SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dois estilistas já bem conhecidos no mundo da moda, Vinicius Campion e Alexandre Herchcovitch, se uniram para lançar uma nova marca brasileira de produtos essenciais, a UNIVERSO, que busca longos ciclos de uso e pelo baixo impacto ambiental.

Uma espécie de Muji brasileira, marca japonesa minimalista que visa a redução de desperdício de ponta a ponta, o projeto tem como meta a popularização do consumo consciente com a formação de uma rede de pequenos e grandes produtores nacionais.

O lançamento começa no centro histórico de São Paulo, no antigo Hotel Jaguar, que agora abriga a residência estudantil Uliving. As roupas de cama, toalhas, móveis, decoração e outros produtos são da nova marca, e estarão disponíveis para o hóspede comprar.

O serviço de hotelaria é um dos braços do projeto, que também conta com segmento industrial e imobiliário.

As obras no Jaguar foram mantidas durante o isolamento, e o espaço será inaugurado em novembro. "É uma marca multi licenciamentos para alinhavar vários setores da indústria e converter imóveis subvalorizados" conta Campion.

A parte de vestuário dos produtos será fabricada com grandes produtores do Brás -polo têxtil paulistano que costuma atrair lojistas de todo o Brasil- e de outras parceiros pelo país.

"A ideia, além da bandeira hoteleira, é aplicar design a imóveis avulsos espalhados pela cidade com menor impacto ao meio ambiente. Existe a preocupação com a conservação do patrimônio arquitetônico e arbóreo, e em incorporar o desgaste da passagem do tempo aos projetos", diz Campion.

O Brás também vai abrigar escritório, loja da marca e um outro hotel. O local escolhido foi o Mega Polo de Moda, ponto tradicional do bairro que abriga shopping, hotel e centro empresarial. A parte de hotelaria será reformada e terá seus 180 quartos sob a bandeira da marca. Dentro da expansão do projeto, está previsto para o ano que vem inaugurar mais de 140 quartos mall da shopping.

Lá, Campion e Herchcovitch pretendem, também, levar a discussão sobre sustentabilidade. "Falamos muito em reutilizar e reciclar, mas isso ainda não chega na moda popular. Queremos levar isso para o bairro", conta Herchcovitch.

A dupla conversou com a reportagem sobre o projeto em meio à reforma do hotel na Duque de Caxias, e contam como pretendem colocar a marca de pé e os rumos do novo projeto.

MARCA ABERTA

Campion e Herchcovitch se conheceram ainda na faculdade. No fim de 2019, antes da pandemia, desenvolveram a ideia da marca. Campion, que comanda a marca de roupas AMP, conta que chegou a trabalhar mais intuitivamente com outros negócios, tendo como foco um nicho de mercado, mas o objetivo agora é ter um "negócio 360º", que tenham conhecimento de ponta a ponta.

"Queremos ter uma relação com o produto. Como vamos ter muitos setores envolvidos, também queremos certificar quais as práticas de cada parceiro", diz Campion. "Temos uma responsabilidade indireta, visitamos as fábricas e acompanhamos de perto."

Para reduzir o impacto no meio ambiente, serão escolhidos produtos de longa duração. "Claro que cama e banho não dura tudo isso, mas móveis e decoração, sim. A ideia é pensar que o design é um pouco mais longevo, que possa durar um pouco mais. Para ir para casa de outras pessoas, para que aconteça um reaproveitamento", conta Herchcovitch.

Tudo será brasileiro, nada será importado, e qualquer pessoa pode fazer parcerias com a marca, desde de grandes empresas até artesãos. "Qualquer pessoa que tenha uma fabriqueta pode nos procurar. É uma marca aberta. Um cara que faz crochê, de repente, pode contar com a gente para fazer uma aliança para introduzir os produtos nos nossos ambientes", diz Campion.

HOTEL JAGUAR

As obras no antigo Hotel Jaguar não pararam durante a pandemia, e o lançamento será em novembro. Com dois andares reservados para o hotel, um para o hostel, terraço e refeitório no térreo e no rooftop, a hospedagem vai partir de R$ 250.

"Vamos começar com café da manhã para atender aos hóspedes. Depois vamos ter um refeitório para o público com uma comida de almoço gostosa e acessível, para competir com a comida comercial da região", conta Campion.

O bairro do Brás, polo de moda popular, será a parte central da marca. "O Brás representa para o consumo de moda no brasil é muito grande, o país inteiro vem comprar roupa aqui", diz Herchcovitch.

"O Brás é o maior gerador de resíduo têxtil do país, principalmente jeans. O jeans 100% algodão é um resíduo que pode ser aproveitado por completo. Como não tem mistura de polímero, é super difícil. Já a reciclagem de tecido de lycra é impossível", explica Campion.

A ideia é fazer uma introdução sobre sustentabilidade e reciclagem para aquela área, onde o assunto ainda é pouco discutido. "É um assunto que uns estudam mais, é um pouco mais nichado. Mas esse público que compra as mercadorias para revender ainda não conseguiram introduzir no dia a dia deles", diz Herchcovitch.

Para isso, pretendem fazer do espaço um local para palestras e workshops com temáticas sobre reuso e reciclagem.

"Seria começar um trabalho de falar sobre sustentabilidade na moda com esses produtores que fazem roupas populares. Esse assunto não está no popular, pelo menos na roupa. Estamos fazendo um trabalho grande, além do hotel, com todas essas práticas sustentáveis", diz Herchcovitch.