Governo evita apoio oficial a Koch-Weser
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domingo, 05 de março de 2000
SUCESSÃO NO FMI Governo evita apoio oficial a Koch-Weser Arquivo FolhaRESISTÊNCIASO paranaense naturalizado alemão, Caio Koch-Weser: candidatura difícil Paulo Sotero Agência Estado De Los Angeles, EUA A decisão brasileira de abster-se na primeira votação informal para escolha do sucessor de Michel Camdessus na direção do Fundo Monetário Internacional (FMI) não terá confirmação oficial por um bom tempo. Trata-se de um processo secreto e não faremos qualquer declaração à respeito, justificou um alto funcionário. A razão real do segredo é que a votação, na quinta-feira passada, deixou o País numa situação difícil. Por um lado, era difícil para o governo deixar de manifestar simpatia ao brasileiro naturalizado alemão Caio Koch-Weser, que a União Européia apresentou como candidato ao cargo de diretor-gerente do FMI. Políticos do Paraná, onde Koch-Weser nasceu há 55 anos, de uma família de imigrantes que moravam em Rolândia, no Norte do Estado, chegaram a fazer gestões junto ao presidente Fernando Henrique para que o governo se manifestasse claramente a favor do candidato europeu. Conseguiram, em resposta, uma cuidadosa declaração do secretário-executivo do ministério da Fazenda, Amaury Bier, indicando apenas que o Brasil seguiria a tradição de apoiar o consenso europeu na sucessão do Fundo. Mas o governo não podia descartar a possibilidade de apoiar o vice-diretor-gerente do FMI, o norteamericano Stanley Fischer, que assumiu interinamente a vaga de Camdessus e foi lançado candidato por um grupo de países em desenvolvimento. Afinal, foi Fischer que, em dezembro de 1998, assumiu o enorme risco político de defender a aprovação da operação preventiva de US$ 41,5 bilhões de socorro Brasil perante a diretoria e ajudou, assim, a instalar a rede de proteção que se revelaria a salvação, no mês seguinte, quando o governo foi finalmente forçado a mudar a política cambial e deixar o real flutuar. Não faremos nenhuma declaração pública sobre esse assunto pois nada temos a ganhar com isso e, pelo contrário, só temos a perder, disse um alto funcionário da Fazenda, dois dias antes da votação, resumindo o dilema. A divisão entre os nove países representados pela cadeira permanente que o Brasil ocupa na diretoria-executiva do FMI acabou dando ao governo a cobertura política para abster-se na votação, junto com os Estados Unidos e outros países. Este é um processo complicado e divisivo, que foi muito mal conduzido até agora, explicou a fonte. Não falamos apenas por nós mesmos na diretoria do FMI, mas representamos um conjunto de países que têm apenas 2,49% do poder de voto. Diante do veto dos Estados Unidos a Caio Koch-Weser, continuou o alto executivo da Fazenda, nosso voto não teria, neste momento, maior influência sobre o rumo da decisão. Ao pedido de apoio que ouviu do próprio Koch-Weser, em visita à Alemanha em dezembro, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, respondeu de forma simpática mas vaga, sem se comprometer. Ele deu a mesma resposta a outros pretendentes que também o procuraram, dizendo que o Brasil queria ver, primeiro, o processo de escolha amadurecer na Europa, que, por tradição, designa o diretor-gerente do FMI. Malan já sabia, então, que o governo alemão estava enfrentando resistências ao nome de Koch-Weser. Na Alemanha, Malan tomou conhecimento da primeira manifestação pública feita pelo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Larry Summers, sobre a sucessão no FMI. Falando a jornalistas em Washington um dia antes de apresentar um plano de reforma do FMI, Summers telegrafou a desaprovação norteamericana a Koch-Weser descrevendo o perfil da pessoa que Washington gostaria de ver na vaga de Camdessus. O veto norte-americano, que o presidente Bill Clinton comunicou pessoalmente ao chanceler Gerhard Schroeder, travou o processo de eleição do novo diretor-gerente do FMI e reforçou a decisão das autoridades brasileiras de manter neutralidade.