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Economia 5m de leitura

Governo pode enfrentar crise, mas Congresso vai controlar, diz relator da PEC do Orçamento de guerra

ATUALIZAÇÃO
02 de abril de 2020

THIAGO RESENDE
AUTOR

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Apesar dos apelos do Executivo, o Congresso quer manter a prerrogativa de barrar decisões do governo que forem consideras irregulares no enfrentamento do novo coronavírus.

Esse arbítrio está previsto na proposta que cria o Orçamento de guerra, que flexibiliza regras para gastos no combate à pandemia e facilita a fiscalização das medidas a serem adotadas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"Nós vamos dar o poder que o governo precisa [para controlar o vírus], só estamos dizendo que, se o governo errar, o Congresso pode corrigir, sustar a decisão", disse o relator da PEC (Proposta de Emenda à Constituição), deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). O texto deverá ser votado na sexta-feira (3).

Articulado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o projeto cria um Orçamento excepcional para o governo conseguir lidar com a pandemia. A ideia é retirar amarras para que a equipe de Bolsonaro tenha mais agilidade e flexibilidade em medidas emergenciais.

As decisões serão tomadas por um comitê de gestão da crise, a ser presidido por Bolsonaro e composto por ministros do governo e representantes de estados e municípios. Parlamentares chegaram a pleitear vagas nesse grupo, mas acabaram cedendo.

O Congresso, contudo, não recuou em um ponto considerado polêmico pelo governo: o poder dado a deputados e senadores de reavaliar atos do comitê.

Se a Câmara e o Senado entenderem que alguma decisão foi irregular ou que o contrato assinado não tem relação com o combate à pandemia, poderão cancelar a operação.

A PEC do Orçamento de guerra é considerada por parlamentares como mais uma demonstração do protagonismo e independência do Congresso no enfrentamento do novo coronavírus.

A ideia é separar o Orçamento fiscal, que reúne desembolsos recorrentes com Previdência Social e custeio da máquina pública, por exemplo, do Orçamento extraordinário, criado para medidas a serem tomadas durante a pandemia da Covid-19.

"Se precisar contratar pessoal, comprar [material] ou contratar um serviço, o governo conseguirá fazer isso de maneira mais ágil e eficiente, seja na área de saúde ou para decisões no campo econômico", afirmou Motta.

O texto, por exemplo, afrouxa normas para contratação temporária de pessoal para enfrentamento do vírus -mas o trabalho não pode durar mais que o estado de calamidade, aprovado pelo Congresso até o fim do ano.

Além disso, dá mais poder ao Banco Central (BC) para tentar controlar a volatilidade do mercado na crise.

O projeto concede ao órgão duas novas ferramentas durante a pandemia: compra e venda de títulos públicos negociados no mercado secundário; compra direta de carteiras de crédito e títulos privados dos mercados financeiro e de capitais.

Essas operações têm o objetivo de evitar uma alta volatilidade no mercado financeiro diante do nervosismo causado pela brusca queda da atividade econômica.

O arsenal, contudo, perderá validade no fim do ano, quando se encerra o estado de calamidade pública aprovado pelo Congresso.

O BC queria ainda um novo mecanismo -permanente- de gestão do volume de dinheiro em circulação na economia, em medida que busca controlar a taxa de juros.

A ideia era permitir que bancos repassassem recursos voluntariamente ao Banco Central, na forma de depósitos à vista ou a prazo. Com isso, a instituição financeira que tiver excesso de caixa poderá depositar uma parte no BC.

Mas líderes da Câmara não concordaram com a proposta e o relator teve que retirar esse trecho do projeto, reduzindo assim a lista de concessões feitas ao órgão.

A PEC também libera o governo de cumprir, neste ano, a chamada regra de ouro. Essa norma impede o governo de se endividar para pagar despesas correntes, como salários, Previdência e benefícios assistenciais.

Por ser uma proposta de mudança na Constituição, o texto precisa do apoio de 60% da Câmara em duas votações em plenário. Depois, segue para o Senado, onde também precisará ser aprovado por 60% da Casa em dois turnos.

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