O setor de fusões e aquisições esboçou reação diante da crise no ano passado. No País, foram fechados 105 negócios totalizando R$ 114,9 bilhões, um aumento de 2,5% na comparação com os R$ 112,1 bilhões das 97 transações realizadas em 2017.


Segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), responsável pelos números, o crescimento é maior se analisado o número de negócios anunciados no ano. Neste caso, embora as transações tenham caído de 143 para 140, os valores envolvidos aumentaram 28%, de R$ 138,4 bilhões para R$ 177,2 bilhões.


A tendência é que o M&A, como a atividade é conhecida no mercado financeiro, cresça mais neste e nos próximos anos, tendo em vista que os negócios estão em processo de interiorização e envolvendo empresas de menor valor. É o que afirma Fernando Kireeff, da JMB Advisors, boutique de assessoramento de fusões e aquisições com sede em Londrina.


Em parceria com o escritório Marques Filho Advogados, a JMB promoveu a segunda edição do Workshop de Fusões e Aquisições, na quarta-feira (24) na cidade.


“Houve uma democratização do acesso aos fundos de private equities. Esses fundos estão olhando para as empresas do interior, não exigindo um valor tão alto de negócio”, afirma Kireeff.


No ano passado, segundo a Anbima, os private equities, que são criados para investir na participação de empresas, foram responsáveis por 14,3% das fusões e aquisições no País.


Em geral, eles investem em empresas para que elas cresçam e, num período de 5 a 10 anos, sejam vendidas, realizando lucros para os investidores.


“Hoje já existe um número de fundos muito grande e a procura por empresas de porte médio vem crescendo”, diz ele classificando essas empresas como as que têm Ebtida (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) acima de R$ 10 milhões.


A JMB, segundo Kireeff, tem três outros negócios engatilhados que devem sair neste ano. Ele explica que, durante a crise, as fusões e aquisições se concentraram em setores resilientes, como agronegócio e saúde. Mas a tendência é de essas operações se espalharem para outras várias áreas.


“Temos clientes no Brasil inteiro, esse é um mercado que vai entrar em ebulição”, alega. Um dos negócios, de acordo com o empresário, envolve uma empresas de telecomunicações, fornecedora de serviços de banda larga. “O Brasil tem mais de 4 mil provedores que vão sofrer um processo de consolidação porque a tecnologia está mudando para fibra ótica, o que exige investimentos mais robustos.”


O último negócio fechado pela boutique foi a venda da Vencofarma – empresa voltada à produção de vacinas e medicação para animais com sede em Londrina – para a inglesa Dechra. A transação, de R$ 185 milhões, foi fechada no final do ano passado.


“A gente vinha acompanhando esse setor que vem sofrendo consolidação e percebendo que as empresas nacionais perderam competitividade para os players globais. Procuramos a Vencofarma para ver se eles compartilhavam a mesma visão que a gente”, conta outro sócio da JMB, Tales Abdo.


A ideia inicial, segundo ele, era encontrar um fundo de investimento disposto a se juntar à empresa londrinense na aquisição de outras menores. O trabalho teve início em junho de 2017. “Mas a Dechra veio visitar a Vencofarma e decidiu comprá-la na totalidade”, alega Abdo.


FAMILIAR

Filho de fundador da Vencofarma, André Paleari conta que a empresa vinha buscando se profissionalizar nos últimos anos. Em 2016, havia implantado governança corporativa, quando ele deixou a presidência e assumiu o conselho de administração. “Trouxemos um executivo de fora para a presidência”, conta.

Paleari diz que o objetivo da família era preparar a empresa para o futuro e isso envolvia uma fusão com outra da mesma área ou a compra de empresas menores. “Mas a Dechra vei com uma oferta bem atrativa”, afirma.

Com a chegada dos ingleses, ele conta que o presidente da Vencofarma preferiu deixar o cargo e os compradores convidaram Paleari para assumir a presidência. “Voltei para a empresa nessa condição.”

Ele sustenta que embora a companhia não tenha terminado o planejamento estratégico para os próximos cinco anos, a Dechra já investiu outros R$ 3 milhões na modernização da planta. “Estamos numa fase de mudança da marca. Tínhamos dois anos para fazer isso mas resolvemos antecipar.”

Imagem ilustrativa da imagem Fusões e aquisições crescem e se interiorizam

De acordo com o presidente, a estimativa é que os ingleses invistam até R$ 30 milhões em cinco anos em Londrina. “Querem fazer aqui um hub para produção de vacinas para todos os países emergentes”, ressalta.