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Economia 5m de leitura

Grupo Mateus levanta R$ 4,6 bi no maior IPO do ano

ATUALIZAÇÃO
09 de outubro de 2020

JÚLIA MOURA
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Grupo Mateus levantou R$ 4,6 bilhões no maior IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) de 2020. A companhia divulgou nesta sexta-feira (9) que vendeu cada ação a R$ 8,97, no piso da faixa indicativa de preço.

A oferta do Grupo Mateus supera a da Hidrovias do Brasil, que levantou R$ 3,4 bilhões em seu IPO em setembro -até então, o maior do ano. Também é a maior oferta desde a abertura de capital da BR Distribuidora, em dezembro de 2017.

Segundo a análise financeira da Suno Research, as ações estavam caras. Pelos cálculos da casa de análise, o preço atrativo da ação seria R$ 7,49.

Neste preço, o Grupo Mateus é mais caro que o americano Walmart, se levado em conta o valor da empresa dividido pelas vendas anuais (múltiplo EV/Sales).

"É claro que a empresa brasileira apresenta muito mais potencial de crescimento na margem, mas, dado que o Walmart é uma empresa já consolidada inserida em uma economia muito mais sólida que a do Norte do Brasil, isso reforça a nossa visão de que os múltiplos estão excessivos", escreve Tiago Reis, analista da Suno, em relatório.

Ele também ressalta o momento de alta volatilidade da Bolsa de Valores brasileira como um risco para a operação. Algumas empresas, como Caixa Seguridade e BR Partners, cancelaram suas idas à Bolsa por temerem levantar menos do que o esperado na oferta.

Segundo o prospecto, o objetivo principal da oferta do Grupo Mateus é levantar recursos para expandir os negócios e dar saída parcial às participações dos acionistas Ilson Mateus Rodrigues, Maria Barros Pinheiro, Ilson Mateus Rodrigues Junior e Denilson Pinheiro Rodrigues.

Ilson Mateus Rodrigues, 57, é o fundador do grupo e nono homem mais rico do Brasil, segundo a Forbes, com uma fortuna de R$ 20 bilhões. Sua origem, porém, é humilde. Foi garimpeiro antes de ter sua mercearia em Balsas (MA), em 1986, que anos depois virou o primeiro supermercado Mateus. Ele seguirá como acionista majoritário da companhia, reduzindo sua participação de 52,7% para 43,2%.

Investidores temiam que o IPO fosse cancelado após o desabamento de prateleiras do mercado Mix Mateus Atacarejo em São Luís, na última sexta-feira (2), no qual uma pessoa morreu e ao menos oito ficaram feridas.

Após o ocorrido, a companhia estendeu o prazo de desistência para investidores institucionais até 16h desta sexta.

Apesar da oferta sair no mínimo valor indicado pela empresa, analistas apontam que a demanda do mercado foi forte.

"A empresa tinha mais de R$ 1 bilhão de demanda só no varejo [pequeno investidor], mas deve ter priorizado a venda para fundos que pediram um preço por ação mais baixo", diz Pedro Lang, diretor de renda variável da Valor Investimentos.

Coordenadores de ofertas dão preferência a investidores institucionais em detrimento das pessoas físicas por eles estarem mais focados no longo prazo, enquanto o pequeno investidor tende a se desfazer rapidamente de papéis adquiridos em IPO, gerando instabilidade no valor da empresa. O IPO do Mateus foi coordenado por XP, Bradesco, BTG Pactual, Safra, Banco do Brasil, Santander e Itaú.

O grupo conta com 137 lojas físicas, sendo 29 atacarejos, 23 supermercados, 2 hipermercados, 67 lojas de eletroeletrônicos e 16 lojas de vizinhança. A rede é abastecida por nove centros de distribuição, considerando as bandeiras Mix Atacarejo, Supermercado

Mateus, Eletro Mateus e Camiño Supermercados, além da plataforma de e-commerce.

No primeiro semestre de 2020, o lucro líquido da rede foi R$ 297 milhões, crescimento de 62% ante mesmo período de 2019.

As ações passam a ser negociadas no pregão da B3 em 13 de outubro.

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