Paulo Pegoraro
De Cascavel
O advogado José Alberto Dietrich, em seu escritório em Cascavel: Simbolismo à parte, qualidade é fundamental
O chimarrão é hábito inarredável para os gaúchos de nascimento e os ‘‘de espírito’’, como se denominam os não nascidos no Rio Grande do Sul mas que cultuam este e outros hábitos típicos. Sorver o ‘‘amargo’’, porém, paulatinamente vai deixando de ser uma prática descompromissada com a qualidade da erva-mate e sua influência na saúde das pessoas. Os ‘‘gaúchos’’ dos dois agrupamentos passam a exigir qualidade no produto que consomem. No Oeste paranaense, um programa que começa a ser desenvolvido fará a certificação da erva, com acompanhamento e melhoria de todas as etapas da cadeia produtiva - do cultivo nos ervatais ao empacotamento.
A iniciativa é da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fundetec) de Cascavel, desdobramento seu Projeto Estratégico de Desenvolvimento Agroalimentar. Para o estudo da cadeia produtiva da erva serão aplicados R$ 96,1 mil, liberados pelo Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq), órgão ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, através do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico. O estudo também tem o apoio do Centro de Integração Tecnológica do Paraná (Citpar), e adesão dos principais produtores e industrializadores da erva, inclusive para sua colocação no mercado externo.
O advogado José Alberto Dietrich não é gaúcho de nascimento - nasceu em Prudentópolis (Região Central do Paraná) -, mas bebe o ‘‘amargo’’ o dia todo, em casa ou no escritório. A água está sempre pronta, na temperatura certa, para que o mate possa ser servido a clientes ou amigos que o visitam. Durante a semana, ele recebeu um presente precioso de um amigo, pacotes de erva de Palmeiras das Missões (RS). Dietrich afirma que beber chimarrão ‘‘envolve todo um simbolismo’’, mas a questão da qualidade ‘‘é fundamental’’. Para o advogado, o chimarrão deve ser ‘‘encarado’’ como qualquer outro produto que se consuma: é preciso saber sua origem, composição e processo de produção.
José Alberto Dietrich soube, durante a semana, através de um grande produtor, que um tipo de besouro estaria atacando ervatais, depositando ovos nos troncos, através de rachaduras. ‘‘Fiquei ainda mais preocupado. Imaginemos que isso venha para a cuia, e, dela, para nosso estômago’’, argumenta. Por isso, ele considera importante o programa de qualidade que está sendo desenvolvido na região, ‘‘afinal, a gente precisa ter garantia daquilo que está consumindo’’. Complementando, ele dá algumas ‘‘dicas’’: a água deve estar aquecida na faixa dos 60 graus; fervê-la, ‘‘só se houver suspeita quanto à sua qualidade’’.
Segundo a responsável pelo desenvolvimento de projetos da Fundetec, Adriana Noce, a atividade gera atualmente 5,97 mil empregos diretos no Paraná, através de 256 empresas, distribuídas em 65 municípios. Os pólos do setor são Cascavel, São Mateus do Sul, Palmas e Guarapuava. No Oeste/Sudoeste paranaense, a erva já foi o ‘‘carro-chefe’’ de um dos ciclos da economia, mas meramente com a prática do extrativismo aleatório, até os anos 50; hoje, paulatinamente os ervatais vão novamente se alastrando, agora com técnicas mais modernas, no campo e na indústria. Estima-se que na região de Cascavel anualmente sejam vendidos 3 milhões de quilos de erva-mate.