipos de tecnologias que estão para acontecer ainda”, esclarece.
Ricardo salienta que, por ser uma tecnologia nova, muitos desafios ainda estão por ser vencidos. Segundo ele, um dos principais é a forma como cooperativas, ou qualquer outra empresa que começa a utilizar a IA, faz a preparação de dados. “Sejam eles quais forem, os dados precisam estar prontos e preparados, pois são eles que alimentam os modelos de IA. Então é necessário uma infraestrutura adequada para que os dados estejam disponíveis para ser consumido por esses modelos”, observa.
O painelista alerta que, no caso das máquinas agrícolas, grandes empresas como New Holland, CNH, John Deere, estão anunciando parceria com a Starlink, a empresa norte-americana que está formando a maior rede de satélites artificiais do mundo. Com isso, esses equipamentos passarão a contar com IA e internet no campo. “Isso vai resultar em um grande volume de dados. Será um desafio para as cooperativas lidar com essa enxurrada de dados que serão gerados por essas máquinas agrícolas. Onde armazenar tantos dados? Como prepará-los, deixá-los disponíveis? Ter 'insights' a partir deles?”, questiona.
Por outro lado, o painelista, diz que essa grande quantidade de dados que passará a ser gerado cria oportunidades extras para a implementação de sistemas inteligentes que auxiliem na tomada de decisões mais precisas. “A gente terá uma cultura de dados em que as pessoas passam a tomar decisões baseadas em dados”, resume. (G.R.)
2025 acumula marcos nas políticas públicas para IA no Estado
A história da Inteligência Artificial já começou a ser escrita faz algum tempo, mas em 2025 a tecnologia que é capaz de imitar o raciocínio humano, permitindo que uma máquina execute tarefas que normalmente exigem funções cognitivas como aprender, compreender, solucionar impasses e tomar decisões se tornou oficialmente tema de política pública no Paraná.

Este mês ocorreu a primeira reunião do Conselho Estadual de Inteligência Estadual, responsável por orientar a implementação de uma outra novidade formalizada em abril, o Plano de Diretrizes de Inteligência Artificial na Administração Pública. Também foi este ano que uma secretaria de Estado passou a ser oficialmente dedicada ao tema, com a criação da Secretaria de Inovação e Inteligência Artificial (Seia) em abril, nova denominação da antiga Secretaria da Inovação, Modernização e Transformação Digital.
O titular da pasta, o londrinense Alex Canziani, apresentou a estrutura, ações e projetos da pasta no EncontrosFolha e discorreu sobre os planos de ampliação da conectividade rural e o empenho em capacitar os servidores para usar as novas ferramentas de IA que passarão a ser rotina no serviço público.
Antes da palestra, o secretário conversou com a reportagem sobre como espera integrar as novas tecnologias ao ensino da rede de escolas técnicas agrícolas e florestais, composta por 22 unidades (outras duas começam a funcionar no ano que vem), e sobre a expectativa do funcionamento do novo Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola (CEEPA), o primeiro colégio de tecnologia agrícola do Brasil, que está sendo erguido em uma área de 12 mil metros quadrados ao lado do antigo Primavera Clube, no Conjunto Aquiles Stenghel, na zona norte de Londrina.
A nova estrutura pretende ser a vanguarda para a transformação que o ensino técnico para o agro deve experimentar nos próximos anos letivos, de acordo com o secretário. “Estamos, inclusive, articulando uma aproximação com o Kirkwood Community College, que é uma referência nos estudos da agricultura contemporânea, para firmar uma parceria com esta nova escola na zona norte, que ao contrário de outras unidades tradicionais do ensino técnico agrícola, estará localizada dentro da cidade e será voltada à ciência de dados e agricultura de precisão”, revelou o secretário.
A Kirkwood é uma instituição de ensino médio e superior de caráter público e comunitário que se espalha em várias unidades do Iowa, estado do Meio-Oeste dos Estados Unidos que é um grande produtor de soja e milho, como o Paraná. Canziani quer estruturar um programa de intercâmbio para que os alunos da unidade londrinense recebam parte da formação em aulas práticas nas lavouras do chamado Corn Belt, região intensamente mecanizada e com alta tecnologia aplicada.
O talento dos jovens paranaenses para as novas tecnologias, conta o secretário, está sendo comprovado em competições estudantis como a ONIA, a Olimpíada Nacional de Inteligência Artificial. “Nenhum estado se destacou tanto: dos 85 finalistas, 29 são estudantes paranaenses, bem mais que os 17 de São Paulo, que tem uma população quatro vezes maior”, comparou. (L.F.M.)
ENQUETE
Por que é importante debater sobre a inteligência artificial no agronegócio?

É muito importante hoje, essa aproximação do agro com a tecnologia. É fundamental. É importante para o Brasil e para o agro. Quem está tocando esse país somos nós [agronegócios] e precisamos estar convivendo com a tecnologia. É muito atual e providencial. O tema é interessante, principalmente para a nossa região.
Marcelo Janene El-Kadre, presidente da Sociedade Rural do Paraná

Mais atual do que esse tema para o Brasil que estamos vivendo impossível. Com a inteligência artificial melhorando cada vez mais processos. O agro brasileiro é commodities e o grande desafio é enxugar custos para aumentar o valor agregado e a inteligência artificial é uma grande ferramenta para isso.
Renan Salvador, presidente da Londrina Iluminação

A inteligência artificial é um tema novo, recente, que a sociedade inteira tem que discutir, em especial o agro, que é, talvez, o maior segmento da nossa economia, economia londrinense e região. Sendo assim, o agro deve aproveitar as oportunidades que surgem da inteligência artificial.
Marco Antonio Ferreira, professor e coordenador de MBA de Gerenciamento de Projetos da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)

A inteligência artificial vem se fazendo presente em todos os segmentos, especialmente no agronegócio. Londrina é um polo, não só de tecnologia, mas temos um polo de IA e um polo de agronegócio muito forte. Uma presença regional importante, então é um assunto de extrema relevância para a região, para os segmentos do agro e de tecnologia.
Lupercio Fuganti Luppi, empresário da Agro drones

Hoje a tecnologia está em alta. É um tema que precisamos estar sempre nos aprimorando, buscando as necessidades do nosso negócio. Discutir, trocar ideias, isso é algo vantajoso para os dois lados, tanto para quem está colocando o produto no mercado como para quem está executando o trabalho.
Andreia Silva, do setor de inteligência comercial do Grupo Multibelt

É um tema que vem ao encontro daquilo que o produtor precisa para gerar mais produtividade no agronegócio. É um tema muito relevante para a atividade. É importante discutir esse tema.
Jaime Canevari, regional de Agro do Sicoob
(Colaborou Aline Machado Parodi)

