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Economia 5m de leitura

Grupo conservador lança movimento contra avanço do Sleeping Giants no Brasil

ATUALIZAÇÃO
22 de maio de 2020

PAULA SOPRANA
AUTOR

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um grupo conservador reage à chegada, ao Brasil, do Sleeping Giants, movimento que nasceu nos EUA para alertar empresas que seus anúncios digitais financiam sites com conteúdos apontados como fake news ou extremistas.

Como um contra-ataque, foi lançado há dois dias no Twitter o perfil Gigantes Não Dormem, num trocadilho ao nome do movimento internacional, que significa numa tradução livre gigantes adormecidos.

Em sua primeira ofensiva, essa nova conta brasileira pede boicote às marcas que aceitaram o alerta do Sleeping Giants e retiraram seus anúncios digitais do Jornal Cidade Online, um portal de Mato Grosso do Sul identificado pelo grupo como um veículo que divulga notícias falsas e discurso de ódio. O veículo também é conhecido por divulgar notícias positivas ao governo federal.

Após mensagens do braço brasileiro do Sleeping Giants, mais de 30 empresas se comprometeram a retirar publicidade do site. Agora, o autointitulado opositor convoca que elas voltem atrás.

Apesar de o perfil no Twitter ter 18 mil seguidores, contra 215 mil do Sleeping Giants, o grupo conservador diz que é maioria, referindo-se ao total de apoiadores da direita, como eles se definem, e que "mídias de esquerda têm acessos baixos e receitas menores ainda".

O perfil usa a tática de pressionar empresas a reporem anúncios no site de Mato Grosso do Sul. Depois, usará lógica semelhante à do opositor, mirando um site por vez, mas deve focar em portais que julga disseminar fake news e que estariam ligados à esquerda. O perfil já pressiona pela retirada de anúncios no site Brasil 247.

Entre as empresas que concordaram com a notificação do novo movimento Gigantes Não Dormem está a Centauro, cujo presidente apoiou a campanha de Jair Bolsonaro, e a UniBH. A primeira excluiu anúncios do "Blog do Esmael", e a segunda, do Brasil 247.

FastShop e a Petlover, por sua vez, responderam que irão revisar anúncios de plataformas automáticas.

Em seu perfil no Twitter, o grupo Gigantes Não Dormem diz que, num primeiro momento, faz um contra-ataque para barrar o avanço do "censurador" do Sleeping Giants. Argumenta que as empresas estão caindo "inocentemente ou propositalmente" nos pedidos dos ativistas do "outro lado", insinuando que escolhem apoiar movimentos de esquerda.

A reportagem enviou uma mensagem ao Gigantes Não Dormem, que não quis falar. "Não falamos com mídia que propaga fake news", afirmou.

Em um dos tuítes, o autor diz que é empresário, dando a entender que é administrador da página. O perfoç também tem um canal de distribuição de mensagens no Telegram, com mais de 360 inscritos, onde cita o ideólogo Olavo de Carvalho e diz que "a guerra é espiritual e nós estamos do lado certo".

Uma das empresas que ficou no centro da nova polarização sobre o direcionamento de publicidade na internet foi a Dell. Ao atender ao Sleeping Giants e retirar anúncios do portal Jornal da Cidade Online, alvo da CPMI das Fake News, a companhia logo virou objeto de uma campanha de boicote chamada #NãoCompreDell no Twitter, apoiada pelo Gigantes Não Dormem. Num segundo momento, veio a #CompreDell.

"O portal que vocês cortaram anúncios não dissemina 'notícias falsas'. Retornem os anúncios ao portal ou então nós iremos boicotá-los", disse o Gigantes Não Dormem à Dell.

O grupo chama a atenção de todas as marcas citadas no outro perfil e de instituições como a PUC (Pontifícia Universidade Católica), que respondeu ao Sleeping Giants dizendo que revisaria a automatização de seus anúncios.

"Uma universidade católica se unindo à esquerda contra o conservadorismo?", diz uma mensagem.

Grandes empresas têm afirmado que não têm alinhamento político. Elas atribuem à forma automática de distribuição de anúncios que compram de serviços, em especial o Google.

As empresas amplamente citadas por esses perfis nesta semana, como Dell, Samsung, Americanas, Submarino, Mercado Livre, Magazine Luiza e FastShop anunciam em sites por meio da chamada publicidade programática. Nessa modalidade, a companhia não compra espaço digital em um site específico que tenha escolhido.

A ferramenta de publicidade do Google, o AdSense, direciona os anúncios a partir de filtros pré-definidos pelas empresas. As marcas, no entanto, têm a possibilidade de acompanhar o direcionamento, revisar e excluir os anúncios. Por essa distribuição, o Google ganha uma porcentagem do valor direcionado ao site.

A divisão não é fixa e depende da negociação em cada caso. O Google tem um filtro que barra automaticamente sites que divulgam conteúdo relacionado a violência, incitação ao ódio, drogas e temas adultos de cunho sexual. Já os conteúdos políticos entram na lista de temas mais sensíveis para as empresas de tecnologia que trabalham com publicidade. A regra é não atuar como regulador.

O Google afirma que tem políticas contra conteúdo enganoso em suas plataformas e que trabalha para destacar conteúdo de fontes confiáveis. "Agimos rapidamente quando identificamos ou recebemos denúncia de que um site ou vídeo viola nossas políticas", disse a empresa em nota à reportagem na quinta (21).

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