A criptomoeda bitcoin bateu mais um recorde de valorização na última segunda-feira, 20, quando chegou à cotação máxima de US$ 8.263, ou R$ 29.450, segundo uma das maiores consultorias de moedas virtuais, a CoinDesk. A valorização bateu em 1.000% em 12 meses, o que fez com que muitos investidores voltassem os olhos para essa e outras moedas virtuais, pela possibilidade de ganho de capital e da compra de frações que custam R$ 50.
Não se trata de uma aplicação garantida, muito pelo contrário. As criptomoedas são conhecidas pela volatilidade e há casos de grandes quedas, como a retração de 31% registrada entre 1º e 14 de setembro deste ano. O valor caiu de US$ 4.880 para US$ 3.349 em duas semanas quando uma das maiores bolsas on-line da China anunciou que suspenderia transações com o bitcoin no fim do mês devido à repressão ao ativo defendido pelo governo do país.

Mesmo assim, o sistema tem seus fãs. Existem várias criptomoedas no mercado e a pioneira bitcoin é a mais conhecida, com cerca de 60% de participação e valor de mercado em torno de US$ 136 bilhões. Ethereum e Litecoin são algumas das alternativas e também apresentam valorização expressiva e até maior no último ano.

Isso ocorre porque as moedas tem um número fixo, que cresce aos poucos até o limite, definido por algoritmo, de 21 milhões. As previsões apontam para emissão de 80% em janeiro próximo e o total, em algum momento entre 2033 e 2040. Contudo, o crescimento da procura é maior do que o da oferta, o que explica a valorização.

Ainda, as criptomoedas não são emitidas por um banco central, mas "mineiradas" na internet, por meio dos servidores que alimentam a descentralização do sistema. "Cada um desses computadores fica ligado 24 horas por dia, sete dias por semana, para validar cada transação e, em troca, recebe frações de moeda", diz o investidor e empresário brasileiro Sergio Tanaka, que atua como corretor e como fornecedor de equipamentos para mineração.

Com valorização causada pela forte demanda, o CEO e fundador da Magnetis Investimentos, Luciano Tavares, afirma ter dúvidas se as criptomoedas podem ser chamadas de uma aplicação financeira. "Muitas pessoas estão olhando como um investimento, mas porque foram atraídas por essa alta. Essa é a definição do que se chama de bolha, o que não digo que seja, porque sou um entusiasta da tecnologia."

Tavares acredita que as moedas virtuais mudarão a forma como os negócios são feitos. No entanto, considera o sistema criado em 2008 como recente e enxerga até mesmo riscos técnicos. "Só porque é uma tecnologia revolucionária, não significa que vá valorizar ainda mais", diz. "Temos de separar esse potencial enorme do investimento em curto prazo baseado na alta do último ano."

Já Tanaka não descarta a existência de uma bolha, mas diz estar entre os que acreditam que a valorização tende a ser maior pela importância que o sistema deve ganhar ao longo do tempo. "O conceito de blockchain (cadeia de blocos) veio para ficar e grandes empresas se conectaram para validar transações, que são criptografadas, mais econômicas, seguras", diz. "Acredito que vá subir bem mais porque tem aumentado o número de pessoas com conhecimento de criptomoedas", completa.

O diretor da Escola de Negócios das Faculdades Londrina, Eduardo Contani, lembra que a primeira bitcoin custava centavos de dólar e que começou o ano a R$ 3,2 mil. Ele considera o sistema seguro, mas também faz o alerta sobre a volatilidade. "Há especialistas que dizem que pode chegar a R$ 100 mil, outro diz que há bolha, mas, como não é preciso comprar uma unidade e pagar R$ 29 mil, nada impede de se testar. Mas é preciso ser mais um ativo na sua carteira."

DINHEIRO DO FUTURO
O CEO da Mercado Bitcoin, Rodrigo Batista, também vê possibilidade de crescimento, com o interesse crescente de investidores individuais, fundos de pensão e fundos de investimentos. "O bitcoin tem características interessantes, porque foi criado para ser uma moeda mundial dentro da internet, mas é limitado a 21 milhões de unidades, então o mercado especula assim como sobre qualquer outro ativo."

Batista afirma que o risco é "bem alto" e considera que investir em moedas virtuais é um experimento. "Existe a chance de o dinheiro passar a valer zero, por exemplo, por um problema técnico não descoberto ainda, então ninguém deve colocar o leite das crianças nisso", diz. Ele sugere que pessoas com outras fontes de investimentos apliquem inicialmente de 1% a 3% das reservas em criptomoedas. "É preciso procurar mais informações, fazer cursos, e considerar que, se perder tudo, não será relevante para você."