| |

Economia 5m de leitura

Gigante de moda dos EUA suspende importação de couro brasileiro

Medida preventiva busca esclarecimentos sobre questão ambiental e queimadas na região amazônica e deixa empresários de curtumes paranaenses preocupados

ATUALIZAÇÃO
28 de agosto de 2019

Fabio Galiotto - Grupo Folha
AUTOR

 

Um dos maiores grupos de vestuário do mundo, dono de 19 marcas internacionais, suspendeu temporariamente a compra de couro brasileiro, como forma de pressão para que o governo brasileiro atue de forma mais eficaz contra as queimadas na região amazônica. As informações foram enviadas pelo CICB (Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil) ao Ministério do Meio Ambiente e deixaram empresários do Norte do Paraná preocupados com a possibilidade de a sanção ser estendida a todo o setor. 

De acordo com informações da "Folha de S.Paulo", o presidente do CICB, José Fernando Bello, demonstrou no documento enviado ao ministério o mesmo temor. As marcas que solicitaram a suspensão são Timberland, Dickies, Kipling, Vans, Kodiak, Terra, Walls, Workrite, Eagle Creek, Eastpack, JanSport, The North Face, Napapijri, Bulwark, Altra, Icebreaker, Smartwoll e Horace Small. Todas são geridas pela VF Corporations, uma das maiores empresas de vestuário do mundo, com 115 anos e sediada nos Estados Unidos. A reportagem pediu a confirmação da notícia à assessoria da CICB, que ainda não foi respondida.

Na região de Londrina, a maior parte da produção dos curtumes é direcionada aos setores automotivo e de móveis. No entanto, empresários ouvidos temem que a suspensão também chegue a eles. "As marcas incluídas não são nossos clientes, mas não deixa de ser preocupantes porque outros segmentos podem aderir a esse movimento", conta o proprietário da Apucarana Leather, Umberto Cilião Sacchelli.

Ele afirma que os curtumes trabalham apenas com couro rastreado e que, na região, não há couro vindo da região amazônica. "Sempre tivemos os órgãos de fiscalização, o Ministério Público, batendo muito na importância de os frigoríficos não pegarem bois dessas áreas", diz Sacchelli. "Mas, evidentemente, o setor e o Brasil têm de se mexer para mostrar que cuidamos da origem e que não há interesse no desmatamento", completa.

A Apucarana Leather tem parte da produção direcionada a calçados e roupas, que vai para o mercado interno. O produto semiacabado é exportado e o empresário afirma que há possibilidade de que sofra algum tipo de sanção. "O que preocupa o presidente da CICB é que ocorra uma contaminação por todas as empresas que importam nossos produtos, mesmo para móveis e automotivos, então ele quis se antecipar ao problema", cita Sacchelli. 

A suspensão não significa o cancelamento de compras, mas a interrupção do fornecimento de couro enquanto o setor não prestar esclarecimentos adicionais sobre a proteção ambiental. Segundo a carta da CICB enviada ao governo, é preciso atuar para conter as queimadas e também evitar danos adicionais à imagem do País e do agronegócio nacional.

MERCADO EXTERIOR

O valor das exportações de couros e peles ficou em US$ 84,2 milhões em julho no País, alta de 8,4% em relação ao mesmo mês do ano anterior. O volume embarcado foi de 13,3 milhões de metros quadrados, crescimento de 34,2% no mesmo comparativo. 

Os principais destinos em relação ao total das exportações brasileiras neste ano são China e Hong Kong (29,1% do total), Itália (17,3%) e Estados Unidos (16,6%), país sede da empresa que suspendeu as compras.

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS